Cyberbullying: Violência e sofrimento em tempos de “mundo cíbrido”
Claudio Paris
Com o advento da internet e a recente
popularização dos computadores pessoais e
smartphones, deu-se o ponto de partida para o surgimento do cibridismo,
característica marcante do século XXI.
O termo CIBER (Digital) + HÍBRIDO (Mistura) designa a
fusão dos mundos físico e virtual, que
só é possível com ajuda da tecnologia
- via internet, computadores e inovações digitais.
Em certo sentido, podemos dizer que não existe mais somente
uma realidade para cada pessoa, pois o mundo físico
(off-line ou desconectado) se funde ao virtual (on-line ou conectado)
na sociedade contemporânea, criando essa nova realidade
híbrida.
Tal fenômeno impacta de modo contundente, especialmente a
vida de crianças e jovens.
Ambos são chamados de nativos digitais, já que
nasceram em um mundo mergulhado em tecnologia, convivendo intensamente
no mundo virtual com familiares, amigos e membros de sua comunidade.
Como nessa faixa etária, a escola ocupa um lugar central em
suas vidas, dado que esse espaço tem um importante papel no
processo de desenvolvimento psicossocial, reverberando no
cyberespaço vários aspectos do âmbito
escolar, em especial a violência.
Na maioria dos casos, essa é a matriz geradora do chamado
cyberbullying, termo de origem inglesa
composto pelas palavras cyber e
bullying, tendo bully um significado próximo ao nosso
“valentão”, originado de Bull (touro),
na sua designação literal.
Episódios de violência, sofrimento e
humilhação no âmbito escolar
caracterizam o bullying, revestindo-se de um componente ainda mais
perturbador no contexto do cyberbullying, modalidade de
agressão no mundo virtual.
Quando há um episódio qualquer de
violência no mundo real (seja ele caracterizado ou
não como bullying), os agressores são facilmente
identificados e confrontados na escola, como em qualquer outro lugar,
pois os envolvidos são pessoas físicas,
identificáveis e conhecidas.
Já no caso da “perturbação
online”, a situação é muito
mais complexa.
A identificação dos agressores é bem
mais difícil, pois seu autor pode criar um perfil falso em
um blog, Twitter ou Facebook, tornando seu combate mais complexo e
perturbador.
Segundo especialistas, a crescente escalada do cyberbullying
está ligada a uma cultura individualista e competitiva, que
marca o advento da sociedade contemporânea.
O combate desse fenômeno será tão mais
exitoso quanto maior for a interferência dos variados
protagonistas do espaço escolar: pais, professores, gestores
e comunidade.
Por isso, defendo o estímulo à
convivência com o diferente e a
construção de práticas
solidárias, por meio do exercício da cidadania,
de atividades esportivas e manifestações
artísticas, como teatro, dança e sarau de
poesias, entre outras.
Elas colaboram para fortalecer a solidariedade e o respeito
mútuo, criando condições para reduzir
as práticas de cyberbullying e minorar seus impactos.
A tarefa dos pais também é gigantesca: criar
laços de proximidade na vida dos filhos que não
se restrinjam ao mundo físico.
Isso, além de acompanhar de perto o mundo virtual deles,
permite diálogo, convívio e
cumplicidade, o que os protegem de ameaças virtuais, bem
como se demonstra a preocupação dos
pais com a integridade física de seus
filhos.
Claudio
Paris é
licenciado em Ciências e Biologia e pós-graduado
em Educação pela Universidade de São
Paulo (USP). É também professor de
colégio conveniado ao Ético Sistema de Ensino
(www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva, músico e gestor
da Nova Geração, comunidade terapêutica
que assiste jovens vítimas de exclusão social e
drogadição.