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Rosa Maria de Almeida V. Figueiredo  Pedagoga e Coordenadora-Pedagógica. E-mail: coordenacao@viravirou.com.br

Como entender o convívio social escolar durante a infância
Rosa Maria de Almeida Vaz Figueiredo

Como entender o convívio social escolar durante a infância


Ter um filho frequentando diariamente a escola e, às vezes, por um período estendido, não é uma tarefa fácil para a maioria dos pais, principalmente, porque este é o único espaço em que são “barrados” literalmente. Isto gera certa insegurança, afinal, eles não estão sob sua supervisão, controle e/ou vigília.

As dúvidas são inúmeras e a curiosidade também... Dá vontade de estar lá dentro, vendo e ouvindo tudo. E as perguntas são quase infinitas: O que será que fazem? O que será que dizem? Como se comportam? Como são tratados? O que e como aprendem? Como o acalantam quando sofrem um acidente, etc...

Há famílias que estão mais preocupados com os assuntos pedagógicos, há os que focam nas relações e há os que se detém mais nas questões assistenciais. Estas diferentes visões dependem de muitos fatores, entre eles, idade e maturidade do aluno, relação simbiótica entre os pares, etc...

Para alguns pais, a estada do filho na escola e tudo que cerca esta questão, tem um peso ainda maior, a depender das histórias e vivências pessoais. E quantas são estas histórias, não é mesmo? Acaba que a escola, algumas vezes, se torna “vilã” de algo que pode não ter começado por lá...

Mas, como sempre orientamos e sinalizamos, é a conduta e postura dos familiares, diante de suas dúvidas e questionamentos, que fará toda a diferença na relação da criança com seu espaço escolar, com seus colegas e com sua aprendizagem.

Poderia enumerar aqui centenas de objetivos que tornam fundamental a vivência e convivência escolar, mas talvez um dos mais ricos e importantes, seja o de dar à criança a oportunidade de se relacionar com diferentes pessoas, experiências e sem a influência direta dos pais.

Lançado a esta oportunidade, muitas vezes o aluno se mostra na escola muito diferente do que ele é em sua casa e/ou diante dos familiares e acreditem: não existe nada mais enriquecedor do que ser confrontado com o que não é comum, com o desconhecido, pois isto aumenta as conexões neurais e desenvolve o potencial cognitivo, social e emocional dos pequenos. E quanto mais cedo isto acontecer, melhores resultados serão obtidos.

É interagindo com o que é diferente e com o que desestabiliza, desde pequeno, que o ser humano tem a possibilidade de elaborar hipóteses e resoluções e, assim, aprender a viver e conviver de forma mais saudável e menos dependente, tanto atitudinal como emocionalmente.

Mas é claro que isto tem um preço, pois os alunos acabam vendo e até aprendendo posturas, ações e temáticas, que nem sempre estão de acordo com os valores e ideais de seus familiares. Que fique claro que isto não é porque, necessariamente, o que o outro pensa ou faz está errado, mas porque o que ele pensa e faz não condiz com a filosofia de vida de outros. Afinal, não somos os donos das verdades absolutas...

Lanço a seguinte questão: O que é certo ou errado? Dependerá do ponto de vista. Para algumas famílias, por exemplo, dar um “tapinha na bunda” é sinal de desrespeito com o outro. Já para outras famílias, é algo comum em suas casas, pois é uma expressão de carinho e de brincadeira. Quem está certo e quem está errado neste caso?

Lanço outras questões: no nosso dia a dia só convivemos com quem nos identificamos? Será que todos os nossos colegas de trabalho, de clube, de igreja, do parquinho e praia, são exatamente aquelas pessoas com quem gostaríamos de estar? Claro que não. Muitas vezes, precisamos aceitar pessoas com outras ideias, opiniões e outras ações e ainda assim mantemos as nossas características pessoais, certo?

E por que na escola teria que ser diferente? E como a instituição se posiciona diante desta questão?

Costumo usar uma frase que ouvi durante um dos cursos do psicanalista Cesar Ibrahim: “A família deixa o filho e a escola recebe o aluno”.

Ainda que seja um ambiente com uma proposta acalantadora, com um olhar individualizado, fica difícil, quase impossível, atender as demandas de todas as famílias e não é este o papel da escola, porque se não ela deixa de ser um espaço coletivo e, principalmente, de educação.

A escola, geralmente, se posiciona como um espaço neutro, instituindo seu próprio regulamento e condutas diante dos diferentes comportamentos e posturas dos alunos e até dos pais.

Não é uma tarefa fácil, pois estamos diante de crianças que entendem e respondem à autoridade e à relação com o outro de inúmeras formas em seus ambientes familiares: há os que apanham, há os que ouvem gritos e discussões, há os que têm liberdade total, há os que dialogam, etc... A Escola não bate, não grita e tão pouco é permissiva... Por isto, ela precisa ser neutra.

Mas por incrível que possa parecer, “ser neutro” funciona e isto costuma gerar, na maioria das crianças, uma sensação de conforto e segurança, pois é afirmado a elas, o tempo todo, o que podem e o que não podem fazer naquele espaço, que não é o da sua casa. Isto se torna positivo porque, na maioria das vezes, foram regras e combinados construídos por eles mesmos, que todo o grupo elaborou junto e por este motivo, todos precisam respeitar. Eles reconhecem e legitimam os combinados entre eles mesmos. Uns mais, outros menos.

Como crianças que são, elas estão sempre experimentando, testando e no que experimentam e testam, repetem e aprendem. Isto faz parte do desenvolvimento saudável de qualquer indivíduo.

Mas o que fazer quando os filhos chegam em casa falando ou fazendo coisas que os pais não concordam? Ou quando chegam se queixando de um ou outro colega?

Primeiramente, é preciso acalantar e dar espaço para que eles se expressem. Eles querem falar e mostrar, eles querem chamar a atenção...

Mas é preciso que se tenha em mente que, dependendo das reações dos adultos, da forma que recebem as informações e de como as repassam a outros, o assunto poderá ter um peso maior ou menor e poderá ter ou não continuidade. É preciso que a criança não perceba que o fato desestruturou os adultos à sua volta, pois, do contrário, quanto poder é dado a ela, não é mesmo? É muito comum ouvir relatos de alunos que dizem ter “ouvido” seus pais falando de tal assunto no telefone.

É fundamental que se deixe claro o que se espera das crianças e o que se pensa sobre os assuntos que chegam, direta e indiretamente, através delas. Mas é necessário, principalmente, validar as ideias e opiniões sendo exemplos para eles. Conduzindo desta maneira, o que eles viram, ouviram, viveram e aprenderam com outros e que para nós não é adequado, não terá espaço e nem se manterá.

Por último, é muito importante buscar a escola como uma parceira e aliada, afinal, as crianças passam uma boa parte do seu dia neste espaço e todos por lá conhecem muito bem os alunos.

Não se pode deixar que as dúvidas e incertezas dominem ações e reações e nem que se façam julgamentos. Muito menos se deve despotencializar as condutas da escola e da equipe.

É preciso, sim, trocar pareceres e receber orientações, ainda que as questões não estejam diretamente ligadas ao espaço escolar.

Vamos ajudar nossos filhos e alunos a conviverem mais e melhor?



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