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Maria Helena Guimarães de Castro Conselheira Titular do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.

Desafios do Ensino Médio
Maria Helena Guimarães de Castro

Desafios do Ensino Médio


Há evidências sobre a persistente crise do ensino médio brasileiro e suas consequências para a formação e qualificação dos jovens. O diagnóstico é conhecido e preocupante. Apenas a metade dos jovens de 15 a 17 anos do país está cursando o nível médio na idade certa. Os índices de evasão e reprovação são muito elevados. De cada 100 concluintes somente 10 estudantes têm desempenho adequado em matemática nas avaliações nacionais. Em língua portuguesa, 30% dos concluintes apresentam desempenho satisfatório. Pesquisas recentes indicam que os jovens não veem sentido no currículo do ensino médio que lhes parece desinteressante, desconectado do mundo real e de suas aspirações em relação ao futuro. A pergunta frequente no debate atual é: o que fazer com o ensino médio? Como torná-lo mais atraente e compatível com as necessidades e desafios da nossa sociedade?

As políticas públicas associadas ao ensino, apesar das inúmeras reformas e mudanças institucionais observadas nas últimas décadas, não conseguiram alterar substancialmente esse quadro. Pode-se mesmo afirmar que muitas das modificações introduzidas nos últimos anos não chegaram à sala de aula. Apesar deste quadro de crise, o governo federal não tem uma proposta organizada para a reforma, tendo concentrado seus investimentos mais recentes em cursos profissionalizantes, que embora eventualmente relevantes em termos de acesso ao mercado de trabalho, são oferecidos de modo totalmente desarticulado da escola formal. A crise do ensino médio continua a desafiar governos, gestores e professores, frustrando assim novas oportunidades de formação mais conectadas às aspirações da maioria dos jovens.

As reformas dos últimos anos não resultaram em mudanças significativas nos currículos dos sistemas estaduais, que continuaram seguindo a tradição. Apesar da expansão da matrícula do ensino médio entre 1999 e 2005, a estrutura do sistema permaneceu presa ao ocorrido. E, se no passado recente os vestibulares descentralizados eram a grande referência do currículo do ensino médio, após 2009 passamos a conviver com o Enem como a principal referência do sistema. Além de ter se transformado em vestibular nacional e selecionar estudantes para o ingresso no ensino superior, o Enem transformou-se em requisito obrigatório a inúmeros programas federais de financiamento ao estudante. No atual modelo, torna-se praticamente impossível pensar em percursos escolares alternativos ou num sistema mais diversificado e flexível que atenda as diferentes demandas e aspirações dos jovens.

O atual debate retoma o velho dilema sobre a finalidade do ensino médio. Teremos coragem para mudar o atual modelo e único, engessado para todos os jovens brasileiros, independente de suas escolhas, vocações ou áreas de interesse? Será que tudo o que se pretende ensinar é de fato necessário para todos? Que áreas do currículo devem ser aprofundadas? Quais conteúdos e conhecimentos devem compor a base comum? O sistema deve ser diversificado e flexível? E como deve ser a sua arquitetura para dar conta de diferentes percursos escolares, expectativas e projetos de vida dos jovens? Quão variados devem ser os graus de flexibilidade?

Numa sociedade do conhecimento, com graus de complexidade crescente, a preparação de todos os cidadãos para o mundo da vida e do trabalho requer o domínio de competências e habilidades de leitura, escrita, capacidade de resolver problemas e de entender o mundo que os cerca. Habilidades que, por certo, apenas uma minoria de jovens brasileiros obtém ao chegar à idade adulta.

Além de avançar na solução dos nossos dramáticos problemas de gestão escolar, a reflexão sobre que rumo dar ao ensino médio deve enfrentar dois temas principais: o desenho do currículo articulado à definição de expectativas de aprendizagem que propiciem o domínio de competências gerais; e, o redesenho da arquitetura do sistema, na medida em que a flexibilização e diversificação continuam como aspectos centrais da agenda na educação contemporânea.

Em resumo, o debate sobre a nova reforma do ensino médio deverá considerar mudanças relacionadas ao desenho do currículo e à sua estrutura organizacional. É fundamental estimular um debate sério sobre a efetiva flexibilização do currículo, com ênfases ou graus de dificuldade diferenciados nas áreas de preferência dos estudantes, desde que assegurada à aprendizagem dos conhecimentos e competências gerais para todos. Participarei de um debate no GEduc 2014 para discutir alternativas organizacionais diversificadas que permitam combinar a formação geral para todos com áreas de interesse dos alunos, tanto nos cursos de preparação acadêmica ao ensino superior quanto nas opções de educação profissional, sem prejuízo de escolhas futuras. E, qualquer que seja o rumo da reforma, é fundamental ouvir a sociedade organizada e, sobretudo, os jovens, em geral ausentes dos debates educacionais que lhes afetam diretamente.


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