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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Qual o papel do diretor da escola: Motorista ou piloto?
João Luís de Almeida Machado

A analogia é um recurso que nos permite traçar paralelos entre coisas ou situações bem diferentes. É comum, por exemplo, a comparação entre times de futebol e equipes de trabalho. Por vezes as pessoas comparam orquestras a empresas. Há aqueles que falam sobre navios e seus comandantes quando querem abordar algum empreendimento e seu líder.

E na direção da escola? Qual destas analogias caberia melhor? Ou seria melhor pensar em alguma outra?

Ao me propor a pensar e analisar o trabalho do diretor da escola o que me ocorreu foi a proximidade da palavra diretor, aquele que dirige, com as funções desempenhadas por motoristas e pilotos. Aparentemente a função os assemelha e entre eles, por conta deste princípio igual, distingui-los ficaria difícil. Não se pensarmos nas particularidades do exercício destas duas funções. Então vamos a elas:

- O motorista é aquele que dirige, conduz ou maneja um veículo motorizado com propósitos claros de efetivar o deslocamento de si mesmo ou de grupos de pessoas a acompanha-lo, de um lugar para outro. Para tanto é necessário que esteja habilitado para o exercício desta função, ou seja, que tenha carteira de motorista, sendo portanto conhecedor das leis de trânsito e hábil no manejo e condução do(s) veículo(s) que dirige. É sempre aconselhável que conheça também um pouco de mecânica.

- O piloto, como o motorista, é também um condutor de veículos motorizados, com igual necessidade de conhecimento de leis, neste caso além daquelas que regem a mobilidade em espaços urbanos, precisa conhecer regulamentos relacionados as categorias profissionais nas quais atua, como regras de campeonatos esportivos. Ao conduzir o veículo é demandado quanto a maior perícia e habilidade pois dirige em velocidades ou outras condições de maior periculosidade. Precisa conhecer bem o veículo que dirige tanto no que tange a sua condução quanto a mecânica e, na preparação para o exercício anual de suas atividades tem que participar de horas e mais horas de treinamento para conhecer novos equipamentos e se adaptar as tecnologias que implementam seu veículo.

Perceberam a diferença?

Quando falamos de um motorista nos referimos a qualquer um de nós que possui habilitação para condução de carros, caminhões, motos, ônibus ou outros tipos de veículos, como aqueles que funcionam na água ou no ar. Alguns de nós atua de forma particular enquanto outros têm como função atender a públicos, como motoristas de táxi, ônibus, avião ou navios. Ainda que a denominação não seja igual em alguns casos (em aeronaves os condutores são identificados como pilotos também, como nas pistas de corrida, por exemplo, talvez por conta da velocidade e perícia próprias deste veículo; em grandes embarcações, o condutor principal é o capitão e juntamente a ele há toda uma equipe de imediatos), todos atuam dirigindo um veículo.

A utilização do termo piloto, por sua vez, nos conduz as pistas de corrida, ao trabalho de pessoas que conduzem carros, motos, caminhões, lanchas, aviões ou outros veículos em competições esportivas. Seu trabalho os leva a dirigir veículos especiais, com mecânica única, focada em velocidade, manobras radicais, competição e adrenalina.

Além destas questões primordiais, vale lembrar que há diferenças também quanto ao preparo físico, aos contratos de trabalho, aos riscos assumidos no trabalho entre motoristas e pilotos.

Na direção das escolas, como na condução de veículos, temos pessoas que precisam ter conhecimento de regras (externas e internas), que saibam dirigir “máquinas” (neste caso, diferentemente do primeiro, me refiro as engrenagens do sistema educacional, com pessoas, recursos, propostas, materiais, reuniões, custos...), com objetivos focados em êxitos não em uma competição, mas num processo amplo que envolve muitas pessoas e que tem como meta maior formar alunos quanto a competências e habilidades necessárias para sua vida pessoal e profissional.

Compete ao diretor da escola se preocupar com aspectos relativos a administração geral da escola, ao projeto pedagógico da instituição e, ainda, que esteja preparado para atender e atuar em prol e juntamente a comunidade por ele atendida. Estas demandas ou formas de agir exigem dele preparo múltiplo, que vão desde o conhecimento da realidade da educação, de preferência com experiência profissional em diferentes segmentos e atividades em escolas, passando pelo estudo e atualização quanto as leis da educação, preparo e leitura constantes quanto as diferentes linhas de trabalho educacional, competência para lidar com as crises do cotidiano e públicos diversos aos quais tem que atender (pais, alunos, professores, funcionários da escola).

Apesar de estilos diferentes existirem e do foco maior de alguns diretores em algum dos eixos norteadores de seu trabalho (administrativo, pedagógico, relacionamento com a comunidade), o ideal é que este profissional atue de forma equilibrada, procurando atender as diferentes demandas dentro de seu plano anual, semestral, mensal e diário de trabalho.

Isso significa, por vezes, que um motorista cauto, atento, zeloso por seu veículo e equipe, ciente do compromisso com as pessoas que conduz, pode ser a métrica para o cotidiano. No entanto, em determinados momentos, o piloto terá que prevalecer, pois se exige audácia, velocidade, competitividade e resultados de impacto.

Ter o carro regulado, as leis de trânsito conhecidas, equipe de mecânicos competente, mapa dos caminhos a serem percorridos e serviços prestados com competência nestas idas e vindas é muito bom. Agrada a maioria das pessoas e conduz para um resultado final que demonstra competência. Este é o perfil médio a ser perseguido pelos diretores. No caso das escolas significa estar próximo dos docentes em seu dia a dia, ajudando os mesmos a melhorar suas aulas com orientações e atualizações pedagógicas, indicando a partir da métrica de resultados o que pode ser melhorado e sendo capaz de valorizar as boas realizações. Significa também manter atualizados os compromissos burocráticos e administrativos, neste sentido, como no anterior, é de primordial importância ter juntamente a ele equipe preparada, estimulada, capaz de ouvir e de se articular, com iniciativa e atualizada. Ter meios de informar e dialogar com a comunidade atendida, sabendo ouvir, tanto a crítica quanto o elogio, é do mesmo modo, primordial no cotid ano.

Não se pode, no entanto, abrir mão do piloto. Abdicar da busca pelo novo, por manobras mais ousadas, por diferenciais que tornem o trabalho geral reconhecido por todos. Neste sentido compete ao diretor estar atento a seu “veículo”, ou seja, a escola. Como ela pode ser melhorada quanto a infra-estrutura, como usar melhor os espaços, que tecnologias incorporar ao cotidiano, que projetos podem ser desenvolvidos para estimular ações em prol da leitura, como tornar a ciência e a matemática pontos fortes da escola, que parcerias podem ser feitas para trazer empresas e profissionais para a escola afim de conectar a unidade com o mundo, que práticas podem ser feitas em favor de valores, ética e cidadania?

Perseguir e se mobilizar no cotidiano e também em novas ações, misturando o motorista sério, comprometido, atento e disposto a oferecer uma jornada segura para seus passageiros ao piloto competitivo, em busca de resultados expressivos, capaz de realizar manobras aparentemente impossíveis, é isso que se espera dos diretores de escola. Parece impossível? Não é. Exige muito do profissional, que por isso mesmo, precisa ser reconhecido, estimulado e respeitado por todos.



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