Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

8/6/2004 - Elas e Eles
Por que as meninas estão em vantagem na escola

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Entre a doçura das meninas e as traquinagens dos meninos há um ponto
de equilíbrio que pode gerar ótimos resultados na escola.

Pesquisas divulgadas através da revista Veja (ed. 1857, de 9 de junho de 2004) esclarecem que as meninas têm, nos últimos anos ultrapassado os meninos em alguns importantes quesitos relativos a vida escolar.

A primeira grande novidade refere-se ao número de estudantes do sexo feminino ser superior ao de seus pares desde da 5ª série do Ensino Fundamental, passando por todos os níveis a partir de então até o 3° ano do Ensino Médio e reiterando-se na universidade (o dado é ainda mais expressivo se levarmos em conta que também na pós-graduação elas são mais numerosas).

Entretanto o mais relevante refere-se ao desempenho superior das meninas quando em comparação com os meninos em praticamente todas as disciplinas (com exceção das ciências exatas, especialmente da matemática). Há que se destacar que mesmo nas exatas, onde a diferença de rendimento a favor dos meninos era significativa até bem pouco tempo atrás, o desnível ficou menor, com elas ganhando terreno e praticamente emparelhando os resultados.

Explica a reportagem que as diferenças entre os sexos tem sido constantemente percebidas através dos mais novos estudos científicos desenvolvidos ao redor do mundo. Percebeu-se, por exemplo, que as meninas amadurecem física e emocionalmente mais cedo que os meninos, o que tem levado alguns desses pesquisadores a sugerir que a entrada deles na escola ocorra um ano depois delas (eles com 8 anos na primeira série e elas com 7).

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Que tal reunir a concentração e a criatividade delas e o bom humor e objetividade deles?

A falta de maturidade explicaria, por exemplo, por que o aproveitamento das meninas em leitura e escrita é superior ao dos meninos, o que pode ser comprovado não apenas pelas notas, mas também pela qualidade da letra e dos trabalhos produzidos ao longo de cada ano escolar.

Isso significa que a primeira batalha da tão propalada “guerra dos sexos” está sendo vencida pelas garotas?

Não, nada disso. Apenas percebemos que há diferenças quanto ao processo de adaptação e maturação de pessoas de diferentes sexos, com o masculino levando um tempo ligeiramente superior para se adaptar ao cotidiano escolar, especialmente a uma rotina marcada por certas normas e por expectativas quanto à produção, realização pessoal e coletiva.

Isso também abre nossos olhos para a necessidade de compartilhar as responsabilidades quanto aos destinos do planeta entre homens e mulheres, o que a cada dia fica mais evidente e viável, mais próximo e necessário para todos.

Acredito que, inclusive, a própria terminologia “guerra dos sexos” deveria ser abandonada em favor de uma atitude de maior cooperação, com meninos e meninas, homens e mulheres, auxiliando-se em favor da solução plena de diversos problemas que, historicamente, as sociedades controladas pelos homens, ainda não conseguiram resolver...

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A tolerância implica em respeito às diferenças e reconhecimento da necessidade do outro.
Ao partilharmos a responsabilidade pelo mundo, ele certamente ficará muito melhor.

Até mesmo a idéia de “sexo frágil” atribuída as mulheres ao longo de anos e anos, tem que ser superada em favor de um espaço mais democrático, de maior inclusão, de maior valorização das diferenças e das habilidades e capacidades próprias de cada grupo. Isso, diga-se de passagem, deve ser ampliado a tal ponto que ultrapasse as fronteiras das discórdias sexuais e atinja as pendências religiosas, étnicas, culturais, raciais, futebolísticas,...

Tolerância não deve ser um modismo, deve ser incorporada e vivida por todos para que tenhamos, efetivamente, um mundo muito melhor quando acordarmos amanhã. Temos que superar a retórica e promover as alterações que nos garantam mais justiça, paz, harmonia e amor. Penso que cada nova inclusão e partilha das responsabilidades e compromissos para esse futuro melhor garantem que ficamos cada vez mais próximos dele.

Se descobrimos que o rendimento das meninas na escola é superior, o ideal é que incentivemos uma participação mais integrada entre meninas e meninos para que os sucessos obtidos por elas sirvam como referências e caminhos a serem divididos com eles. Sem empáfia, de preferência. Sempre com muito carinho e humildade. Mesmo porque, apesar de estarem em desvantagem, eles também tem muito a ensinar.

Trabalho com adolescentes há aproximadamente 15 anos, tenho constatado ao longo desse período aquilo que foi disposto na reportagem de Veja. Reconheço que elas são mais aplicadas, atentas às aulas, dispostas a produzir, criativas e que, como conseqüência disso tudo, tem obtido melhores resultados nos cursos em que estamos juntos (escuto colocações semelhantes de meus colegas professores).

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O melhor de tudo no trabalho com meninos e meninas é poder contar com toda a turma.
Todos sempre têm algo de interessante e importante para dividir com o grupo.

Os meninos, por outro lado, são mais bem-humorados, tem laços de lealdade entre si que dificilmente são quebrados, são mais práticos e objetivos e tem um grande desejo de sucesso pessoal e profissional (apesar de se mostrarem um pouco preguiçosos para a efetivação desse propósito).

Muitos deles têm conseguido superar adversidades quanto ao rendimento graças ao apoio de suas colegas. Alguns, inclusive, têm brilhado em projetos, trabalhos, tarefas e avaliações.

Elas, nos últimos anos, tem se mostrado cada vez mais solidárias entre si e em relação ao grupo como um todo.

Os resultados que temos apresentado na coluna “Diário de Classe” (quer saber um pouco mais sobre os diários, clique no link http://www.planetaeducacao.com.br/new/colunas.asp?col=6) são, essencialmente, amostragens de um trabalho que os coloca lado a lado, não como competidores ou rivais e, sim, como colaboradores, em conjunto, para a obtenção de brilhantes vitórias.

Não acredito mais neles... Ou nelas. Penso sempre no conjunto de forças que os move a realizações fantásticas. Vejo os meninos e meninas com que trabalho como membros de uma notável irmandade, onde há, por vezes, algumas diferenças e brigas, mas, onde essencialmente há cooperação e crescimento conjunto.

A divisão de responsabilidades e a efetivação dos projetos têm demonstrado, na prática, que o mundo fica muito mais bonito, charmoso e alegre graças a elas e também a eles...

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