Brasil, Mais Carinhoso com a Educação Infantil
Francisca Romana Giacometti Paris
A partir da promulgação da
Constituição Brasileira de 1988 e do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) de 1990, as
crianças brasileiras passaram a ser respeitadas como
cidadãs de direitos.
Começaram a ser vistas como sujeitos históricos e
produtores de cultura, porém com certas especificidades, uma
vez que se encontram em pleno desenvolvimento.
Tal propositura impulsionou algumas mudanças nas leis
posteriores e na organização das
políticas públicas para a infância no
Brasil.
A própria Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, cuja versão mais recente foi
promulgada em 1996, indica um avanço na mentalidade
estabelecida ao considerar que todas as
instituições de Educação
Infantil devem ter suas propostas pedagógicas tecidas sob as
intenções do cuidar e do educar.
Outra medida que levou a uma melhoria considerável no
atendimento escolar para as crianças com idade entre zero e
cinco anos foi a criação do FUNDEB (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da
Educação), que atende a toda a
educação básica desde janeiro de 2007.
Foi a partir de então que os municípios puderam
investir as verbas do fundo na Educação Infantil,
antes só possível de ser feito no Ensino
Fundamental.
Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil, homologadas no final de 2009,
também reafirmam o conceito de criança
cidadã e definem um currículo voltado para as
necessidades de cada faixa etária.
Essa norma tem por objetivo estabelecer as Diretrizes a serem
observadas na organização de propostas
pedagógicas na educação infantil, que
vem a ser a primeira etapa da educação
básica, oferecida para crianças de até
cinco anos de idade em creches e pré-escolas.
O currículo sugerido inclui um conjunto de
práticas – interações e
brincadeiras – que busquem articular as
experiências e os saberes das crianças com
conhecimentos variados para promover o desenvolvimento integral.
Recentemente, o governo federal lançou o programa Brasil
Carinhoso, que visa tirar da miséria crianças de
até seis anos, cuja renda familiar per capita seja inferior
a R$ 70.
O programa terá três eixos: reforço da
renda familiar – por meio do programa Bolsa
Família –, acesso a creches e
ampliação da cobertura de saúde.
De acordo com a presidenta Dilma Rousseff, o ‘Brasil
Carinhoso’ será a mais importante
ação brasileira de combate à pobreza
absoluta na primeira infância.
Um programa como esse não pode ser encarado pelo governo
como mais um custo, mas como um investimento.
Isso porque já é sabido por pesquisas nacionais e
internacionais que a educação e o cuidado na
primeira infância são o que realmente faz
diferença do ponto de vista de qualificar a
educação no país.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e do Censo Escolar mostram que o acesso das crianças
brasileiras a creches cresceu consideravelmente na última
década.
Em 2000, essas unidades atendiam 916.864 crianças com
até três anos de idade. Em 2011, esse
número chegou a 2.298.707.
Apesar de esses números revelarem um aumento de mais de
150%, ainda há muito que melhorar.
Penso que o Brasil demorou muito para investir na infância,
haja vista que os ensinos Superior, Médio e Fundamental
apareceram primeiro nas metas das políticas
públicas.
Mas nunca é tarde; as crianças de hoje
saberão usufruir dessa diferença.
A proposta é, sem dúvida, muito interessante.
Contudo, juntamente com tais ações, é
preciso intensificar a busca pela qualidade nas creches e
pré-escolas, já que renomados pesquisadores da
Psicologia da Aprendizagem afirmam que é nos primeiros
três anos de vida que se tem os períodos
sensitivos à aprendizagem, as chamadas “janelas da
aprendizagem”.
Quando alimentada de informação e motivada por
novas experiências nessa fase, a criança fixa o
que foi absorvido como instrumentos do pensamento.
Essas janelas fecham-se à medida que os anos vão
passando, por isso a necessidade de se aprender nesse
período.
É o tempo do Kairós (antiga palavra grega que
significa “o momento certo” ou
“oportuno”) da aprendizagem, época em
que a criança está apta a ‘aprender a
aprender’, o que favorece o desenvolvimento
de habilidades e competências que lhe
valerão por toda a vida.
Francisca
Romana Giacometti Paris é
pedagoga, mestra em Educação, diretora de
serviços educacionais do Ético Sistema de Ensino
(www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva, e ex-secretária
de Educação de Ribeirão Preto (SP).