Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br
Cheios de Razão
Identidade Pessoal e Interesses
Verdades e inverdades fazem parte do
nosso dia a dia e, ao que parece,
o estabelecimento de características únicas que
possam nos identificar está se tornando cada vez mais
difícil.
Por exemplo, diante do mau humor do chefe, somos compreensivos, pois
ele, quem sabe, não está numa fase boa.
Ao recebermos uma bronca do nosso superior lá no trabalho,
ficamos quietos, fingimos não ter sido conosco, deixamos
passar.
Quando somos injustiçados pelo coordenador, falamos a ele
com toda a educação e profissionalismo.
Se formos incompreendidos na empresa que estamos empregados, acabamos
até desenvolvendo dores estomacais diante das
pressões que nos sobrecarregam.
Contudo, diante de qualquer deslize de um vendedor, de um
garçom ou de qualquer trabalhador que julgamos inferiores
à nossa escala no Mercado de Trabalho, as coisas perdem
totalmente essas características.
Assim como uma máscara que cai e demostra a face desnuda de
quem se protegia atrás dela, mostramos importantes aspectos
do nosso jeito de ser ali, diante de qualquer pessoa em
situação de desvantagem ao nosso respeito, ainda
temporariamente.
Algumas vezes, nem parecemos mais as mesmas pessoas, somos ousados e,
cheio de razão e direitos, falamos como se
fôssemos os donos da verdade sem nos atentar que estamos,
infelizmente, agindo de uma forma que não
gostaríamos de ser tratados.
Fechamos os olhos e não perdoamos, em hipótese
alguma, o fato de o garçom ter demorado um pouco mais para
nos atender, o fato de a vendedora de sapatos não sorrir
enquanto nos atende, o fato de, por um acaso, a resposta de alguma
atendente ter sido um pouco ríspida.
Fatos, é verdade, mas que não justificam nossa
intolerância, uma vez que não somos assim com
pessoas que ocupam graus mais elevados na escala social.
Se agimos assim, do que reclamamos quando não somos
compreendidos pelos nossos superiores? Por que, então, nos
queixamos de a vida e o nosso trabalho não pararem para
conseguirmos, pelo menos, secar as lágrimas causadas por uma
dolorosa perda?
Queremos, por um acaso, que a vida seja injusta a ponto de nos tratar
bem quando nós tratamos de modo ríspido e
intolerante alguém que fere qualquer direito que julgamos
ter?
Por que será que não consideramos a dor que
causamos num atendente ao o denunciarmos ao seu superior quando aquilo
que nos feriu significa tão pouco?
Por que somos insensíveis a ponto de achar que o
garçom não tem direito de estar num dia
não muito bom quando, na verdade, queremos ser compreendidos
em nossas dores?
Quem sabe seja porque gostamos mesmo é de ter nosso ego
massageado, queremos ser tratados como reis e rainhas, afinal,
trabalhamos duramente para isso.
Por isso, talvez, é que a vida tem sido tão dura
para muitas pessoas, pois elas, muitas vezes, foram duras e
insensíveis com tantas outras.
É hora de quebrar esse círculo de dor, de romper
com hábitos impensados, de considerar os outros como
queremos ser considerados.