Planeta Educação

De Olho na História

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Hiroshima e Nagasaki em chamas
O batismo de fogo da Bomba Atômica

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Fugindo da intensa perseguição desferida pelos nazistas aos judeus, os cientistas Albert Einstein, Leo Szilard e Eugene Wigner desembarcam nos Estados Unidos em agosto de 1939. Levam consigo o temor de que a Alemanha hitlerista esteja se preparando para a produção de um armamento que pode fazer com que aquele país ganhe qualquer guerra futura e submeta a seu poder todas as demais nações do planeta, a bomba atômica.

O que até aquela década de 1930 era apenas obra de escritores de ficção como H. G. Wells, estava prestes a se tornar realidade pelas mãos dos cientistas de um dos mais odiosos e racistas sistemas políticos criados pela humanidade até aquele momento. O nazismo pretendia consolidar sua supremacia conquistando, a partir de setembro daquele mesmo ano de 1939, o continente europeu e, com o apoio de tal armamento, colocando a seus pés as nações de outros continentes.

O arianismo (tese defendida pelos nazistas que estipulava a superioridade racial dos arianos sobre os demais grupamentos humanos como os negros, os asiáticos e todos os grupos étnicos resultantes de algum tipo de miscigenação racial) podia firmar-se como discurso dominante mundo afora se a pesquisa científica alemã consolidasse essa descoberta.

Preocupado com a denúncia dos notáveis cientistas alemães que haviam se refugiado nos Estados Unidos, o presidente Franklin Delano Roosevelt guardou a informação da forma mais secreta possível até o momento em que se fez necessária à entrada e participação de seu país na 2ª Guerra Mundial, a partir de dezembro de 1941, após o bombardeio japonês a base naval de Pearl Harbor, no Havaí.

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O ataque japonês a Pearl Harbor levou os Estados Unidos
a declarar guerra as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão)

Até o final de 1941 a 2ª Guerra Mundial registrava o avanço das forças do Eixo, compostas pela tríade formada pela Alemanha nazista, pela Itália fascista (sob o comando de Benito Mussolini) e pelo Japão expansionista, querendo consolidar um verdadeiro império do sol nascente na Ásia. Os rumos da guerra estavam, porém, a ponto de mudar com o ataque japonês aos norte-americanos e com a invasão da União Soviética, também em 1941 (alguns meses antes), pelas tropas de Hitler, necessitadas de petróleo, carvão e trigo para abastecer seus esforços de guerra.

Ao entrar na guerra ciente da pesquisa que poderia (ou deveria) estar sendo desenvolvida pelos alemães na busca dos armamentos atômicos, Roosevelt criou o Projeto Manhattan, liderado por Robert Oppenheimer e pelo general Leslie Groves (história recriada pelo cinema no filme “O Início do Fim”, do premiado cineasta Rolland Joffé e estrelado por Paul Newman).

Levantou-se no deserto uma imensa estrutura através da qual os maiores e mais respeitados cientistas, pesquisadores e técnicos em física e química (como Leo Szilard, David Bohm, Niels Bohr, Eugene Wigner, Otto Frisch, entre outros) ficaram isolados do mundo, foram escondidos da mídia e estavam sob a coordenação e proteção das forças armadas norte-americanas.

Durante um período aproximado de pouco mais de dois anos todos esses cientistas se debruçaram sobre o problema e conseguiram realizar uma verdadeira proeza ao criar uma tecnologia inteiramente nova, sem qualquer base material desenvolvida anteriormente, que até então era apenas fruto da imaginação de escritores ou de teorias que não haviam saído do papel.

Quando a bomba ficou pronta, perto do final do primeiro semestre de 1945, com os testes decisivos sendo realizados no deserto do Novo México, a Alemanha e a Itália já haviam sido derrotadas na guerra travada na Europa. Os nazistas e os fascistas já eram parte de um passado tenebroso e se aprontava o cenário para o julgamento dos principais líderes de um dos maiores genocídios já praticados na história da humanidade (o Julgamento de Nuremberg).

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A Conferência de Yalta reuniu os líderes dos Aliados que haviam vencido a 2ª Guerra Mundial,
Churchill da Inglaterra, Roosevelt dos Estados Unidos e Stálin da União Soviética.

A informação veiculada de que a bomba estava sendo construída pelos cientistas de Hitler era falsa, mas o Projeto Manhattan realmente existira e concluíra com êxito o seu objetivo. O horizonte ainda colocava os japoneses no front de combate dos americanos. Olhando mais para frente, de olho num futuro previsto nas Conferências (Teerã, Potsdam e Yalta) que reuniram os principais líderes das nações que lideraram a vitória contra o nazi-fascismo (Churchill pela Inglaterra, Stálin pela União Soviética e Roosevelt pelos Estados Unidos, posteriormente substituído por Wilson), os norte-americanos visualizavam os soviéticos como seus principais oponentes na disputa pela liderança mundial.

O lançamento das bombas atômicas em 6 e 9 de agosto de 1945 sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, serviu para sacramentar a vitória dos Estados Unidos no Pacífico e para, de certa forma, firmar a supremacia dos norte-americanos na nova ordem internacional (a mensagem parecia claramente destinada aos russos).

Para os japoneses, por outro lado, parecia que o céu havia caído em cima de suas cabeças. As descrições das pessoas que sobreviveram e puderam visualizar a catástrofe dão conta de pessoas com a pele em tiras, com as vísceras saltando para fora das barrigas, corpos pegando fogo, pessoas desesperadas carregando corpos inertes e totalmente deformados, queimaduras de diferentes graus, a destruição de mais de 80 % das construções das duas cidades e, em virtude da radiação, um enorme contingente de pessoas com câncer que não sobreviveriam mais que cinco anos depois do lançamento das bombas.

Era difícil para os japoneses entender como uma única bomba lançada sobre cada cidade poderia causar tanta e tamanha destruição. No epicentro, o local onde as bombas teriam explodido se tivessem tocado no chão das duas cidades as pessoas que ali estavam simplesmente desapareceram (evaporaram, viraram pó). Além disso, depois das explosões ocorreu a tristemente célebre chuva negra, com seus pingos escuros e ácidos em decorrência da mistura dos elementos da bomba com a precipitação por ela provocada.

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O lançamento das bombas sobre Hiroshima e Nagasaki provocou enorme devastação sobre as duas cidades,
mais de 80% das construções foram destruídas e cerca de 200 mil pessoas morreram.

As bombas não haviam nem tocado no solo japonês, entretanto causaram mais destruição que todas as outras bombas lançadas pelos inimigos do Japão durante toda a guerra. Duas bombas, apelidadas inocentemente pelos norte-americanos como Fat Man e Little Boy (Homem Gordo e Menininho), causaram a morte de mais de 200 mil japoneses nas duas cidades.

O Cogumelo atômico provocado pelas explosões assustou até mesmo os pilotos americanos responsáveis pelo lançamento das bombas. A partir de então o mundo nunca mais seria o mesmo...

Em 1949, apenas quatro anos depois das bombas jogadas sobre o Japão, os soviéticos divulgavam para o resto do mundo que também dominavam a tecnologia atômica. Iniciava-se uma nova guerra, travada de forma calculista, como num jogo de xadrez, tendo como oponentes, diante do tabuleiro mundial, os Estados Unidos e a União Soviética e a defesa ardorosa de seus sistemas ou modos de produção, o capitalismo e o socialismo, respectivamente. Era a Guerra Fria...

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