A Semana - Opiniões
Universidades de bolso vazio
João Luís de Almeida Machado
Educação superior brasileira tem corte de 47% de seu orçamento em 2015 oficializado pelo governo federal. O que isso significa?
Imagine se você tivesse uma redução de quase 50% em seus rendimentos... O que isso acarretaria?
Certamente seriam necessários ajustes no orçamento familiar. Despesas consideradas supérfluas teriam que ser cortadas. Isso afetaria, por exemplo, as refeições fora de casa ou os passeios.
Ainda assim não deu? O que fazer então?
O próximo passo é diminuir o consumo de luz, telefone e água. Banhos menos demorados, por exemplo, ou escovar os dentes com a torneira fechada. Seu saldo bancário agradece e o meio-ambiente também.
Mesmo com estas reduções a conta não está fechando?
Próximo passo é gastar menos no supermercado. Trocar marcas mais caras por outras menos custosas. Tirar do cardápio a carne vermelha e substituir por frango é outra medida. Comprar somente verduras, legumes e frutas da estação diminui os custos...
Pois é, essa é uma ginástica que muitas pessoas têm que fazer quando entramos em época de vacas magras, como no Brasil de agora. O próprio país está com o saldo negativo em suas contas quando contabilizados seus gastos e receitas e, como todos sabem, a arrecadação não parou de subir nos últimos anos. Confira o impostômetro para ver o quanto pagamos de tributos diretos e indiretos, ainda assim o custo Brasil é altíssimo e fica ainda pior por conta da corrupção, conforme comprovam casos como o do propinoduto da Petrobras ou o mensalão.
De qualquer modo, elemento básico para superar a dificuldade é preservar investimentos em áreas essenciais, como educação e saúde. Ainda assim, o governo brasileiro realizou corte de 47% do orçamento das universidades federais para o presente ano de 2015. Planos de expansão dos campi, obras em andamento, contratações de novos docentes e funcionários, adequação dos salários, oferta de bolsas de estudo e outras ações previstas foram arquivadas.
Ao retirar o dinheiro destinado à educação superior, o governo federal, de certo modo, está tentando preservar seu caixa agora, por conta da má gestão, da corrupção e de políticas populistas focadas em resultados eleitorais e, com isso, prejudicando o futuro da nação.
Há uma carência de profissionais em diversas frentes de trabalho. Faltam médicos, engenheiros, professores e a perspectiva com uma mudança como esta é a de que continuem a faltar por alguns anos.
Não bastasse isso, a qualidade almejada para a educação superior passa necessariamente pela melhoria dos campi universitário. A dotação destes espaços acadêmicos com novos espaços para cursos e aulas, instalação de redes que conectem os estudantes e professores ao mundo em todas as partes das universidades, ampliação dos laboratórios e centros de pesquisa, investimento em computadores e bibliotecas, entre outras medidas, é de essencial importância para que a formação superior oferecida no Brasil possa atingir padrões que a aproximem dos grandes centros de saber, como os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, o Japão ou a Alemanha, por exemplo.
Valorizar a mão de obra docente com formação, salários, benefícios compatíveis com a carreira acadêmica, estímulo a produção científica e a participação em grupos de pesquisa ou eventos internacionais estão, também, entre os investimentos muito necessários para que o Brasil crie mais patentes, desenvolva mais produtos, amplie sua participação no mercado global além de seus produtos agrícolas.
Além do corte nos investimentos, o atual cenário econômico do país causa ainda maiores prejuízos a educação em todos os seus segmentos, entre os quais o ensino superior, e as demais áreas produtivas do país, assim como a cada cidadão, por conta do processo de estagflação percebido por institutos de pesquisa e economistas.
A estagflação é fenômeno que não ocorria no país desde os anos 1990. Significa, em linhas gerais que além da inflação, ou seja, o aumento regular de preços de produtos e serviços em todos os segmentos, aumentos estes que não são acompanhados por reposições salariais, o que ocasiona perda do poder de compra dos consumidores, há também a estagnação das atividades econômicas que, em linhas gerais, significa cortes de investimentos, contratações, desemprego, linhas de produção paradas, endividamento de empresas e pessoas...
Ao corroer o poder de compra das instituições e pessoas, entre as quais as universidades federais do país, o orçamento reduzido disponível as instituições permite menos a seus gestores pois adquire menor quantidade de produtos ou serviços necessários, significa rendimentos reduzidos quase que diariamente para seus servidores (o que pode causar saídas em busca de melhores alternativas ainda que o mercado esteja estagnado e em retração) e, com tudo isso, há ainda a insatisfação que ocasiona as greves e paralisações de atividades que, é claro, significam mais custos para todos, inclusive para os alunos, que ao perderem aulas no ciclo regular, são obrigados a repor em época de recesso ou férias.
O que é certo é que, para um país prosperar, é preciso investir ainda que as nuvens no céu prenunciem tempestades. E o investimento em infraestrutura para que uma nação cresça de fato deve priorizar não apenas a construção de estradas, portos, ferrovias, novas linhas de transmissão de energia ou dados, mas principalmente na qualificação de sua gente, com projetos e ações consistentes e permanentes em educação.
# Artigo: Educação de Qualidade começa bem cedo