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Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Tiros em Columbine
Tragédias que poderiam ser evitadas...

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Discussões recentes em nosso país mobilizaram o Congresso e agilizaram a aprovação de leis que restringem fortemente a venda e o uso de armas. O raciocínio das pessoas que defendem esse posicionamento é muito claro quanto à necessidade de diminuir a quantidade de revólveres e congêneres nas mãos de pessoas que não estão preparadas e que não sabem ao certo o que fazer com um desses armamentos em suas mãos:- podem ser evitadas mortes acidentais assim como a possibilidade dessas armas passarem para o domínio de marginais e acabarem sendo utilizadas contra a própria sociedade civil.

Além da mobilização em favor de novas leis, no Brasil são feitas todos os anos várias campanhas em favor do desarmamento. Invariavelmente essas campanhas acabam recolhendo uma enorme quantidade de armas de fogo que são destruídas em atos públicos e depois veiculadas pelos órgãos noticiosos para referendar e afirmar essa política contra o armamentismo.

A própria polícia, em suas várias incursões por morros, favelas e bairros periféricos das grandes cidades tem apreendido regularmente muitos “berros” (jargão policial para armas de fogo) e realizado sua destruição.

Há, sem dúvida alguma, setores da sociedade brasileira que remam contra a maré e tentam manter as regras que prevaleciam até bem recentemente e davam maior autonomia e liberdade de ação aos compradores e usuários de armas de fogo. Trata-se inclusive de um lobby poderoso comandado pelos fabricantes e por revendedores de armamentos.

Devemos inclusive lembrar que os setores que tentam manter a sociedade civil armada argumentam que os bandidos estão cada vez mais equipados, a polícia não consegue acompanhar o nível dos recursos obtidos pelos marginais (metralhadoras, bazucas, granadas, minas terrestres,...), e que, conseqüentemente, os cidadãos devem estar preparados para as eventualidades...

Felizmente para o Brasil, apesar de todos os seus recursos, está imperando a luta pelo desarmamento, por um país menos violento (ainda falta muito...).

Se no Brasil os movimentos pró-desarmamento estão em vantagem, nos Estados Unidos à queda de braço está sendo vencida pelos setores que se articulam em favor da livre venda de armas de fogo. Mesmo tendo vivido tragédias recentes que dificilmente serão esquecidas pela população norte-americana, entidades representativas dos interesses desses grupos associadas a indústrias de armas de fogo e distribuidores (atacado e varejo) têm impedido o avanço de leis ou práticas que diminuam o comércio de revólveres, rifles, metralhadoras e outros equipamentos do setor.

O que mais tem abalado a sociedade americana é a percepção de que essas armas estão cada vez mais próximas de adolescentes e crianças e que, em virtude disso, são mais freqüentes e comuns casos como aquele que ocorreu em Littletown, no estado americano do Colorado, na escola Columbine (uma High School, equivalente ao nosso Ensino Médio). O documentarista Michael Moore criou um filme que vai ao âmago da questão e coloca em xeque o posicionamento e as ações dos defensores da indústria armamentista. Não percam!

O Filme

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Imagine, o que a princípio pode parecer totalmente absurdo, mas que é absolutamente real, um banco que para aumentar a quantidade de correntistas e estimular o uso de seus serviços se compromete a dar para seus novos clientes uma arma de fogo em troca de depósitos e investimentos regulares. O banco em questão existe e a inusitada situação foi filmada e gravada em um documentário que consegue, ao mesmo tempo, ser hilário e tratar de um tema para lá de grave, o armamentismo como uma chaga da sociedade norte-americana.

Michael Moore (talentoso produtor e realizador cinematográfico e televisivo) começa seu filme “Tiros em Columbine” colocando o espectador em transe ao deslocá-lo para esse banco. Continua ao longo de todo o período de projeção mostrando outras situações embaraçosas e intrigantes como a realização de reuniões da poderosa Associação Americana do Rifle, presidida pelo astro do cinema americano Charlton Heston (“Ben Hur”, “Os Dez Mandamentos”), sendo realizadas em cidades que haviam vivido tragédias recentes motivadas pelo uso indevido de armas por crianças e adolescentes.

