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A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Entre os últimos colocados novamente e caindo no ranking
João Luís de Almeida Machado

Brasil cai para a 60ª posição no ranking mundial de educação entre 76 países avaliados.

Se o seu time de futebol ficasse na 60ª posição num campeonato equivalente a Copa do Mundo. E se nesta competição estivessem inscritas somente 76 equipes. Entre elas algumas das potências deste esporte. Seleções que já ganharam o torneio e outras que, apesar de não terem ganhado, conseguiram resultados expressivos, sempre se qualificando entre as 10 melhores do mundo.

Pois é, o Brasil está na 60ª posição no ranking mundial de educação entre 76 países avaliados... No ranking da Fifa o país está em 5º lugar sendo que devemos considerar que há mais filiados a entidade que controla o futebol no planeta do que países membros da Organização das Nações Unidas. O Brasil no futebol está na quinta colocação entre mais de 200 países enquanto na educação, está entre os últimos, na 60ª posição, contando-se apenas 76 concorrentes...

Qual o futuro de uma nação que se intitula "pátria educadora" e que mundialmente é percebida através de dados e levantamentos em matemática, ciências e códigos e linguagens como sendo uma das que oferta qualidade de educação mais fraca e incapaz de legar a seus estudantes uma formação mínima ou básica?

Não há futuro para quem não investe em educação. O que sobra, literalmente, é um arremedo de vida, numa constante luta pela sobrevivência, num país vilipendiado e arrasado não por terremotos, tornados ou tsunamis, mas por violência, corrupção, desmandos, desemprego em alta, inflação a corroer os salários, hospitais sem condições de atendimento, estradas esburacadas...

O futuro pertence aos povos em que a educação é prioridade nacional, com políticas de estado que não se submetem ao jogo político tacanha e mesquinho de partidos que nada e ninguém representam. Não temos currículo nacional do mesmo modo como não temos verba para a manutenção das escolas ou para salários e condições dignas de trabalho para os professores.

O Brasil de hoje ridiculariza o slogan ou mote de governo criado pela principal mandatária do país ao assumir seu novo mandato. "Pátria educadora" é um engodo que demonstra o quanto somos enganados e como a falta de uma educação de qualidade nos leva a sermos iludidos com grande frequência. E contra os números não há argumentos. São frios e objetivos. Legitimam a morte ou quase isso deste doente terminal chamado Brasil. Na UTI do mundo de hoje, na contramão da história, quando todos esboçam reação em relação a crise econômica que tomou conta do cenário mundial a partir de 2008, o Brasil cai e não é de joelhos, pois isso caracterizaria derrotas honradas e tal reconhecimento não nos cabe neste momento.

Conquistas sociais são a resposta sempre alardeada pelos governistas para dizer que realizam um Brasil melhor e mais justo, para todos e não apenas para alguns. Conquistas sociais sem ganhos reais em educação nada ou pouco significam porque não representam ganho permanente, contínuo. Sem a perenidade de uma educação de boa qualidade os subsídios governamentais se vão, o peixe na mesa acaba, a luz não consegue ser paga e o cidadão não aprendeu a pescar para suster os seus próximos.

Sinto na pele os números do fracasso brasileiro na educação pois como brasileiro e educador, sinto minha insignificância na luta contra indicadores tão ruins a prejudicar o país e seus cidadãos. Sinto-me responsável e cúmplice desta parca resposta, para não dizer porca mesmo, cheia de paliativos oferecida as crianças, adolescentes, jovens e adultos que hoje estão nas escolas do país.

Quem pode se refugia no ensino privado e tapa olhos, ouvidos e boca ao que acontece para dentro dos muros das escolas públicas. Silenciam a um custo alto: pagam impostos elevadíssimos que deviam oferecer educação pública de qualidade ao mesmo tempo em que compram uma saída elitista e cara locada em escolas que oferecem o que deveria existir nas redes municipais, estaduais ou federais.

Até mesmo as universidades públicas que sempre deram frutos e significaram boa qualidade de ensino passam por sérias dificuldades. Falta dinheiro para pagar a limpeza, prover os bandejões, garantir segurança, disponibilizar recursos, atualizar os salários dos professores e, até mesmo, para pagar os serviços essenciais, como água, luz e telefones.

Não há, na história mundial, caso de nação que atingiu a maturidade política, econômica e social sem que ações públicas sérias, perenes e de interesse geral (e portanto livres das disputas mesquinhas entre partidos políticos) em educação tenham sido aplicadas.

Países que tiveram a coragem, o ímpeto, o compromisso social real e investiram em educação sabendo do ônus político imediato que isso poderia trazer, apostando no bônus social de um porvir que poderia ser tão longo quanto uma geração, como por exemplo sucedeu na Finlândia, em Cingapura ou no Chile, por exemplo, estão colhendo os frutos na época certa, aqueles que lhes garantirão o futuro que ao Brasil, onde a educação não é prioridade nacional, é incerto.

O que esperar?

Que os resultados sensibilizem as autoridades brasileiras. Que o novo ministro da educação, a despeito da falta de verbas percebida no país neste duro momento recessivo que vivemos, busque articulação juntamente a sociedade civil para que verdadeira mobilização em prol da educação ocorra neste país.

Não é só dinheiro que falta, isso é somente parte daquilo que precisamos. Currículo nacional moderno e adequado as necessidades do país neste mundo globalizado, melhor formação para os docentes, maior compromisso da população com as escolas e a educação, gestão eficiente das unidades educacionais e também das salas de aula, educação significativa e não dissociada da realidade de vida dos educandos, metas claras a serem perseguidas por todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, entre outros compromissos e ações a serem realizados devem estar no horizonte.

E isso não depende só de governos, está nas mãos de todos e de cada um de nós. Ainda é possível mudar. Melhorar é algo que deve estar na alça de mira de todos os brasileiros quanto a educação.


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