Por que não se vai mais a museus?
Marcos Hiller
Atualmente, o cidadão contemporâneo se
vê diante de uma variedade de ofertas de entretenimento,
produtos e serviços jamais vista.
Paralelo a isso, os meios tradicionais de
comunicação carregam uma inédita
descrença por parte desse consumidor e, como pano de fundo
disso, percebe-se na contemporaneidade um cidadão com um
nível de exigência visivelmente atípico
e com uma vasta possibilidade de formas de entretenimento e consumo de
cultura em geral.
E é justamente nesse contexto em que cidadãos e
consumidores de entretenimento tendem a se conectar a
experiências mais relevantes e que estejam alinhadas com seu
estilo de vida e, mais que isso, que não o transformem em
mais uma pessoa sucumbida à massa. As pessoas hoje definem
determinadas experiências de consumo como representantes de
algo mais do que experiências aparentemente comuns de consumo.
E por que não se vai a museus? Esta pergunta transita nas
cabeças dos principais curadores de arte e diretores
culturais do país. E uma série de
hipóteses pode ser listada no sentido de compreender e
elucidar esse problema. Museu é cansativo e, na primeira
saída, o visitante vai embora ou então perde
muito tempo tentando entender a obra e esquece de se entreter.
Dentro dessa hipótese, vale destacar o que cidades, como
Bilbao na Espanha, fizeram. No momento de desenhar rotas de passeio
para turistas estrangeiros, algumas agências de
turismo colocaram a visita ao Museu Guggenheim justamente nos
momentos de descanso.
O fato é que hoje se evidencia uma crise no consumo de
museus. Em uma rápida comparação com
outras formas de consumo cultural, no teatro e no cinema, por exemplo,
o espectador fica sentado e também absorve e consome cultura
com um nível menor de esforço.
Outro indício forte é que, por conta de
avanços tecnológicos, outras formas de
entretenimento, como a Internet e o uso de redes sociais, ganham uma
envergadura bastante latente. Até mesmo a tradicional
indústria do cinema, ainda assim, apresenta performances
bastante satisfatórias, financeira e midiaticamente falando.
O que falta fazer para que o consumo de arte, de cultura, de museus
ganhe mais visibilidade? O que esse texto se propõe fazer,
ou seja, trazer essa discussão para o debate já
é um começo importante. Outra hipótese
evidente é que arquitetos, curadores de
exposições e profissionais de arte possuem
conhecimentos de marketing relativamente incipientes.
Aqui vale desdobrar outro questionamento: essa incumbência
pertence a esses profissionais?
Por exemplo, o arquiteto que, durante a
idealização do projeto, decide colocar uma escada
na entrada do museu tem conhecimento que estudos hoje mostram que cada
degrau na frente de uma loja representa 5% a menos de
visitação?
Ou então: um diretor de um museu que contrata e treina
funcionários de linha frente sabe que 70% dos fatores que
fazem clientes não comprarem novamente de uma empresa
são relacionados a problemas de atendimento?
O que é possível identificar no processo de
marketing de experiência é a busca pelo momento
único de consumo, por um processo de encantamento exclusivo,
sofisticado e que vise diferenciações
máximas.
E no segmento de museus, fundamentalmente em exemplos brasileiros,
percebe-se uma completa despreocupação nesse
sentido. O design sofisticado da arquitetura dos prédios
busca sim um impacto visual, mas a forma como de
divulgação das exposições,
o treinamento de funcionários e a
preocupação com a marca do museu evidencia uma
lacuna nesse campo e, consequentemente, um convite para pesquisadores
se concentrarem nesse tema.
Marcos
Hiller é
Coordenador do MBA em Gestão de Marcas (Branding) da
Trevisan Escola de Negócios (@marcoshiller).