Cinema na Educação
Billy Elliot
Quando o Ballet supera o Boxe
Tolerância é uma das palavras mais importantes daquilo que conhecemos como mundo contemporâneo. Dizia o pensador francês Voltaire que podia até não concordar com as idéias e posicionamentos assumidos por outras pessoas, se prontificava, no entanto, a defender o direito de toda e qualquer pessoa expressar livremente seus pensamentos, suas opiniões, sua ideologia (mesmo aquelas com as quais não concordava).
Num mundo em que os profetas das guerras as anunciam como justas e que, no entanto, a população percebe-as como injustas e resultantes da dificuldade de entender o outro, de compreender valores, hábitos, orientações e uma organização sócio-econômica e política diversificada, prevalece o contrário daquilo que defendiam os iluministas franceses (entre os quais Voltaire). Vivemos sob o domínio da intolerância.
E aquilo que chamamos de intolerância não é visto apenas através das câmeras de televisão, em continentes distantes ou países de paisagem árida e seca. Percebemos que a prática de não aceitar ou não entender propositadamente outras pessoas acontece ao nosso redor, em nossos cotidianos e, mesmo, em nossas próprias casas, escolas, ambientes de trabalho, academias atléticas,...
A história tem registrado perseguições a minorias (como os cristãos na Roma Imperial), caça às bruxas e a todos aqueles que discordassem da visão religiosa dominante (a inquisição durante a Idade Média), violências praticadas pelas potências imperiais (os romanos expulsaram os judeus da Ásia Menor; os ingleses dominaram a ferro e fogo povos dos continentes africano e asiático entre os séculos XIX e XX) e muitas outras atrocidades. Motivadas por interesses econômicos e, também, pela intolerância.
Mas, e o que nós fazemos em nosso dia-a-dia? E os pequenos atos que denotam a incapacidade de compreender as diferenças, de dar espaço para outras formas de pensar, agir e viver? Ao redor do globo observamos atitudes ofensivas em relação aos mulçumanos em virtude dos atentados terroristas de 11 de Setembro. Muitas pessoas passaram a agir de forma insana, irracional, assumindo que todo e qualquer devoto do Corão era um terrorista e um inimigo potencial!
Fugindo
dos grandes acontecimentos, quantas vezes não nos deparamos
com atitudes que denotam preconceito em relação
a outras pessoas por não professarem a mesma religião,
pelo fato de terem feito opções sexuais diferenciadas
ou mesmo por torcerem para outro time de futebol? Quantos
entre nós não torcemos o nariz ao pensarmos
na hipótese de que um filho venha a fazer ballet ou
que nossa garotinha se torne uma halterofilista?
"Billy Elliot" nos confronta com uma situação
do cotidiano em que prevalece a intolerância. Trata-se
de um filme sensível e tocante, digno de ser visto
e, que nos move a discussões sinceras acerca desse
tema tão importante e constante, a busca de tolerância
em nossa sociedade.
A História
A academia de boxe que funciona num ginásio de um bairro proletário de uma pequena cidade da Inglaterra recebeu uma nova e indesejada clientela, as aulas de ballet da professora Wilkinson (Julie Walters, um talento reconhecido na Inglaterra que tem ganho espaço no exterior). Todos os garotos que participavam das lutas ficaram nitidamente aborrecidos com a nova situação, entre eles, Billy Elliot (Jamie Bell, estreando no cinema com uma atuação de gala).
O passar de algum tempo veio revelar a Billy que a convivência com o Ballet era mais do que agradável, tornava-se mesmo, irresistível. Os passos de dança combinados com a música clássica passaram a compor uma alternativa muito mais sedutora aos olhos de Billy do que os golpes desferidos por ele contra seus oponentes no ringue de boxe (atividade para a qual, diga-se de passagem, ele não parecia ter muita habilidade).
O problema que se segue surge da resistência da família, particularmente de seu pai (Jamie Draven), em aceitar a idéia de que seu filho se tornasse um bailarino. Numa comunidade onde prevalece a idéia de que o homem se afirma a partir de sua força e virilidade (que poderiam ser demonstradas numa luta de boxe), a possibilidade de se tornar bailarino parecia encaminhar a pessoa na direção contrária, numa afirmação de feminilidade exacerbada ou mesmo de homossexualismo (muitas pessoas parecem crer que todo e qualquer bailarino opta por tendências homossexuais ao assumir a escolha pela dança, como se isso fosse uma regra).
O talento reconhecido pela professora e a mentalidade intolerante e opressora reinantes na região onde Billy vive se chocam, numa história emocionante e que parece acontecer muitas vezes, ao redor do mundo, talvez mesmo, muito perto de você...
Obs. O filme foi o grande vencedor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e foi indicado a 3 categorias do Oscar (Melhor roteiro adaptado, melhor diretor para Stephen Daldry e melhor atriz coadjuvante para Julie Walters).
Aos professores
1- Faça um levantamento junto a seus alunos a respeito das palavras Tolerância e Intolerância. Pergunte a eles o que sabem sobre essas palavras. Procure, a princípio, explorar o que eles sabem sem que utilizem dicionários ou qualquer outra fonte de consulta e pesquisa. Peça a eles que relacionem os conceitos produzidos a exemplos do cotidiano ou a notícias veiculadas na mídia.
2- Passe o filme "Billy Elliot" para as turmas com as quais estiver trabalhando os conceitos de Tolerância e Intolerância. Pergunte a eles como reagiriam se fossem Billy Elliot. Questione-os a respeito das atitudes do pai e da comunidade local (o que os leva a atitudes como as apresentadas no filme? Podemos chamar o comportamento dessas pessoas de intolerante? Se vocês estivessem vivendo em contextos semelhantes aos daquela comunidade, como reagiriam? Seria possível que agissem de outra forma? Crie outras questões, explore a história e as imagens).
3- Faça um levantamento junto aos professores de literatura e artes a respeito de obras que denotam o sentimento de Tolerância e Intolerância. Discutam as obras com os alunos depois da leitura das mesmas. Tentem relacionar com o filme, com o cotidiano e/ou com a história.
4- Peça aos alunos que criem relatos, baseados em fatos reais vividos por eles ou por pessoas conhecidas deles, em que sejam apresentadas situações de intolerância relacionadas a questões como religião, opções sexuais, cultura, raça,... Utilize os materiais obtidos para promover debates com as outras salas ou mesmo com a comunidade!
Ficha Técnica
Billy Elliot
(Billy Elliot)
País/Ano de produção:-
Grã-Bretanha, 2000
Duração/Gênero:- 110
min., Drama/Musical
Disponível em VHS e DVD
Direção de Stephen Daldry
Roteiro de Lee Hall
Elenco:- Julie Walters, Jamie Bell, Jamie
Draven,
Jean Heywood, Gary Lewis, Stuart Wells, Mike Elliot.
Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/billy-elliot/billy-elliot.htm
- http://us.imdb.com/Title?0249462 (em inglês)
- http://www.rottentomatoes.com/m/BillyElliot-1100994/ (em inglês)
- http://www.cineinsite.com.br/filme/filme-fichatecnica.php?id_filme=948