Aprender com as Diferenças
IPHONE, IPOD e IPAD, como funcionam para cegos?
Marco Antonio de Queiroz - MAQ
Nodia 20 de outubro deste ano, 2011, saí para, finalmente, comprar um IPHONE 4. Animado, mas temeroso de como os aparelhos da APPLE funcionavam para pessoas com deficiência visual, passei por todas as operadoras pedindo uma demonstração.
A primeira surpresa que tive foi a de que nenhum dos atendentes de operadoras sabiam como colocar o Voice Over, leitor de tela nativo desses aparelhos, IPHONE, IPOD e IPAD, para funcionar.
Mas como eu saí para comprá-lo devido a algumas navegações que meu amigo cego, Wellington Alves fez para mim, comecei a colocar, diante de cada vendedor surpreso, o aparelho falando. O caminho para isso acontecer é a partir da tela principal é: Ajustes, Geral, Acessibilidade, Voice Over.
Que maravilha. O sintetizador de voz, conhecido por algumas pessoas cegas e chamado de Rachel, de voz feminina, clara mas não totalmente humana, guardando vestígios de sua robotização nas velocidades mais altas, começa a ler ícones, tela inteira, tudo! Vamos começar por distinguir o que seja leitor de tela de sintetizador de voz.
Parece lógico, mas vamos fazer isso. Um leitor de tela tem seu nome dessa forma para ficar mais fácil o que seja, mas ele não lê a tela! Um leitor de tela lê o código que está por trás da tela e é a partir dele que a tela aparece para todos.
Dizemos que a tela está sendo renderizada a partir do código.O leitor de tela, então, não lê a tela, mas o código que a produz. Seria como um tradutor de código.
O leitor deixa sua tradução em um buffer, um espaço virtual, de onde é lido pelo sintetizador de voz. Dessa forma, alguns leitores de tela permitem que diferentes vozes, ou seja, diferentes sintetizadores de voz, com mais ou com menos robotização, possam nos fazer ouvir o que está na tela.
No caso do IPHONE, o leitor de tela é o Voice Over e o sintetizador de voz é o Rachel, muito bom.
O VoiceOver descreve, em voz alta, o que aparece na tela. Assim, você pode utilizar o iPhone sem ter que vê-lo. Ele descreve cada elemento da tela conforme é selecionado.
Quando um elemento é selecionado, esse elemento é envolto por um retângulo preto (para benefício das pessoas que podem enxergar a tela) e o VoiceOver diz o nome do item ou o descreve. O retângulo preto é referido como "cursor" do VoiceOver.
Se um texto for selecionado, o VoiceOver lê o texto. Se um controle (como um botão ou interruptor) for selecionado e o recurso Falar Dicas estiver ativado, o VoiceOver poderá dizer a ação que o item realiza ou fornecer instruções a você, como, por exemplo, "dê dois toques para abrir".
Quando você vai para uma tela nova, reproduz um som e, em seguida, seleciona e fala o primeiro elemento que está na tela (normalmente, o item do canto superior esquerdo). O VoiceOver também permite saber quando a tela muda para a orientação horizontal ou vertical e quando está bloqueada ou desbloqueada.
Importante: O VoiceOver altera os gestos utilizados para controlar o iPhone. Depois que o VoiceOver for ativado, você precisará usar os gestos do VoiceOver para o utilizar o iPhone--até mesmo para desativar o VoiceOver a fim de retomar o funcionamento padrão. Você também pode definir Início Triplo Clique para ativar ou desativar o VoiceOver.
O VoiceOver possui uma central de dicas (ativar ou desativar as dicas faladas). Caminho: Em Ajustes, escolha Geral > Acessibilidade > VoiceOver e toque no botão Ativar/Desativar do recurso Falar Dicas. Quando a opção Falar Dicas está ativada, informa você sobre a ação do item ou fornece instruções - por exemplo, "toque duas vezes para abrir." A opção Falar Dicas está ativada por padrão.
Para definir a velocidade da fala do VoiceOver: Em Ajustes, escolha Geral > Acessibilidade > VoiceOver e ajuste o controle deslizante Velocidade da Fala.
