Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br
Acredite, você consegue revisar seu próprio texto
Dicas para construir textos concisos, coerentes e claros
Não é preciso ser professor de língua
portuguesa para conhecê-la. Os gramáticos
não são os únicos capazes de
produzirem textos coerentes, concisos e adequados. Não, a
língua portuguesa não é a mais
difícil de ser entendida, pois não há
dados seguros que comprovem isso. Não, português
não é difícil de aprender. Acredite,
você é capaz de produzir textos concisos,
caprichados e perfeitamente entendíveis às
pessoas que você deseja que tenham acesso a eles.
Para começar, defina seu assunto, ou seja, sobre o que
você pretende falar ou discursar. Entenda que não
é o título (ao concluir seu texto, não
se esqueça dele), mas o assunto a ser desenvolvido, aquele
que será seu objeto de análise, tal como uma
matéria-prima que precisa ser moldada para ter os formatos
de acordo com o estilo de cada um.
Uma das dicas para isso é inserir em seu cotidiano a leitura
em suas formas verbais e não verbais, tendo um olhar
atencioso a todas as formas de textos que o rodeiam, tais como
propaganda, fôlder, charge, placa de trânsito,
anúncio de emprego, discurso de algum político,
enfim, atente-se a tudo o que é capaz de transmitir uma
mensagem. Aproveite para se questionar sobre como esses exemplos
conseguem fazer com que uma mensagem seja entendida por um determinado
grupo de pessoas.
Bom, escolhido o assunto, defina, indispensavelmente, seu
público-alvo, pois ninguém escreve bem se
não souber para quem vai escrever.
Essa dica vale até mesmo se você desejar que seu
texto seja lido por um grande número de pessoas. Nesse caso,
utilize-se de uma linguagem simples e formal, ou seja, não
utilize palavras que parecem existir apenas em dicionários
e, muito menos, não utilize expressões grosseiras
e gírias.
Observadas essas dicas, você pode, enfim, começar
seu rascunho. Isso mesmo! Rascunho, pois um bom texto, na maioria das
vezes, é o resultado de uma releitura realizada pelo
próprio autor. Isso acontece porque, ao reler o que
escrevemos, vamos identificando outras formas de passar a mesma
informação. Nesse processo, aumentamos nossa
garantia de que a mensagem será entendida pelos nossos
receptores.
A partir de seu primeiro rascunho montado, faça uma
releitura atenciosa, verificando se existe alguma palavra escrita
incorretamente ou, ainda, se é necessário mudar a
ordem em que as frases foram escritas. Aproveite essa releitura,
também, para verificar se não existem formas mais
claras de dizer alguma sentença, apostando na simplicidade
das falas e na consequente clareza da mensagem.
Por falar em simplicidade, entenda-a como um dos caminhos para a
concisão de seu texto. Por exemplo, em vez de
começar um e-mail com “Venho por meio deste
solicitar minha transferência de setor”, prefira,
simplesmente, “Solicito minha transferência de
setor”, não se esquecendo de
começá-lo com os devidos cumprimentos.
Aproveite esse momento, ainda, para identificar possíveis
pleonasmos, pois eles cansam o leitor, impedindo-o, muitas vezes, de
completar a leitura. Exclua de seu texto, por exemplo,
expressões como “elo de
ligação”, “sair para
fora”, “calçar os sapatos nos
pés”, entre tantas outras.
Para finalizar, na releitura de seu próprio texto, tente
atentar-se para regras simples da língua portuguesa, ou seja:
- Não separe sujeito e verbo e acentue todas as
proparoxítonas.
- Analise os parênteses. Compreenda que tudo pode acontecer
dentro deles, ou seja, outras vírgulas, pontos-finais e,
até mesmo, exclamação e
interrogação. Por isso, primeiramente, analise
sua frase sem eles e, somente depois, volte seu olhar para analisar o
que foi escrito, verificando se há mesmo a necessidade de
inseri-los.
- Verifique se as palavras terminadas em ágio,
égio, ógio e úgio estão
devidamente acentuadas, bem como se a crase não foi inserida
antes de palavras do gênero masculino ou antes de verbos no
infinitivo.
- Se seu texto obedecer às regras
da Nova Ortografia, exclua o trema e
os acentos de paroxítonas “oi/ei”, bem
como o circunflexo de formas verbais como “veem e
creem”. Lembre-se que temos até o final de 2012
para nos adequarmos a ela.
- Se for utilizar os verbos “tem e vem” no plural,
não se esqueça de acentuá-los.
- Atente-se para a escrita correta de cada palavra, verificando se
não está faltando nenhuma letrinha.
- Em caso de ênclise, principalmente no Word (o Word insiste
em eliminar alguns acentos indevidamente), verifique se os verbos (com
exceção apenas de verbos terminados em
“ir”) estão acentuados, como ocorre em
“identificá-lo, rompê-lo,
construí-lo, corrigi-lo”.
- Ainda falando em colocação pronominal,
identifique se o pronome não está sendo
atraído por palavrinhas como “não,
jamais, quanto, quem, que...”. Por exemplo, em vez de
escrever “não negaram-me a
certidão”, escreva “não me
negaram a certidão”.
- Evite o gerundismo, pois, assim como o pleonasmo, também
pode desmotivar a leitura.
- Veja se você não repetiu alguns termos
desnecessariamente, lembrando que a razão de os pronomes
existirem é exatamente essa, ou seja, substituir palavras,
retomando seu completo significado.
Além dessas regras que podem ser lembradas mais facilmente,
vale mais uma dica muito importante: Peça que outra pessoa
leia seu texto, pois nada como um olhar diferente para apontar algumas
falhas que, mesmo após nossa releitura, não
conseguimos identificar.