Com seu humor ácido, Moore desafia a mídia e os defensores do livre comércio de armas ao nos mostrar a tristeza e a amargura de familiares e amigos de jovens que tiveram sua vida encerrada precocemente pela apologia da liberdade que permite a qualquer um entrar numa loja de departamentos e comprar armas e munição sem maiores problemas.

Nesse desafio, o cineasta (com o apoio de dois jovens sobreviventes da chacina de Columbine) consegue inclusive fazer com que uma das maiores redes varejistas americanas (a K-Mart) deixe de vender armas e munições em suas lojas, espalhadas por todo o território americano. Um verdadeiro feito!

Moore mostra a história do armamentismo americano em um divertido desenho animado inserido no documentário, entrevista o pai de um dos terroristas que explodiu um prédio público em Oklahoma, visita feiras e exposições de armas, nos coloca em contato com milícias armadas e deixa para o final o clímax com uma entrevista para lá de surpreendente com Charlton Heston. Imperdível! (“Tiros em Columbine” ganhou o Oscar de melhor documentário).

Aos Professores

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1- É possível suplantar a violência sem armas nas mãos da sociedade civil? Quais os registros da história que relatam a vitória de pacifistas, homens que sem pegar em armas conseguiram mudar os rumos e a vida de milhares? Que tal relembrar Gandhi e Martin Luther King e, através de suas histórias de vida tentar mostrar aos alunos que a lógica do “olho por olho, dente por dente” (Lei de Talião, do Código de Hamurabi, vigente na antiga Mesopotâmia) somente alimenta a violência ao invés de extingui-la? Procure outros exemplos e faça leituras que consigam definir a contra-maré do armamentismo, o pacifismo.

2- Estimule os estudantes a fazer uma avaliação das leis de nosso país quanto à venda e utilização de armas. Peça a eles que façam pesquisas na própria escola e na comunidade que lhes permitam perceber a opinião pública quanto a esse assunto. Façam tabelas, gráficos e apresentem as estatísticas obtidas a partir dessa pesquisa em painéis. Usem a matemática como meio eficiente para a visualização dos posicionamentos assumidos pela comunidade onde vivem quanto a esse assunto.

3- De que forma a mídia estimula a violência? O cinema pode motivar um adolescente a atirar em seus colegas de escola? As novelas de algum modo incitam os espectadores a comportamentos agressivos ou desonestos? Qual a responsabilidade da imprensa quanto ao crescimento dos índices de crimes cometidos em um país? Que tal propor um estudo do assunto a seus alunos. Leve textos de revistas e jornais, indique artigos da internet, selecione material de bibliografia especializada e peça a seus alunos que criem um jornal ou uma campanha a favor de uma mídia mais responsável e de espectadores mais atentos e críticos...

4- Que tal descobrir como é o trabalho dos policiais? Outra boa pedida pode ser analisar o funcionamento do poder judiciário. Promova projetos em que os alunos acompanhem o dia-a-dia das autoridades que regulam a justiça. O objetivo deve ser entender as atribuições, perceber a evolução, reconhecer as vitórias e identificar os problemas desse setor. Ao final, deve-se tentar explicar e escrever sobre o assunto a luz do conceito de justiça.

Ficha Técnica

Tiros em Columbine
(Bowling for Columbine)

País/Ano de produção: EUA, 2002
Duração/Gênero: 120 min., Documentário
Direção de Michael Moore
Roteiro de Michael Moore
Elenco: Michael Moore, Charlton Heston, Denise Ames,
Marilyn Manson, Matt Stone, Barry Galsser, John Nichols.

Links

- http://www.adorocinema.com.br/filmes/bowling-for-columbine/bowling-for-columbine.asp
-http://www.cinemaemcena.com.br/Critica_Detalhe.aspx?id_critica=3445&id_tipo_critica=1
- http://www.bowlingforcolumbine.com (site oficial)

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