O VoiceOver utiliza um tom mais alto ao digitar uma letra e um tom mais baixo ao apagar uma letra. O VoiceOver também utiliza um tom mais alto quando fala o primeiro item de um grupo (como uma lista ou tabela) e um tom mais baixo quando fala o último item de um grupo.
Quando o VoiceOver está ativado, os gestos da tela sensível ao toque possuem efeitos diferentes. Estes e alguns gestos adicionais permitem que você se mova pela tela e controle os elementos individuais quando estes são selecionados.
Os movimentos do VoiceOver incluem os gestos de tocar ou passar um, dois, três ou quatro dedos. Para obter melhores resultados ao utilizar os gestos com mais de um dedo, relaxe e deixe que seus dedos toquem a tela com algum espaço entre eles.
Você pode utilizar técnicas diferentes para utilizar os gestos do VoiceOver. Você pode, por exemplo, tocar com dois dedos utilizando dois dedos de uma só mão ou um dedo de cada mão.
Também pode utilizar os polegares. Muitos usuários opinam que o gesto do toque dividido é especialmente eficaz: em vez de selecionar um item e tocá-lo duas vezes, você poderá tocá-lo e manter pressionado um item com um dedo e, em seguida, tocar a tela com outro dedo. Tente utilizar técnicas diferentes para descobrir o que funciona melhor para você.
Para praticar os gestos: Em Ajustes, escolha Geral > Acessibilidade > VoiceOver e toque em Prática do VoiceOver. Quando acabar de praticar, pressione OK.
Veja abaixo um resumo dos gestos principais do VoiceOver:
Para os leitores terem uma ideia, todas as figuras, assim como o plano de fundo de tela desses aparelhos, têm suas imagens descritas, possibilitando-nos ouví-las:
"Close de uma calça gins azul pespontada", "Casa em uma rua de paralelepípedos cinza", etc.
Está aí um projeto completo de quem sabia o que estava fazendo, assim como para quem estava fazendo.
Pessoas surdas oralizadas podem também usar IPhone e estão se comunicando por leitura labial, usando o facetime.
Para as não oralizadas, que só se comunicam por sinais, usam o o mesmo recurso apenas ao invés de filmar seu próprio rosto para que seja lido pelo receptor das imagens, faz a lingua de sinais.
Existe também o recurso do Rybená, que é um tradutor de português/LIBRAS (não vem no aparelho, mas pode ser instalado).
É claro que no início fiquei com um mau jeito diante da tela e, ao ter de dar um toque com quatro dedos, saía um toque com três dedos, por vezes um toque duplo de dois ou três dedos e, no segundo toque, já estava com um dedo a menos.
Ao ter de passar o dedo da direita para a esquerda, eu acabava apertando muito em algum ponto desse arrastar que o "passar o dedo" era um "tocar o dedo", que são coisas diferentes e eu quase achei que aquele negócio de toques e passar dedos não era para mim.
Mão pesada, ficava nervoso e tremia, enfim, quis voltar para o meu Nókia bem tátil e falador...
Mas, aos poucos, sem eu entender hoje como eu podia não conseguir, fui aprendendo a tocar, deslizar, com um, dois, quantos dedos e quantas vezes quisesse.
E hoje estou aqui dando uma de garoto propaganda da Apple para vocês. E eu nem mencionei a navegação pelo Safari, navegador web do IPHONE, que aproveita toda a acessibilidade possível feita nos sites.
Nosso trabalho como pessoa com deficiência está em conscientizar que a acessibilidade nos meios de comunicação, entre eles a web, deve ser para todos.
Assim, se os desenvolvedores web começarem a ter um pouco mais de consciência que ganharão mais pessoas em seus sites e sistemas, entre elas pessoas com deficiência e que isso representa lucro e, ao mesmo tempo, democracia digital, tenho esperança que IPHONE, IPOD e IPAD crecerão cada vez mais, deixando antiquado tudo aquilo que não for acessível.
Palavra de cego. MAQ.
Disponível em: http://www.bengalalegal.com/iphone