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Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.

A Socialização do Fracasso
Wanda Camargo

Foto de borboleta


A socialização do fracasso acontece sempre que qualquer tentativa de fazer algo melhor do que o mínimo passa a representar uma ofensa mortal a quem se satisfaz com o ínfimo e afirma que nada mais pode ser feito. O teólogo São Tomás de Aquino, um dos grandes pensadores do Cristianismo, afirmou que “se a meta principal de um capitão fosse a preservação de seu barco, ele jamais sairia do porto”. Isso se aplica a praticamente todas as atividades humanas. Vemos com frequência atitudes timoratas serem tomadas em empresas, escolas, famílias, governos, e que buscam apenas uma segurança enganosa.

A manutenção do status quo, o medo do risco, a recusa à exposição daquele que deveria estar na linha de frente, que parte do princípio de que quem não realiza não erra, mas também não acerta, esconde um confortável limbo de mediocridade. O Ministério da Educação está, com justiça, preocupado com a enorme quantidade de jovens entre 15 e 17 anos que ainda estão no ensino fundamental: “Segundo o MEC, o programa está mapeando onde estão os estudantes atrasados. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica da ONG Todos Pela Educação, os 2,6 milhões de alunos de 15 a 17 anos que ainda estavam em 2011 no ensino fundamental representam 25,5% do total de jovens nessa faixa etária. A maior parte, 52%, estava no ensino médio e o restante havia abandonado a escola” (fonte: Agência Estado).

Para enfrentar o problema, sério e merecedor de atenção, criou o Programa Nacional de Adequação de Idade/Ano Escolar, com o objetivo de “acelerar” a educação desses jovens e possibilitar que eles acessem o ensino médio. A proposta tem grandes méritos, inclui qualificação especial de professores para escolas de ensino fundamental que tenham muitos estudantes com distorção idade/série, a produção de materiais didáticos específicos e eventual ampliação de jornada escolar para uma modalidade de ensino integral e profissionalizante.

Onde os planos pecam é na ideia de “induzir a produção de uma proposta curricular específica para os jovens acessarem o ensino médio”. Infelizmente, são muitos os exemplos de redução de expectativas em avaliação, quando convém a quem avalia apresentar resultados meramente quantitativos. Educação é dever do Estado, essencial que siga sendo o caminho para a melhoria de vida e perspectivas futuras da população - e isso não será atingido reduzindo as esperanças em relação ao educando desperiodizado.

Esta defasagem é devida a muitos motivos, entre eles, possivelmente a situação financeira da família, a necessidade da inserção precoce no mercado de trabalho, o desestímulo pelas funções intelectuais, o legado cultural deficiente que não favorece a integração na comunidade escolar. Produzir novos currículos com a finalidade única de promoção, reduzindo as exigências, leva o aluno ao período correto, mas ainda carente de conhecimentos, claudicante no processo educacional. Inflar estatísticas, sem suprir lacunas de formação, gerará diplomados sem conhecimento, trabalhadores sem cidadania, mantenedores de um velho país que todos conhecemos.


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