A Semana - Opiniões
3/5/2004 - O dinheiro que vai para o ralo...
Quanto custa a corrupção para os brasileiros
(www.novomilenio.inf.br/voto/votox.htm)
Na semana passada a revista Veja (edição 1851, de 28 de Abril de 2004) publicou uma série de dados estarrecedores acerca da corrupção nos municípios brasileiros. Calcula-se que aproximadamente 20% do montante captado pelas prefeituras a partir de impostos diretos ou repasses do governo federal sejam desviados para o caixa dois de prefeitos, vereadores, fornecedores e atravessadores relacionados aos negócios fechados pelas cidades brasileiras.
Isso significa, na prática, que mais de 20 bilhões de reais que poderiam ser aplicados em habitação, saúde, saneamento básico, ampliação da rede de água, transporte, crédito para a produção rural ou comercial e, principalmente para a educação, acabam engordando o patrimônio de pessoas que foram eleitas pelo voto popular para administrar com seriedade, responsabilidade e honestidade tais recursos...
E o pior de tudo é constatar que quanto menos se aplica na melhoria da qualidade da educação em nosso país, maior a possibilidade de políticos desonestos continuarem a frente dessas prefeituras. O raciocínio é extremamente simples, quanto menos esclarecida de seus direitos ou mais despreparada para entender a realidade em que se insere for a população, maior é a possibilidade de um prefeito como esses (que sangram os cofres públicos em benefício próprio) consigam se reeleger ou ainda, de outros crápulas de igual ou pior condição ascenderem ao poder.
(X) – Você está aqui – Siga a trilha do dinheiro (que vai para o conselho municipal ou Câmara de Vereadores e depois para detrás das cortinas).
“Não prestem atenção aos homens atrás da cortina” (lobistas, consultores, empreiteiros)
Passarinho – Não é à toa que eles dizem que não há dinheiro para a educação, para os bombeiros, polícia, parques, bibliotecas ou para as artes!
(www.unicom.com/retired/max/index_about_town.html)
Uma das maiores virtudes da democracia reside na chance que temos de mandar para casa ou para a cadeia pessoas de tal quilate. O impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello foi uma das mais importantes realizações da democracia em nosso país. O poder passou a ser percebido como ferramenta disponível ao brasileiro simples, do povo, capaz de pressionar as autoridades dando seu grito nas ruas, demonstrando sua insatisfação em altos brados, pintando no rosto as cores do país e demonstrando seu descontentamento com desmandos e desvios que prejudicam milhões de pessoas.
Na mesma semana em que éramos informados através da mídia do montante desviado pelas prefeituras, o presidente da República discutia o valor do novo salário mínimo e, depois de tantas encenações e reuniões definia esse valor na casa dos R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais). De acordo com os principais institutos de pesquisa (como o Dieese, a Fundação Getúlio Vargas,...) o mínimo deveria ser equivalente a R$ 1.440,00 (mil quatrocentos e quarenta reais), ou seja, quase 6 (seis) vezes mais alto que o montante referendado pela equipe econômica do governo petista.
(www-ni.elnuevodiario.com.ni/archivo/2003/junio/22-junio-2003/alacran/alacran11.html)
Se calcularmos que os 20 bilhões de reais desviados pelas prefeituras brasileiras poderiam pagar o equivalente à quase 77 milhões de salários mínimos por ano (a R$ 260,00 por mês) ou o equivalente a 6,5 milhões de salários mínimos por mês, acredito que conseguiríamos diminuir a penúria passada por milhões de famílias pobres de nosso país.
Se pensarmos que o preço médio de uma casa popular em nosso país não ultrapassa os R$ 20.000,00 reais por unidade, poderíamos construir 1 milhão de casas populares em nosso país e, de certa forma, num curto período de tempo, resolver o problema habitacional do Brasil.
Se imaginarmos que o custo médio mensal de um estudante em escolas particulares qualificadas no estado de São Paulo varia numa faixa que vai de R$ 300,00 a R$ 700,00 e estipularmos o valor médio de R$ 500,00 por mês como padrão para uma educação qualificada, capaz de preparar o estudante para os concorridos vestibulares ou para entrar nas melhores escolas técnicas e posteriormente ingressar no mercado de trabalho, os 20 bilhões desviados pelas prefeituras poderiam pagar a escola de mais de 3 milhões e 300 mil crianças e adolescentes de nosso país (ou financiar uma escola municipal/estadual tão qualificada quanto as melhores da rede privada).
Se considerarmos que os restaurantes populares surgidos em algumas das maiores cidades de nosso país vendem refeições ao inimaginável valor de R$ 1,00 (um real), o dinheiro que abastece contas bancárias na Suíça, nas Ilhas Cayman ou Jersey seriam suficientes para pagar a conta da refeição de 20 bilhões de brasileiros por ano, ou mais de 1 bilhão e seiscentos milhões de refeições por mês. Não precisaríamos mais do Fome Zero...
Mais computadores, melhores bibliotecas e transporte escolar qualificado poderiam ser obtidos
com parte do dinheiro que vai para o ralo da corrupção no Brasil...
Nas escolas esse montante poderia financiar:-
- A compra de mais de 14 milhões de computadores em configuração básica (ao preço médio, de mercado, de aproximadamente R$ 1.400,00).
- A aquisição de mais de 500 milhões de livros didáticos, paradidáticos ou técnicos para as bibliotecas (calculando-se o valor médio dos mesmos em R$ 40,00).
- O pagamento de transporte escolar para 25 bilhões de viagens de ônibus (com o custo médio de R$ 0,80 – valor padrão cobrado de estudantes em São José dos Campos, SP).
- A compra de mais de 20 bilhões de litros de leite por ano para incorporar a merenda das escolas (imaginando-se o litro de leite custando por volta de R$ 1,00).
- O aumento do salário dos professores, a reforma de carteiras e demais móveis escolares, a construção de quadras de esporte, a ampliação dos laboratórios, a instalação de internet,... E muito mais coisas (tantas outras) poderiam ser feitas pela educação com esse dinheiro!
O que fazer quanto a corrupção?
Leia as reportagens a respeito da corrupção. Destaque-as das revistas, jornais ou imprima da internet. Discuta com seus alunos em aula. Peça a eles que falem sobre o assunto com os pais, amigos ou parentes.
Inicie campanhas de esclarecimento. Memorize o nome dos políticos que foram condenados pela justiça e informe os demais membros de sua comunidade para não votarem nos mesmos.
Exerça o seu direito de cidadão e cobre do parlamentar (deputados, senadores, vereadores) que se elegeu com seu voto as devidas providências para efetivar a cassação de mandatos de políticos corruptos ou a abertura de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito para investigar os desvios).
Peça prestação de contas mensal da prefeitura da cidade onde mora.
E, principalmente, vote de forma consciente nas próximas eleições para que a corrupção diminua sensivelmente em nosso país e nossas vidas possam melhorar...