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Drogas – Tratamento e Consentimento
Wanda Camargo

Foto de Wanda Camargo, autora do artigo.Assistimos um pouco indiferentes ao início de uma grande discussão brasileira sobre a pertinência de tratarmos pessoas drogadas nas ruas contra a vontade delas, embora alguns poucos psicólogos, sociólogos e educadores se manifestaram com argumentos favoráveis ou absolutamente contra.

A adesão popular ao assunto é restrita, como se tratasse de um problema distante, que não afeta nosso dia a dia, mesmo que a violência, em grande parte advinda das drogas, cresça no nosso entorno.

Talvez uma das maiores frustrações de pais e educadores seja a impossibilidade de auxiliar crianças e adolescentes a ficarem livres das drogas.

Mesmo com a maior boa vontade e interesse, esta é uma atividade difícil, de atuação dos especialistas, pois pressupõe tempo integral, afastamento das demais atribuições e um profundo conhecimento do outro, de suas carências e seus afetos desesperançados.

Assistimos hoje, do ensino fundamental ao superior, a jovens – às vezes crianças – drogando-se e perdendo um futuro, como vimos acontecer com uma menina magrinha que tinha um vozeirão e nenhuma vontade de libertar-se, apesar de ser, possivelmente, ser a maior cantora que surgiu nas últimas décadas, única comparável com honra às grandes cantoras negras do Soul e do Blues.

Há a visão romântica de que artistas de grande talento seriam como velas muito finas com pavios grossos demais, consumidos rapidamente por seu próprio fogo.

Não é totalmente verdade, felizmente a maioria dos grandes artistas vive vidas longas e produtivas.

Alguns, talvez, veem algo que os devore, o paraíso ou o inferno vislumbrado em contraste com a vida cotidiana, como esta menina trôpega e desorientada nos palcos brasileiros; assistimos a sua agonia e pensamos em tantos outros, neste país ou fora dele, que também nos abandonaram cedo demais.

Pensamos em tanta gente e em tanta coisa. Sabíamos qual seria o final e não fizemos nada além de saber; não podíamos, e talvez ninguém pode.

O sucesso traz autossuficiência, sentimento de poder tudo e, à parte, traz enormes interesses financeiros envolvidos. Até mesmo os que lhe eram próximos não conseguiram salvá-la.

Ela mesma afirmava em uma de suas canções mais conhecidas: “They tried to make me go to rehab. But I said ‘no, no, no’” (“tentaram me mandar para a reabilitação, mas eu disse não, não , não”).

Rehab é termo usado para designar clínicas de tratamento de pessoas dependentes de drogas ou com problemas comportamentais, abreviação de rehabilitation, reabilitação.

Esses tratamentos, aparentemente, só podem ter eficácia se contarem com a concordância do paciente, ou seja, se ele tiver consciência de ter um problema e da sua gravidade e quiser tentar resolvê-lo.

Embora não haja garantia de cura ou de não reincidência, constituem-se em grande esperança para muitas pessoas, talvez a única.

Valeria a pena uma discussão mais aprofundada sobre a pertinência (ou não) do início de um processo curativo sem a anuência do paciente, pela especificidade do assunto.

De certa forma, há proximidade com a questão educacional: desintoxicação da ignorância, do medo, geralmente com medicação controlada, acompanhada de reflexão orientada por profissionais sobre o problema, suas causas e consequências e as opções possíveis.

Havia uma menina magrinha, e hoje já está morta, e nesse mesmo momento há milhares de meninos e meninas magrinhos, sem estudo, sem talento, sem sucesso e sem esperança, que morrem lentamente em praças públicas e cracolândias.

A discussão, ao menos, é essencial.

Wanda Camargo é educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.

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