Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

22/6/2004 - O que podemos fazer por nossos jovens sonhadores e realistas?
Acreditar, respeitar e estimular cada vez mais

Duas-faces-diferentes-olhando-para-outra
Respeito às diferenças

Toda vez que penso a respeito dos jovens com os quais trabalho, vejo neles um enorme potencial. Não se trata apenas de capacidade de trabalho, de produção ou realização profissional futura. Há muito mais, mesmo que os pais e muitos professores não consigam perceber a força que esses garotos e garotas carregam dentro de si. Formas de comprovar o que estou falando não faltam, seja em minhas aulas ou na de outros colegas professores espalhados por todo o território nacional.

Se os professores conseguem envolver seus jovens estudantes nos projetos que definiram para seus cursos durante um bimestre, semestre ou ano, conseguem fazer com que as realizações se materializem e que esses alunos passem a acreditar cada vez mais em suas capacidades. Não é mero discurso, pelo contrário, a consecução daquilo que foi planejado dá imenso prazer não só aos mestres, mas também a seus pupilos.

Há, entretanto, algumas diretrizes fundamentais para que isso aconteça, iniciando-se pelo respeito ao jovem, dando a ele, desde o princípio, o direito de manifestar-se, de expressar seus pensamentos, de trocar idéias com os colegas e com o professor. É verdade que devem ser dadas algumas orientações para que esse diálogo possa fluir de forma tranqüila, sem enfrentamentos ou qualquer tipo de agressividade.

Isso depende de uma boa discussão travada entre todos os elementos que compõe o grupo que estará reunido ao longo do ano escolar. Não se deve esquecer que o professor deve agir como um orientador ou autêntico maestro, a reger ou direcionar as conversas para que não se perca o foco do debate. Nesse caso específico, deve ficar claro para os estudantes que há normas e regulamentos de cada escola que não podem deixar de ser respeitados.


Diálogo

Duas-estátuas-conversando-de-frente

Outro ponto importante dessa discussão inicial refere-se ao respeito à dignidade alheia. Falar alto, em tom de ameaça, esmurrar carteiras (ou portas) ou ainda humilhar o outro com “brincadeiras” ou ofensas de caráter pessoal são atitudes inaceitáveis e isso deve ser tópico obrigatório em qualquer tratado previamente acertado numa sala de aula no início do ano letivo.

Além de respeitar, os professores tem que acreditar e evitar os estereótipos que costumam sacramentar os destinos de determinados alunos na passagem de um ano para outro. Situação das mais comuns vividas em escola é aquela em que os professores de uma série anterior ‘comentam sem maiores interesses’ que um ou alguns dos alunos que estão indo para a próxima série tem determinados tipos de comportamentos ou reações que o encaixam numa determinada tipificação escolar (desinteressado, fraco, irresponsável, agressivo, mal-educado, muito certinho, ‘caxias’,...).

Ao agir dessa forma, os professores criam os temíveis estereótipos e agem de forma a contribuir para o aumento da confusão e dos problemas no âmbito escolar.

Isso não quer dizer que comentários não possam ser feitos, mas que devem ser consistentes, amparados por uma visão profissionalizada da prática escolar. O professor tem que relatar os problemas para orientadores e coordenadores e discutir com os outros educadores cada uma das situações relativas a seus alunos buscando soluções que possam ajudar os estudantes que estão apresentando dificuldades.

A crítica pura e simples pode ser um elemento devastador para a vida dos jovens estudantes com os quais nos relacionamos. Resultados ruins na escola podem ser fruto de falta de organização na hora de estudar, problemas de relacionamento com o grupo, dificuldades com a família, utilização de drogas ou, simplesmente, de aulas não compreendidas, mal trabalhadas pelos professores.

Professor-conversando-com-alunos
Parceria com os alunos

Discussões com outros profissionais da escola podem ajudar a resolver os problemas e fazer com que o rendimento posterior dos estudantes seja muito melhor. O estímulo à melhora é chave essencial para o sucesso do aluno, do professor e, conseqüentemente, de todos os outros alunos e da escola.

Conheço várias histórias de alunos que tinham pouca confiança em si mesmos e que foram motivados a mudar, se revelando muito bons na escola e no mundo profissional por que tiveram o apoio de professores ou da família. Há, por outro lado, tantas outras de jovens que se auto-destruíram ou mutilaram seu futuro em virtude de outras pessoas serem incapazes de os ouvir e de lhes dar atenção e suporte em momentos difíceis.

É importante que o trabalho desenvolvido na escola seja estimulante e empolgue os alunos. É nesse ponto que muitos professores acham que as coisas não têm jeito. Argumentam que já tentaram de tudo, que estudaram as metodologias, que freqüentam cursos e palestras ou mesmo que já gastaram todo o arsenal de recursos disponíveis para tornar seus cursos mais interessantes sem que grandes resultados tenham sido obtidos.

O que fazer?

Inicialmente procurem conhecer a clientela com as quais estão trabalhando. Identifiquem seus alunos, verifiquem suas potencialidades, utilizem linguagens variadas para avaliar e preparar seus alunos (escrita, apresentações orais, trabalho em grupos, desenhos, dramatizações, utilização de recursos eletrônicos,...).

Façam de seus estudantes pessoas ativas na sala de aula. Provoquem sua participação com atividades que misturem o uso de diversos recursos e que peçam produções individualizadas ou grupais. Levem textos ágeis e fáceis de serem lidos. Renovem a discussão com trechos de filmes ou programas de televisão. Utilizem a literatura e a poesia a seu favor. Façam rápidas pesquisas de campo na própria escola. E não se esqueçam de pedir a eles que entreguem uma produção ao final de cada atividade.

Criem projetos que façam com que seus alunos reflitam a respeito dos temas em discussão. Nunca desprezem a experiência de vida de seus estudantes, de seus depoimentos podem surgir oportunidades para o crescimento de todo o grupo e dos projetos. Respeitem os sentimentos dos jovens com os quais trabalham, eles muitas vezes nos pedem simplesmente isso e, muitas vezes não conseguimos fazê-lo.

Em recente reportagem divulgada pela revista Veja, num suplemento especial dedicado aos Jovens (Edição especial de Junho de 2004), ficamos sabendo que os brasileiros que tem entre 15 e 24 anos são sonhadores e também muito realistas. Um dos tópicos mais relevantes da reportagem, pautada em levantamentos realizados por empresa especializada em pesquisas, nos diz que a educação é considerada como um dos assuntos mais importantes para os jovens e que, ao mesmo tempo, é um dos temas que mais os preocupam.

Esse dado é particularmente importante para nós, educadores, por revelar que os jovens estão conscientes do importante papel da educação na vida de cada um deles, como um autêntico e verdadeiro mecanismo de crescimento e valorização social e profissional. Por outro lado, percebemos que, como preocupação, a educação é percebida pelos estudantes como ineficaz, pouco atraente e desconectada da realidade. Que tal tentar mudar esse quadro?

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