Planeta Educação

Aprender com as Diferenças

 

Dificuldades na Escola
Maria Irene Maluf

Logo que se completa o 1º trimestre de aulas, alguns pais já se deparam com o baixo aproveitamento acadêmico e o pouco interesse pelos estudos apresentado pelos filhos.

E nada é mais aflitivo, pois as dificuldades que se apresentam logo no início do semestre podem sinalizar um comprometimento não apenas deste ano escolar, mas de todo o aprendizado futuro.

Todos sabemos que a escolaridade é baseada na aquisição de uma sequência interdependente e organizada de conhecimentos e valores e que uma falha pode provocar, mais adiante, inúmeras dificuldades para superar novos desafios.

À parte das crianças e jovens que apresentam significativos déficits de aprendizagem, seja a dislexia, a discalculia, o Transtorno do Déficit da Atenção, o Autismo etc., todos já devidamente diagnosticados por uma equipe multidisciplinar compostas por médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos, existem aquelas cujas dificuldades de aprender se devem a fatores ambientais ou a pequenas perturbações de ordem clínica, facilmente remediáveis e que trazem uma diferença muito grande na escolaridade.

Se o leitor reconhece que seu filho ou seu aluno está entre o grupo de crianças inteligentes, saudáveis, sem grandes transtornos de aprendizagem, mas que parece sempre desanimado, sem motivação, com dificuldades nas tarefas escolares aparentemente infundadas, vale a pena não esquecer destas simples sugestões para identificar problemas relacionados à capacidade visual, auditiva e neurológica:

1. Procurar anualmente o pediatra para ver se a saúde da criança e seu desenvolvimento estão adequados, mesmo quando esta parece saudável e forte. Somente um médico pode fazer essa avaliação e, se julgar necessário, recomendar exames, medicar etc.

2. Procurar um oftalmologista ou um oculista a partir dos três anos de idade ou antes se houver problemas visuais na família: quantas crianças tenho atendido no meu consultório, cujo grande problema de aprendizagem consiste em serem míopes, ou astigmáticas, por exemplo, e não conseguirem ler o que a professora escreve na lousa! O uso de óculos pelas crianças hoje é fato corriqueiro, melhora sua qualidade de vida e lhes permite um desenvolvimento adequado em várias áreas, especialmente nos estudos.

3. Um otorrinolaringologista, apesar do nome comprido, é um especialista que corriqueiramente é visitado pela maioria dos pais, cujos filhos pequeninos sofrem de dor de ouvido, garganta e depois que estes crescem e essas queixas se tornam mais espaçadas, se esquecem de que o aparelho auditivo pode estar sofrendo outros tipos de prejuízos, que podem ser indolores e silenciosos, mas graves. Esse médico pode indicar exames para saber se a criança ouve bem ou não, o que constitui uma outra razão, muito séria, para o insucesso escolar.

4. Crianças muito agitadas, que tanto em casa como na escola não conseguem ficar sentadas ou fixar a atenção por um tempo razoável para sua idade em atividades ligadas ao estudo, ou crianças cujo comportamento é por vezes muito eufórico ou, ao contrário, parecem frequentemente tristes, isoladas, sem ânimo para nada,que demoram para fazer coisas que os irmãos fazem com presteza na mesma fase (andar de bicicleta aos 5 anos, por exemplo) devem ser levadas a um neurologista infantil. Tudo que é diagnosticado de princípio é muito mais facilmente compensado ou resolvido, do que mais tarde quando o comportamento está mais arraigado e a autoestima muito enfraquecida pelos inúmeros momentos em que a criança foi rejeitada, criticada e castigada.

Em todos esses casos, uma conversa com a orientadora e a professora deve também ser agendada pelos pais, para saberem se o que eles percebem ocorre também na escola e se esses experientes profissionais têm mais observações a acrescentar, de modo a orientar melhor a busca por um especialista fora da escola.

Uma aproximação serena e amorosa junto à criança para saber de suas dificuldades é outra fonte preciosa de informações para os pais: seu filho pode estar sendo vítima de Bullying, se sentido perseguido por colegas, rejeitado e amedrontado frente às ameaças e, dessa forma, terá cada dia menos motivação e capacidade para estudar e vontade de ir à escola!

São medidas práticas, simples e rotineiras que afastam e previnem vários problemas na vida escolar e familiar de nossas crianças. Como pai, mãe ou professor, divulgue isso!

Maria Irene Maluf é Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial, Editora da revista Psicopedagogia da ABPp, Coordenadora do Núcleo Sul/Sudeste dos cursos de Especialização em Neuroaprendizagem e Transtornos do Aprender do Grupo SaberCultura/FACEPD. Site: www.irenemaluf.com.br.

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