Diário de Classe
Lições da crise da água
Aulas que vão além da sala de aula na batalha pelo consumo consciente
A água é um dos mais preciosos recursos naturais existentes na Terra. Imprescindível para a vida no planeta seja para o consumo direto do homem e de outras espécies animais ou para o uso em atividades produtivas, na indústria, comércio, serviços, agricultura, extrativismo, mineração e pecuária.
Esta importância é sintetizada por poetas, escritores, compositores e artistas em geral em suas produções, como na clássica canção “Planeta Água”, de Guilherme Arantes.
As mudanças climáticas observadas ao longo das últimas décadas na Terra têm, no entanto, diminuído a oferta de água potável e reduzido a disponibilidade deste insumo em diferentes regiões do globo. O crescimento populacional, por sua vez, ocasiona maior procura por água em todos os continentes, sem exceção.
A falta de chuvas no Brasil ao longo de 2014 e no início de 2015 acendeu a luz vermelha no país quanto à questão do acesso a este recurso essencial para todos. No caso brasileiro, país no qual grande parte da energia elétrica é produzida a partir de hidrelétricas, a situação começou a afetar ainda mais fortemente a vida dos cidadãos com a ocorrência de cortes de energia, ainda que esporádicos, com o racionamento da água e com o forte aumento das tarifas nas contas de eletricidade e água.
A crise da água tornou-se tema recorrente nos principais meios de comunicação, tanto nos impressos como nas mídias eletrônicas e, com isso, abriu também oportunidade para que nas escolas o tema venha a ser explorado em atividades que, mais do que conhecimento, tornam-se meios de conscientização dos alunos e, a partir deles, de suas famílias, quanto a como proceder para reduzir o consumo e ajudar a aumentar o nível dos reservatórios que abastecem cidades como São Paulo, Belo Horizonte e o Rio de Janeiro, entre outras.
Neste sentido, vale refletir e propor estudos, projetos, tarefas e trabalhos nas escolas que mobilizem os estudantes a entender tanto a crise como a própria água, este vital insumo para a existência da humanidade e de todos os seres que vivem neste planeta. Seguem abaixo algumas possibilidades de práticas pedagógicas a serem implementadas:
1 - Inicie ações com seus alunos sempre do ponto mais elementar, ou seja, aproveitando a experiência que eles possuem com o tema em questão. Neste sentido, crie com eles um questionário no qual façam um levantamento do uso regular da água em sua casa e também entre seus parentes. Nesta ação há elementos de aprendizagem bastante fortes sendo utilizados, como por exemplo, o processo de confecção de um documento de pesquisa e registro. Trabalhe com eles perguntas objetivas, como se estivessem elaborando um questionário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Estipule que cada aluno deve pesquisar juntamente a um grupo de 5 a 10 famílias, por exemplo, entre as quais podem estar incluídos parentes, vizinhos, amigos e, é claro a própria casa em que vive.
Pesquisas sobre o tema fazem com que os alunos se envolvam e trabalhem em prol de um consumo racional da água e da energia elétrica na comunidade em que vivem.
2- Dados coletados? Ótimo. Passem então para a segunda fase, aquela na qual se realiza a tabulação, ou seja, a organização das informações colhidas através da pesquisa. Atribua aos alunos a responsabilidade de verificar quantas e quais respostas foram obtidas para criar uma métrica através da qual os dados gerais possam ser revelados para o grupo e posteriormente para toda a escola e comunidade atendida. Desta forma, por exemplo, eles ficarão sabendo quanto, em média, é o consumo de água e de eletricidade entre as pessoas pesquisadas.
3- Com todas estas informações em mãos, passe para uma ação de transformação dos dados obtidos em gráficos e tabelas. Ensine seus alunos ou aperfeiçoe se já souberem como fazer isso. Expanda os saberes, se possível, para uma nova etapa, com a construção de infográficos. Trabalhe em etapas, do papel até o uso da tecnologia, com o acesso a computadores e a internet para a composição de apresentações visuais de qualidade.
4- Num próximo momento passem para uma etapa de comparação de dados. Usando as informações coletadas por seus alunos, busquem também resultados de pesquisas divulgadas por institutos especializados, ONGs, instituições públicas e órgãos de imprensa. Estas diferentes métricas permitirão aos alunos, por exemplo, perceber se o consumo medido entre as famílias por eles pesquisadas está abaixo, acima ou de acordo com a média nacional.
5- A busca por estas informações deve sempre focar na ideia de que a informação lhes permite não apenas conhecer o problema, mas identificar ações que permitam melhorar a vida. Neste sentido, ao mesmo tempo em que coletam dados, os alunos precisam ser informados sobre o que é a água, suas características, seus usos, onde é encontrada...
6- Tendo realizado todo este percurso, o próximo passo interessante seria buscar a palavra de especialistas. Ir a campo, por exemplo, para realizar entrevistas com pessoas que estudam a água, seu consumo, a produção de energia a partir de hidrelétricas, como reduzir o desperdício... Agendar entrevistas com pessoas que trabalham em empresas de distribuição de água e energia, por exemplo, pode ser uma boa oportunidade para se informar mais sobre o assunto. Levar professores ou pesquisadores para falar sobre o tema na escola para os alunos e toda a comunidade é igualmente ação de enriquecimento de inestimável valor.
7- Para concluir as ações o próximo passo é iniciar campanhas de esclarecimento quanto ao uso racional da água. Neste sentido há, na internet, grupos focados na preservação do planeta e de seus recursos que podem oferecer dados e dar informações sobre o assunto. Instrua seus alunos a acessar os sites, verificar quais são as instruções mais comuns, analisar o que é mais aplicável a realidade em que vivem (ou seja, adequar as repostas ao seu contexto), enviar mensagens aos responsáveis pelos sites pedindo orientações e estabelecendo pontos de contato.
Realizadas ações como estas, a iniciativa educacional não arrefece, ou seja, pelo contrário, deve ser um dínamo que leve os alunos a ir além da sala de aula, com a promoção de eventos na escola ou fora dela, em seus lares e bairros, juntamente a seus familiares, vizinhos e amigos, tentando conscientizar as pessoas a consumir de forma mais racional a água, evitando desperdícios.
# Artigo: Um filósofo no comando do ministério da Educação