Cinema na Educação
Shine – Brilhante
Em busca de harmonia
Geoffrey Rush é, indiscutivelmente, um dos maiores atores da atualidade (sua performance em “Os Contos Proibidos do Marquês de Sade” é inesquecível). O mais interessante é saber que sua carreira cinematográfica começou muito recentemente, para ser mais exato, com o lançamento do filme “Shine – Brilhante” (1996), sobre a vida do pianista David Helfgott, quando toda a sua qualidade artística pôde ser conferida e lhe rendeu prêmios e elogios da crítica cinematográfica mundial.
Sem qualquer sombra de dúvidas quanto ao talento de Rush, o filme que o lançou foi o trampolim perfeito para que ele pudesse se tornar um astro do cinema mundial. A história verdadeira de um grande pianista, oprimido pelo pai, que obtém precoce sucesso e reconhecimento e desafia os limites estreitos impostos por sua família ao desenvolvimento de sua carreira a ponto de chegar a loucura (literalmente), comoveu platéias do mundo inteiro.
A própria idéia de que a influência da família sobre sua prole é determinante para o sucesso ou o fracasso pessoal e profissional de uma pessoa, transparente ao longo do filme através da figura do pai de Helfgott (vivido pelo excelente ator Armin Mueller-Stahl), de certa maneira, confirma as teorias do pai da psicanálise, Sigmund Freud.
A transferência para os filhos de projetos ou realizações não concretizadas pelos pais, seja no campo artístico ou esportivo, educacional ou profissional, nos alerta para os males relativos a enorme pressão derivada dessa ação por parte dos progenitores. O incentivo e a participação da família na vida de seus filhos é de fundamental importância e extremamente relevante para as próprias crianças e/ou adolescentes.
Entretanto, cabe aos pais incentivar, opinar e eventualmente, até mesmo ensinar a seus filhos as bases, os caminhos e os aperfeiçoamentos possíveis dentro de uma determinada arte, esporte, área do conhecimento ou mesmo profissão. Ao ultrapassar a tênue linha que separa a participação sadia da família na realização e produção do filho, cria-se uma possibilidade de tensão que pode causar problemas no relacionamento, stress físico e mental e, até mesmo, esgotamento nervoso (como no caso de Helfgott).
A busca da perfeição em qualquer atividade humana pode levar uma pessoa a loucura. A medida adequada em qualquer realização é aquela que nos permite atingir nossos objetivos e não perder de vista, em nenhum momento, o prazer e a alegria, a consciência e a saúde física, o amor próprio e a estreita ligação com o mundo e com as pessoas que povoam nosso universo particular.
Se sacrificarmos tudo em função de uma vitória espetacular, pode-se dizer que não somos de todo, vencedores. As glórias são efêmeras, os troféus empoeiram nas prateleiras, os diplomas amarelam atrás das molduras, o que realmente fica gravado na memória de cada um de nós são nossos amores, a percepção de que somos importantes para outras pessoas independentemente de títulos e medalhas, as vitórias obtidas no cotidiano que nos garantem a plenitude física, mental e emocional.
É claro que isso não significa que devemos parar de correr, lutar, estudar ou progredir em nossas profissões, o que não devemos deixar de fazer é sacrificar todo o resto em função disso. Temos que buscar a harmonia, devemos equilibrar nossa relação com a vida, havemos de encontrar a fórmula da felicidade, mais dia, menos dia...
O Filme
O concurso musical prossegue, os últimos competidores se apresentam, na platéia podem ser vistos os pais de cada um deles, ansiosos pelo resultado final, aguardando uma vitória. Nos bastidores encontram-se alguns jovens e talentosos músicos que já participaram e que mantém as esperanças na conquista do reconhecimento dessa renomada competição. Entre eles está a virtuose David Helfgott (Noah Taylor), tenso e pensativo, a espera do sinal que lhe revele a consagração.
Entre os espectadores encontra-se seu pai e professor, Peter Helfgott (Armin Mueller-Stahl), um homem austero e exigente, que reconhece o talento do filho e tenta, a todo modo, alçar-lhe a fama e ao luminoso estrelado dos grandes talentos musicais. Suas estratégias e planos para a carreira do jovem David exigem muitas horas de dedicação e exercícios constantes.
Os resultados obtidos por David colocam seu pai em situações de grande satisfação ou de indisfarçável decepção. No primeiro caso, quando as vitórias acontecem, a alegria tem que ser disfarçada para não gerar confiança exagerada em seu filho. Quando ocorrem inesperadas derrotas, vem a tona uma frustração transformada em dor, em agressividade e em violência. O jovem, acuado, não tem outra alternativa senão o medo e a conseqüente busca da perfeição.
