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Lucilla da Silveira Leite Pimentel Consultora associada da Humus. E-mail: humus@humus.com.br.

Gestão Participativa: é hora de assumi-la?
Lucilla da Silveira Pimentel

Gestão Participativa


Na atualidade, a literatura educacional tem sido recorrente na abordagem do papel do gestor e vem se esmerando em convocá-lo a assumir uma gestão participativa, inclusive quando se refere à construção do Projeto Político Pedagógico. No entanto, é preciso refletir sobre esta convocação para que esta gestão escolar não fique na aparência, limitando-se a discursos sobre a importância de ser democrática e, na prática, sem abrir espaço para a corresponsabilidade nas articulações e tomadas de decisões que permeiam o fazer pedagógico cotidiano.

No que se refere especialmente ao projeto pedagógico, não é raro o gestor se perder no meio do caminho devido aos obstáculos promovidos por ele mesmo, quando desconhece saberes essenciais que fundamentam a sua elaboração ou é frágil ao lidar com a própria autoridade ou, ao contrário, quando não consegue, de fato, se desvincular de um poder autoritário. É preciso cuidar para que nessa construção, que deve ser discutida e organizada pela comunidade educativa, o projeto se torne um instrumento que, efetivamente, promova transformações significativas, mudanças de mentalidade, de conduta pessoal e de ações coletivas, tanto da equipe diretiva que atua fora da sala de aula, quanto do corpo docente. O que significa ter de rever a noção de poder, de autoridade e de saberes pedagógicos que se afirmam em estreita interrelação.

Tradicionalmente – e é lamentável que ainda encontremos – os gestores assumem um poder centralizado, manifesto nas relações que estabelece de dependência, domínio, controle e vigilância. Estas são características das próprias organizações hierarquizadas e quando sua autoridade é inquestionável, a sua postura é muito mais presa à inflexibilidade e menosprezo ao saber a competência do outro. É o caso do diretor que cria um mecanismo repressivo de fiscalização nas relações com seus docentes quanto às atitudes pessoais, às práticas pedagógicas e ao programa de ensino que, no seu entender, deve ser sistematicamente pré-definido e rigorosamente cumprido.

A perspectiva atual é justamente oposta: é a de romper com esta posição de ter visões unilaterais sobre a realidade da instituição, de definir isoladamente o que o professor deve fazer, como e quando, impedindo que cresça em sua autonomia e criatividade. Há tempos espera-se outro enfoque na gestão escolar: que nela se instaure o diálogo e a troca de saberes entre parceiros; conversa também investigativa, fundamentada em conhecimentos enriquecidos pelas contribuições das ciências que, sem perder o seu objeto de estudo, o envolvem em questões educacionais. Caso bem nítido da filosofia, psicologia, sociologia, neurociência, biologia.

Por tudo isso, é o momento de se ressignificar o conceito de domínio que impera no âmbito educacional, que na gestão participativa é entendida como autoridade consensual. É aquela que possui o poder legítimo pela condição que assume em uma estrutura organizada no compartilhamento de responsabilidades, sem que se reconheça nesse poder a presença de elementos repressivos, mas sim aquele que oferece condições de produtividade e transformações a toda a comunidade escolar/educativa.

No exercício de seu papel, cabe ao gestor a formação de seus professores, sendo aquele que faz a mediação no desenvolvimento qualitativo dos processos de ensino que ocorrem na escola. Lembrando que os docentes, por si só, não se sentem em condições de garantir uma aprendizagem significativa de seus alunos: precisam do olhar do outro, mas uma visão de ajuda, em reciprocidade. Sendo assim, é a atualização contínua do gestor, um aprimorar-se sempre, que lhe suscita e garante uma atuação inspirada em uma gestão participativa, pronta para promover uma inovação em seus projetos – “inovação”, entendida não como uma mudança qualquer nas propostas da instituição, mas a que propõe uma ruptura com um esquema hierárquico e arcaico: este que visa muito mais o resultado de atuação conteudista, de reproduções, acrítica e autoritária.

Cabe ao gestor participativo oferecer incentivos e suporte a sua equipe técnica e ao corpo docente para se atender as demandas da atualidade; incentivar e mobilizar esses protagonistas a não só buscar alternativas de soluções para seus impasses no trabalho pedagógico, mas provocar o sentimento de pertencimento, de identidade à comunidade escolar, fortalecer a coerência de ação coletiva para a elaboração de objetivos e intencionalidades.

Portanto, para ser gestor no século XXI torna-se necessário ter uma formação que não se limita a sua experiência como docente, isto é: considerar não apenas o número de anos na prática pedagógica, mas a maneira como nela se posicionou e se envolveu; ter interesse em buscar se aprofundar em outras áreas do conhecimento, entendendo que a Pedagogia, como ciência prática, se apresenta em um campo complexo de saberes, sendo multidisciplinar, multicultural e em conexão com a realidade. Além disso, habilidades e características pessoais que o tornam reconhecidamente um líder, como: saber escutar; ter o olhar aguçado e cuidadoso; reconhecer-se como ensinante e aprendente de seus educadores; colocar-se no lugar do outro; saber comunicar-se; estar aberto a discussões e a compartilhar.


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