Ao
pensarmos em qualquer atividade que o foco seja o aprendizado, temos
que pensar em desejo. Um desejo provocado e aguçado.
Como nos diz Rubem Alves, o pensamento só entra em
ação quando é estimulado pelo desejo,
e o prazer pela leitura não é diferente.
Como já dizia Bartolomeu Campos de Queirós:
“Você precisa ter o hábito da leitura
para ter o hálito da leitura.”
Ler é um hábito a ser desenvolvido, com o apoio
de pais e educadores.
Para desenvolver este hábito, é preciso ter em
mente que as chamadas gerações Y e Z querem ser
desafiadas a buscar mais, conhecer mais, ensinar mais e principalmente,
compartilhar mais, consequentemente nos ensinando mais.
Por isso, sou incentivadora das discussões levantadas no
“depois da leitura” em que não
existe o certo e o errado. Cada qual interpreta uma obra como entendeu
e parte para as colocações de
interação.
Sou fã do escritor inglês Aidan Chambers que,
entre seus livros, o DIME se destaca.
O tema abordado reflete na formação de leitores,
na qual são apontados quatro modos de fala
resultantes do ato de ler e que serve de incentivo à leitura.
Falar para si, para o outro, falar juntos e, consequentemente, falar do
novo são maneiras de falar que convidam a pensar juntos,
pensar com o outro fundamentado em um conhecimento, respeitando
às colocações, levantando
questões após serem bem pensadas e assim
consequentemente bem elaboradas.
A partir daí, cria-se então uma nova
interpretação e por fim uma nova escrita. Algo de
novo surge após a troca de ideias. Isso se diferencia de
grupo para grupo e de tempo para tempo.
Um pensar representativo, comungado a um agir significativo,
resultando, portanto em um fazer interativo.
Antigamente, tínhamos os grupos de leitura.
Nos dias de hoje, com a internet ao alcance de todos, os
fóruns literários são grandes
disseminadores do prazer pela leitura.
Quantos livros não nasceram após
discussões em fóruns e quantos não se
tornaram bestsellers através dos mesmos?
Eu comecei a escrever inspirada por outros autores.
Quando rabisquei os poemas do meu primeiro livro, aos 11 anos, estava
colocando no papel sentimentos que em palavras não conseguia
expor, era um desabafo literário...
Ao ler Os Lusíadas, de Camões, pensei:
“Nossa, como ele escreve difícil!”. Eu
gostaria de escrever difícil assim também.
Conforme as palavras que eu sentia e conhecia iam surgindo em minha
mente, eu procurava sinônimos no dicionário que
fossem pouco conhecidos para deixar o texto mais complexo e aumentar o
repertório léxico do leitor.
E foi com este pensamento que escrevi
“Lições de Vida” na
adolescência. Claro que não me tornei nenhum
Camões, mas ele me inspirou a ser melhor.
Já o meu livro mais recente, O Pote Mágico,
nasceu ao assistir a uma entrevista com Mia Couto.
Quando ele foi perguntado se sentia saudade de seus personagens,
pensei: “Vou escrever uma história em que eu sinta
saudade dos meus personagens.”.
Para mim, pensar na educação não
é pensar na formação, mas sim pensar
na interação.
Márcia
Pitta é
educadora
e escritora. Autora dos livros Pedaços de Mim,
Lição de Vida, Curta e Vida e o Pote
Mágico, os dois últimos publicados pelo selo
Novos Talentos da Literatura Brasileira da Novo Século
Editora.