Toda a pressão exercida pelo pai sobre o filho acaba lhe causando seqüelas que Helfgott carregará pelo resto de sua vida. Todo o talento aperfeiçoado com o afinco (dedicação) e as várias horas passadas junto ao piano também serão parte evidente da herança paterna.
História verídica de paixão e loucura, de amor à arte e música de primeiríssima qualidade, “Shine – Brilhante” é comovente e conquista os espectadores com atuações de primeira qualidade de Rush, Mueller-Stahl e John Gieguld (como o professor Cecil Parkes) e direção correta e segura de Scott Hicks. Para assistir e rever.
Aos Professores
1- A pressão dos pais sobre os filhos muitas vezes coloca os professores diante de situações inusitadas como aquelas em que alunos de ótimo aproveitamento escolar tem quedas abruptas e vertiginosas de rendimento. Podem ser percebidas também através de mudanças de comportamento que geram o surgimento de hostilidades e agressividade do estudante em relação a colegas e mesmo professores. Os professores e a escola não podem ficar inertes em relação a esses problemas e devem encaminhar a criança/adolescente para conversas e orientações por parte dos profissionais credenciados atuando na escola (Orientadores Educacionais, Psicólogos, Psicopedagogos). Os pais devem ser chamados na escola e comunicados da alteração de comportamento e da queda de rendimento. Se for necessário, a família deve ser orientada a buscar apoio de outros profissionais, fora da escola.
2- As escolas devem se esforçar para criar espaços onde talentos possam florescer. Isso significa na prática que aulas de artes, escolinhas esportivas, clubes literários, grupos de teatro, oficinas de filmagem, oratória e tantas outras atividades podem e devem ser incorporadas ao cotidiano educacional. A escola passa a ser vista pelos estudantes como um lugar muito mais interessante e, ao mesmo tempo, abrem-se oportunidades para que a arte, os esportes, a literatura ou a ciência ganhem novos expoentes e experimentos.
3- A promoção de concursos culturais e competições esportivas pelas escolas em parceria com secretarias de educação e cultura dos municípios é fundamental para fomentar o crescimento dessas atividades em nosso país. Se isso acontecesse em todo o país, as escolas se tornariam verdadeiros celeiros de craques e poderíamos fomentar o surgimento de equipes olímpicas de nível elevado. Ao mesmo tempo veríamos elevar-se o nível cultural de nossa juventude e poderiam surgir talentos nas letras e nas artes. Acima de tudo, com certeza, estaríamos tirando da ociosidade nossas crianças e jovens e legaríamos a eles um futuro melhor e mais saudável, distante das drogas, da obesidade e da violência.
4- Temos que trocar o prazer efêmero das vitórias pela satisfação prolongada das realizações e projetos cotidianos que encaminham a conquistas de longa duração. Não adianta ganhar o campeonato desse ano e despencar para as últimas colocações da tabela na competição seguinte. Galgar posições e conquistar aos poucos, valorizar cada ponto ganho e cada nova conquista, saborear o cotidiano, amar muito e intensamente, curtir a presença e a companhia das pessoas que prezamos. Realizar na vida não apenas no sprint final de uma corrida de 100 metros, mas ao longo de uma maratona chamada vida exige disciplina, companheirismo e maturidade. Que tal continuar sonhando e vivenciando a felicidade?
Obs. Por sua atuação em Shine, Geoffrey Rush ganhou o Oscar de melhor ator, o Globo de Ouro e o Bafta (maior prêmio do cinema inglês).
Ficha Técnica
Shine - Brilhante
(Shine)
País/Ano de produção: Austrália, 1996
Duração/Gênero: 130 min., Drama
Direção de Scott Hicks
Roteiro de Jan Sardi, baseado em história de Scott Hicks
Elenco: Geoffrey Rush, Armin Mueller-Stahl, John Gieguld, Justin Braine,
Lynn Redgrave, Alex Rafalowicz, Noah Taylor, Sonia Todd, Marta Kaczmarek.
Links
- http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/shine/shine.htm
- http://www.webcine.com.br/filmessi/shinebri.htm
- http://cineclick.virgula.terra.com.br/cinemateca/ficha_filme.php?id_cine=9298
- http://e-pipoca.cidadeinternet.com.br/filmes_zoom.cfm?id=774