Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br
Desejo de Vingança
Seriados, novelas e filmes como tentativa de reproduzir a vida humana
Mergulhados no irreal e na fantasia da cabeça de algum
autor, vibramos a cada chance de vingança apresentada por
alguma trama muito bem-articulada.
Aplaudimos a queda do malfeitor de uma novela, por exemplo, tal como se
fosse um grande espetáculo.
Não nos damos conta, mas a dor e o sofrimento constituem-se
parte significativa de nossos pensamentos, influenciando os nossos mais
remotos e presentes desejos.
Ainda que na ficção, ansiamos, na verdade, por
sangue e violência para satisfazer o ódio que nos
permitimos sentir durante um tempo em que estivemos expostos aos ardis
do personagem mau de um seriado, novela, filme ou qualquer
conteúdo semelhante.
Tentativas de humanizar o vilão frustram-se em
número recorde, pois rejeitamos qualquer ato de amenizar o
lado mau daquele personagem que geramos antipatia. Inclusive, parece
que é uma necessidade termos pessoas com
características negativas em nosso meio.
O “chove não molha” dos personagens do
bem não impacta tanto a vida das pessoas. Isso ocorre talvez
pelo fato de que precisamos de um antagonista para, então,
conseguirmos ganhar a atenção e a
admiração das pessoas que estão
à nossa volta.
Tanto é assim que vemos inúmeras pessoas tentando
provar que estão corretas a qualquer custo mesmo em
situações simples, ínfimas e sem
grandes prejuízos para qualquer que seja.
Para alimentar nosso ego e nossos desejos de super-heróis
sem, é claro, termos que pagar o preço que
heróis pagam, esforçamo-nos para
“derrotar” alguém que escorrega e, sem
dó e piedade, o empurramos à queda e ao mais
profundo abismo da solidão e descrédito.
Tudo isso vai gerando sentimentos muito cruéis dentro de
cada um. As pessoas sabem que, se errarem, serão tratadas
sem piedade, sem direito de terem nova chance.
Sabem, por exemplo, que as únicas mãos que
irão ao encontro delas serão para as empurrarem
à queda, pois, afinal de conta, elas erraram, tiveram um
tropeço e não são dignas de ajuda.
Ainda não se sabe se é a arte que copia a vida ou
se é a vida que copia a arte, ou seja, não se
sabe se os seriados, as novelas e os filmes copiam o modo de viver das
pessoas ou se são elas que copiam essa forma de fazer arte...
Contudo, se tudo isso não tiver fim, certamente precisaremos
de mais recursos punitivos para aplicar em que erra, pois qualquer que
tropeçar estará fadado à queda e,
consequentemente, à frieza do isolamento.