Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

15/3/2004 - Medo e Intolerância em Madri
Quais os caminhos para a paz?

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Tive uma aula muito interessante com meus alunos do Ensino Médio no dia de hoje, falamos sobre espaço público e liberdades democráticas. Para que tudo ficasse ainda mais claro, abordamos uma situação específica que muito interessa a todos, o terror que assola o planeta desde o 11 de setembro de 2001.

Ainda mais depois dos acontecimentos trágicos registrados em Madri, no último dia 11 de março de 2004, quando explosões em trens, quase que ocorridas de forma simultânea, vitimaram 200 pessoas inocentes e deixaram um grande número de feridos.

Coincidentemente, há alguns dias atrás havíamos discutido a questão da tolerância e da intolerância. No nosso encontro de hoje, ao abordarmos a questão do espaço público nos referimos a ele como o espaço comunitário, derivativo da noção daquilo que é comum, de acesso a todos, permitido a qualquer pessoa sem qualquer restrição.

Pensamos nos trens de Madri. Espaço de transporte público, pelo qual passam milhares de pessoas diariamente. Imaginamos se não existiriam outras possibilidades de falar a respeito das diferenças sem que fosse necessário apelar para a violência, à agressão e a morte.

Uma aluna falou a respeito de Gandhi e sua luta pela independência da Índia. Lembramos que para conseguir atingir seu objetivo, o líder indiano mostrou-se, desde o princípio, um ativista em favor da não-violência. Falamos também da coerência entre ação e pensamento, entre teoria e prática no exemplo de Gandhi.

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“O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente, que há no mundo”.

Pensamos que outros líderes poderiam articular suas ações a partir de exemplos que não representassem ameaças reais a integridade de outras pessoas e povos somente pelo fato de partilharem de outra fé (ou por qualquer outro motivo).

Lembramos que a fé, orientadora espiritual de tantos povos, (sejam eles cristãos, mulçumanos, judeus ou membros de qualquer outra religião) prega a todos a busca da paz, da harmonia e do amor.

Voltando a nossa discussão sobre espaço público, lemos em um texto que a natureza desses locais é essencialmente fundada na necessidade da cooperação e do entendimento. Percebemos o quanto estamos distantes da realização plena dessa idéia ao analisarmos os atos de nosso próprio cotidiano...

Alguns estudantes mencionaram o fato de que vivemos em uma sociedade democrática e que, diante disso, as pessoas podem manifestar suas opiniões da forma que quiserem. É lógico que eles não pensavam na explosão dos trens como algo lícito e aceitável, nem mesmo dentro da lógica que norteia as democracias ocidentais.

Nosso diálogo nesse momento permeava atitudes simples, que todos estamos sujeitos a viver, como falar palavras de baixo calão na presença de outras pessoas sem se importar com o que pensam esses outros indivíduos. Mesmo nesses casos, disse a eles que deveríamos nos policiar para evitar situações embaraçosas ou constrangedoras. Afinal, convenhamos, essas ofensas também podem causar danos e ferimentos...

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Temos que mudar as regras do jogo e
fazer com que prevaleça sempre a Tolerância

Percebemos que não podemos usar a democracia como justificativa para qualquer ato que possa ser considerado ofensivo e lesivo a uma outra pessoa. Reconhecemos que o limite das liberdades de um indivíduo se estabelece quando se inicia a liberdade dos outros.

Mais que isso, concluímos que devemos estimular o diálogo, a compreensão, o respeito pelas diferenças, as relações amigáveis entre pessoas e países e prezar a dignidade e a decência como metas a se atingir no mundo em que vivemos.

Sabemos que isso é complicado. Entendemos que exemplos como o de Gandhi são muito menos numerosos que casos como os de Bin Laden ou de outros grupos de terroristas (ou ainda de governos beligerantes como os de Bush e Blair).

Acreditamos, entretanto, que a manifestação de espanhóis e europeus de diversas nacionalidades, verificadas nos últimos dias, assim como a solidariedade de povos das mais diversas nacionalidades e religiões é a prova de que a grande maioria das pessoas que vivem em nosso planeta ainda fala em nome da paz, do amor e do respeito ao próximo.

Independentemente de nossas religiões, rezamos em favor das vítimas e de seus familiares. Rogamos a Deus que ilumine o caminho dos homens e lhes dê sabedoria suficiente para solucionar seus problemas.

Para que amanhã possamos pegar o trem ou o metrô, andar pelas rodovias ou ir a aeroportos, ter novas aulas ou chegar em nossos locais de trabalho, sem que sintamos medo, sem que o terror tenha feito de nós vítimas inocentes de uma guerra que não provocamos, que não defendemos...

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