Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

2/3/2004 - A Reeducação Alimentar, uma Necessidade
Aprendendo a Comer Bem

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Alimentação equilibrada prevê o consumo de alimentos de todos os grupos alimentares.

Todos sabemos da necessidade de uma alimentação balanceada para que estejamos com uma boa saúde. Esse balanceamento equivale ao consumo regular de alimentos das mais variadas espécies, com especial destaque para as hortaliças, os legumes, as verduras e as frutas. Isso significa que também temos que consumir laticínios, carnes, cereais, açúcares e carboidratos.

Muitas pessoas pensam que numa boa alimentação dever-se-ia abrir mão de carnes vermelhas, de açúcares ou mesmo de gorduras. É claro que esses alimentos, quando consumidos em excesso, causam doenças e distúrbios que podem atrapalhar a vida de qualquer um. Os radicalismos na alimentação, sejam eles quais forem, causam problemas a nossa saúde...

Pensando nisso, no estado de São Paulo tem-se implementado uma renovação na merenda escolar a partir do corrente ano de 2004:- a utilização de um sistema de bandejões para que as crianças possam escolher, entre os alimentos oferecidos, aqueles que lhes agradam e que serão consumidos integralmente. Cabe a cada criança, inclusive, definir as quantidades de alimentos que lhes sejam mais adequadas.

Uma outra preocupação é a de oferecer aos estudantes da rede estadual uma série de alimentos que, combinados, supram suas necessidades calóricas sem lhes causar qualquer espécie de transtorno posterior, como a obesidade, distúrbios estomacais ou, até mesmo, úlceras.

Essa combinação de alimentos equivale ao que é ensinado regularmente nos livros de ciências como base de uma alimentação saudável, sendo composta de saladas, cereais (na forma de arroz, feijão ou macarrão), verduras, carnes e legumes.

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A resistência das crianças ao consumo de verduras, legumes, hortaliças e frutas só pode ser vencida a partir da reeducação alimentar.

Há algumas lições sendo bem aprendidas nessa modificação realizada pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, comandada pelo jovem, bem-intencionado e competente Gabriel Chalita.

A primeira e, sem dúvida, mais importante é a própria educação alimentar. As crianças, a princípio comem aquilo que estão habituadas a consumir em suas casas e, com o passar do tempo, incorporam a sua dieta alguns outros alimentos desconhecidos ou pouco utilizados por suas famílias.

A Segunda e, também primordial, é a lição de economia, incentivada ao se trabalhar com os estudantes a necessidade deles escolherem apenas o que irão, realmente, consumir. O combate ao desperdício é uma aula de cidadania, num país onde ainda existem muitas pessoas passando fome.

Há, ainda, a lição de ciências, que pode ser explorada pelos professores da área, ao se perguntar às crianças quanto à merenda que lhes é oferecida e realizar, a partir daí, um exame minucioso das qualidades e características de cada um dos alimentos que faz parte de suas refeições.

Isso pode servir, inclusive, para que os cardápios sofram alterações a partir de sugestões dos próprios alunos. Estaria sendo incentivada uma postura crítica e esclarecida por parte dos alunos em relação à merenda (vale destacar que o intuito de uma atividade como essas teria, inicialmente, caráter científico/educacional). Verdadeira aula de participação!

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Criança bem alimentada é mais saudável, tem mais disposição e pode, conseqüentemente,
ter melhores resultados na escola.

Todas essas lições realizam uma autêntica e necessária reeducação alimentar para nossos estudantes. Crianças que são, diariamente, bombardeados pela mídia através de programas e publicidade que estimulam o consumo de produtos industrializados e o abandono e/ou desprezo por alimentos frescos, provenientes das feiras livres ou dos mercados municipais.

Crianças que, em virtude da correria do dia-a-dia de seus pais, são alimentadas à base de lanches ou comidas pré-prontas (congelados, macarrões instantâneos,...) e que, como resultado disso, acabam se tornando obesas e tendo problemas sérios de saúde.

Em matéria publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, de 10 de fevereiro de 2004, foram divulgados dados alarmantes quanto à obesidade entre as crianças em idade pré-escolar, constantes da pesquisa da nutricionista Graziela Vieira Bassan dos Santos. Segundo o levantamento de Graziela, 16% das crianças dessa faixa etária estavam acima do peso normal e 13,75% desses meninos e meninas estavam obesos.

Isso acarretou projetos que estão sendo implementados por municípios (como Ribeirão Preto, onde atua a nutricionista Graziela Vieira Bassan dos Santos e Campinas, onde uma associação entre a prefeitura e o Ceasa garantem o fornecimento de alimentos saudáveis para a dieta escolar), além do próprio governo do estado.

Além de preservar a saúde de nossas crianças, a reeducação alimentar permite que nossas crianças estejam mais dispostas e possam melhorar seu desempenho na escola...

Precisa mais que isso para expandir esse projeto para outros estados e para a rede privada?

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