Planeta Educação

Diário de Classe

 

Contribuições da Andragogia para o Ensino Superior
Inge R. F. Suhr

Embora a realidade atual nos empurre a continuar aprendendo no decorrer da vida, ainda há poucos estudos sobre a aprendizagem de adultos.

Uma das linhas que vêm se propondo a considerar a aprendizagem de adultos é a Andragogia.

Segundo Bellan (2005), este termo foi usado pela primeira vez por Kapp em 1833, e desenvolvido por Knowles a partir da década de 60 com objetivos “operacionais”.

Dizer que o termo assumiu ares operacionais significa reconhecer que a preocupação de Kapp não era o desenvolvimento integral da pessoa, mas sim sua formação profissional de acordo com o que era exigido pelas empresas na época.

A andragogia tende, assim, a ter um olhar excessivamente focado no utilitário, no que poderá ser usado por ele de maneira prática, geralmente no local de trabalho ou em um horizonte de tempo muito próximo.

Apesar da crítica ao utilitarismo da andragogia, é preciso reconhecer que ela traz algumas contribuições interessantes no que se refere ao modo de organizar as aulas para adultos.

É preciso, porém, tomar o cuidado de evitar o utilitarismo, pois nem tudo que se aprende no ensino superior tem apenas a formação profissional como horizonte.

E mesmo que fosse, o que não é necessário ou útil hoje pode vir a ser num outro momento da carreira de um profissional.

Tomando como referência o pensamento de Bellan, apresentaremos a seguir alguns conceitos da andragogia.

Para a andragogia, o estudante precisa ser compreendido como sujeito da sua própria aprendizagem.

O adulto está em busca da autonomia, não gosta de se sentir tutelado o tempo todo, pois é responsável por seus atos e decisões.

Cabe, porém, ao professor, incentivar e ajudar a desenvolver a autonomia, o que se consegue por meio das aulas interativas, nas quais o aluno se sinta capaz de intervir, perguntar, discordar.

Também no planejamento de atividades, os alunos podem ser incentivados a se posicionarem, decidirem junto ao professor os melhores caminhos, referenciais, datas de entrega e critérios de avaliação.

Resumindo, podemos afirmar que devemos ter como meta o desenvolvimento da autonomia, sem, porém, pressupor que ela já está desenvolvida em todos os alunos.

O processo de orientação das atividades e de supervisão do aprendizado continua sendo papel do professor, mas de maneira interativa, dialógica e respeitosa.

Outro aspecto relevante, segundo o olhar da andragogia, é que o aluno adulto sempre precisa entender por que deve aprender algo.

Ele deseja relacionar os conteúdos ao seu dia a dia, observando seu valor imediato.

Mas não se trata de abordar apenas os conteúdos “úteis” em curto prazo, e sim de mobilizar o aluno para a aprendizagem que vá além do imediato, compreendendo a realidade de forma mais ampliada.

O próximo aspecto apresentado por Bellan (2005) é que o adulto aprende melhor quando relaciona os conteúdos à solução de problemas reais, os quais sejam significativos.

Isso nos indica, mais uma vez, a importância da contextualização dos conteúdos, de problematizar a realidade como ponto de partida para disparar o interesse nos temas tratados em sala.

Ainda segundo Bellan, para a aprendizagem do adulto ser efetiva, é importante respeitar suas experiências de vida, tomá-las como base para o aprendizado.

Sem dúvida, é compreender e deixar espaço em sala para que os alunos possam trazer suas vivências, experiências, dúvidas e certezas para, juntos, professor e alunos, as ressignificarem a partir dos novos conhecimentos trazidos pelas leituras, pelas aulas, pelos filmes analisados etc.

Bellan afirma ainda que a motivação do adulto é muito mais interna, baseada em sua própria vontade de crescer.

Para completar, dadas às condições objetivas de vida, pode ocorrer de o aluno até estar disposto e motivado a fazer o curso no qual se matriculou, mas isso não significa, necessariamente, que está motivado para todos os temas ou disciplinas.

O utilitarismo do adulto muitas vezes o leva ao questionamento: “para quê vou usar isso?”, impedindo-o de perceber as possibilidades de ampliação cultural e/ou de visão de mundo e da sua futura profissão.

É preciso, nesse caso, lançar mão da motivação extrínseca para levar o aluno a se interessar pelo conteúdo.

Fazer as relações entre o conteúdo específico de uma aula ou disciplina com o todo do curso e com a profissão são estratégias das quais se pode lançar mão para esse objetivo.

A andragogia recomenda também que as aulas sejam estruturadas em blocos curtos, já que o adulto teria pouco tempo de concentração num tema específico.

Devemos compreender isso de maneira ampliada, ou seja, não se trata de oferecer pequenos blocos de conteúdos fragmentados, mas de mudar a estratégia no decorrer da aula para que o nível de atenção e concentração não diminua.

Também no sentido de ampliar a compreensão do aprendido, há a necessidade de variar os estímulos, usando os diversos canais de contato com o mundo: visão, audição, além do “fazer”, que poderíamos comparar ao uso do canal sinestésico (movimento).

Embora a andragogia não se detenha nesse ponto, é essencial ajudar o adulto a desenvolver a metacognição, ou seja, a compreensão que cada indivíduo tem sobre sua própria capacidade de aprender e sobre como funciona a sua estrutura de pensamento e memória quando busca aprender algo.

O desenvolvimento dessa autopercepção pode – e deve – ser incentivado pelo professor, assim como as técnicas de estudo adequadas aos diferentes conteúdos.

O ensino superior não é apenas o ensino dos conteúdos específicos de cada disciplina, mas também o raciocínio e a metodologia específica de aquisição do conhecimento em cada área.

É preciso ajudar o aluno a se autoconhecer, a perceber suas dificuldades e pontos fortes, as estratégias que utiliza para se manter atento e para reter o aprendizado.

É isso que se chama autorregulação metacognitiva: ser capaz de perceber quando precisa estar mais atentos e no quê, em que tipo de situação precisa-se de mais ou menos tempo para aprender, ou seja, regular conscientemente nossa aprendizagem.

Embora só o próprio estudante seja capaz de fazê-lo, o apoio do professor fazendo-o perceber o que demandará mais esforço e que tipo de esforço pode contribuir para a melhoria da autopercepção do aluno.

Referências
BELLAN, Z. S. Andragogia em ação: como ensinar adultos sem se tornar maçante. Santa Bárbara D’Oeste, SOCEP, 2005.

Professora Msc. Inge R. F. Suhr é Coordenadora Pedagógica de Ensino Presencial do Grupo Uninter.

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