Carpe Diem
Sobre o sucesso e o fracasso
João Luís de Almeida Machado
“Há duas coisas que ninguém perdoa: nossas vitórias e nossos fracassos.” (Millôr Fernandes)
“No Brasil, sucesso é uma ofensa pessoal.” (Tom Jobim)
Fracasso e sucesso são vocábulos que acompanham a vida de todos os seres humanos, sem exceção. Walt Disney, Steve Jobs, Benjamin Franklin, Henry Ford, Abraham Lincoln, Roberto Carlos, Tom Jobim, Millor ou qualquer destacado empreendedor nas diferentes áreas de ação humana já vivenciaram, em algum momento, ainda que duvidemos disso, o amargor do insucesso.
Roberto Carlos, por exemplo, conhecido nacionalmente como o “rei” por seu grande fã-clube, como qualquer outro artista, já foi desprezado pelos críticos, em especial por basear seus primeiros acordes num modelo conhecido e de grande sucesso (na Bossa Nova de João Gilberto) e teve que cantar até embaixo de lona de circo para tentar chegar ao grande público sem causar grande empatia naquele momento de sua carreira. Bateu de porta em porta, perambulou pelos quatro cantos do país, foi atrás de oportunidades até que emplacou com seu estilo próprio, canções bem construídas, parcerias de sucesso (em especial com Erasmo Carlos, nos anos 1970) até que a realeza lhe fosse concedida pelo público.
Steve Jobs chegou a ser demitido de sua própria empresa e lançou alguns produtos que não emplacaram. Seus sucessos desde os anos 1970/1980, como o Apple 2 e o Macintosh, até os produtos mais atuais, como o IPad, o iPhone e o iPod, por exemplo, são muito mais conhecidos, ainda assim o criador da Apple também viveu períodos em que esteve em baixa.
De qualquer modo, Millôr Fernandes, mais do que um humorista e escritor, com suas tiradas irônicas e filosóficas, ainda que breves, ao destacar como sucessos e fracassos estão na ponta da língua das pessoas, para o bem e para o mal, certamente com maior propensão as maledicências, destaca em sua fala como os seres humanos podem ser ferinos, cáusticos e, principalmente, invejosos, ciumentos quando se trata de sucesso de outrem, ou, impiedosos e cruéis quando a questão é o fracasso alheio.
Tom Jobim, de sucessos imortais, certamente um dos grandes músicos e compositores não apenas do Brasil, mas de todo o mundo, ao reforçar a ideia de que o sucesso é ofensivo aos brasileiros, pautava-se em fatos e ocorrências de sua própria vida ou das pessoas próximas a ele que eram atacadas simplesmente porque chegaram lá, gravando uma música que alcançou grande sucesso, realizando um filme que explodiu nas bilheterias, escrevendo um best-seller...
Vencer ou perder garantem um “prato cheio” para quem vive empatando, não é mesmo?
E os ciumentos ou invejosos de plantão que me desculpem, porque ao invés de continuarem suas trajetórias modorrentas, sem brilho e sem sal, não se aventuram a tentar realizar grandes jogos, escrever linhas de destaque para suas histórias pessoais, fechar negócios fantásticos, dar aulas incríveis ou escalar montanhas que lhes garantam seu próprio sucesso, ao invés de ficarem perseguindo quem chegou lá.
Até porque, para chegar lá, antes de inventar a eletricidade, Benjamin Franklin tentou, tentou e tentou, tendo tantas vezes fracassado até que seu objetivo fosse alcançado. Lincoln igualmente nadou contra as piores intempéries mas chegou a presidência dos Estados Unidos e se tornou um dos maiores estadistas daquele país. Ghandi fez greves de fome e grandes caminhadas que a princípio pareceram inócuas mas que, a história registra, foram passos decisivos para a independência da Índia.
No filme “Amadeus”, de Milos Forman, sobre o magnífico Mozart, podemos perceber o quanto a inveja e o ciúme quanto ao sucesso alheio são terríveis principalmente para quem assim procede. Salieri não consegue, ao longo de toda a narrativa, esconder o quanto despreza Mozart por seus talentos e realizações. Hoje ouvimos concertos baseados na obra de Mozart enquanto Salieri... Quem é esse mesmo?
Supere a mesquinhez. Seja superior, aprenda com os erros e os fracassos próprios e alheios tanto quanto com o sucesso. Bata palmas para quem venceu e estenda a mão para quem foi derrotado. Não alimente a inveja ou o ciúme.
# Artigo: Jamaica Abaixo de Zero