Planeta Literatura
Pais Brilhantes, Professores Fascinantes
Augusto Cury
"Se você conseguir fazer seus filhos sonharem, terá um tesouro que muitos reis procuraram e não conquistaram".
Muitas pessoas criticam os livros de auto-ajuda. Apesar disso, eles continuam no topo das listas de livros mais vendidos no Brasil há muito tempo. Autores especializados nesse tipo de obra conseguiram se tornar gurus de muita gente. Auxiliam as pessoas a cuidar de sua forma física; prometem melhorar as relações entre familiares; ensinam como combater o stress e o desgaste provocado pela rotina alucinante da vida das pessoas; querem criar ambientes melhores no trabalho; procuram, em suma, promover mudanças simples na vida das pessoas que lhes permitam se sentir melhor em seu cotidiano.
Se as obras conseguem modificar a vida das pessoas?
Depende essencialmente da forma como as pessoas se dispõem a encarar as sugestões e orientações dadas pelos autores. Há leitores que colocam o livro na cabeceira de suas camas e os consultam diariamente. Memorizam diversos "ensinamentos" e os colocam em prática. Conseguem dessa relação de proximidade com o livro e suas idéias uma série de melhorias em sua relação com a vida e com o mundo.
Por outro lado, muitas vezes, o leitor gosta do que lê, faz questão de mencionar diversas idéias interessantes para seus colegas de trabalho, familiares, amigos íntimos e, depois de algum tempo, esquece que o livro existe. Divulga as idéias e não as coloca em prática. Pouca ou nenhuma (o mais provável) alteração no seu ritmo de vida ocorre. A tendência, a partir de então passa a ser dizer que a leitura desse livro (e de outros de auto-ajuda) não vale a pena.
Qualquer mudança no ritmo do jogo da vida pede concentração,
coragem, ousadia e vontade.
O que mais me intriga nessa relação das pessoas com os livros de auto-ajuda é que a principal recomendação dada por praticamente todos os autores é que para a vida valer a pena deve-se ter iniciativa, coragem para mudar, ousadia. Se o leitor se comporta como um espectador, passivo, incapaz de incorporar alterações no seu dia a dia, nenhum desses livros será eficiente para ele. Podemos concluir que, se não houve modificação de rotinas e comportamentos, o livro não foi transformador como deveria ser.
A dúvida persiste, ou seja, o que veio antes, o ovo ou a galinha? Os livros de auto-ajuda são ineficientes ou os leitores são desprovidos de energia transformadora?
É pertinente notar que isso se aplica não só a livros de auto-ajuda, mas a qualquer tipo de leitura. Não apenas a livros, também a filmes, peças de teatro, aulas, contato com outras pessoas,... Mudanças só podem ser implementadas se as pessoas se mostrarem predispostas a elas. A leitura de um livro pode ser um indício de que a pessoa quer mudar. Isso já é um bom começo!
No final do ano passado ganhei de Natal o livro "Pais Brilhantes, Professores Fascinantes". Estava cansado, depois de um ano de muito trabalho e diversas realizações. Entramos no período de recesso de férias e pude, então, dedicar uma parte do tempo disponível para a leitura desse livro. Como todos os livros que realmente conquistam o leitor, li o volume com enorme apetite.
Percebi em suas páginas uma série de práticas que, de certa forma, já vinha praticando em minhas aulas e em minha vida pessoal. A identificação com as idéias e a constatação de que as práticas "prescritas" pelo autor, o psiquiatra Augusto Cury, já faziam parte de um repertório pessoal, me fizeram pensar a respeito da elaboração desse artigo.
O filme "Gênio Indomável" nos mostra como o diálogo,
a presença e a compreensão são fundamentais para resgatar
a auto-estima e estimular o crescimento de nossos jovens.
Imaginei, como professor universitário e editor do Planeta Educação, que alguns dos internautas que navegam pelo site iriam torcer o nariz diante da possibilidade de ler um artigo sobre um livro de auto-ajuda. Fiquei receoso quanto a receptibilidade do tema. Asseguro-lhes, porém que "Pais Brilhantes, Professores Fascinantes" surpreende pela facilidade de leitura e pelas orientações de valor.
Augusto Cury convoca as pessoas que trabalham com educação e também os pais a descobrir seus alunos e filhos.
"Há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada jovem. Só não consegue descobri-lo quem está encarcerado dentro do seu próprio mundo".
Provoca os leitores a procurar seus filhos e alunos, quebrando as barreiras que nos "ilharam", separando nossos caminhos, frustrando nossos sonhos e promovendo a desestabilização de nossas casas e salas de aula.
Cury afirma que tanto os educadores quanto os pais são propensos à falhas no encaminhamento da educação de suas crianças e adolescentes, entretanto, firma que a maior de nossas falhas se refere ao fato de termos "esvaziado" as relações com nossos filhos e alunos e perdido a sensibilidade.
Viver intensamente nossas relações com filhos e alunos.
Li um artigo em que se falava da necessidade que temos de nos relacionar com animais de estimação. Num dos trechos da reportagem, um dos felizes donos de cachorros relatava que havia aprendido com seu animal a viver plenamente o presente. Dizia que percebera que seu cão não ficava "pensando no que vai fazer no ano que vem" ou como seria "quando voltassem".
Acredito que falta-nos, atualmente, o sentido de viver com intensidade o presente. Não focamos nossa relação com nossos filhos na realização do agora, estamos sempre projetando para o futuro ou ocupados demais lembrando dos problemas passados. Quantas vezes nos preocupamos em ceder a nossa presença integralmente para nossos filhos ou alunos? Quantas vezes conseguimos deixar de pensar nos compromissos de amanhã ou nos problemas acumulados?
Ao darmos a nossos interlocutores (filhos e alunos) a possibilidade de dialogar, trocar experiências, valorizar realizações, criticar com serenidade, dividir sucessos e derrotas, demonstrar nossos sentimentos e pensar conjuntamente, estamos verdadeiramente realizando as conexões que estabelecem a aprendizagem. Diga-se de passagem, que não apenas nossos filhos (e alunos) são aprendizes nesse processo...
"Pais Brilhantes, Professores Fascinantes" nos faz refletir e nos permite perceber como atitudes verdadeiramente simples e posturas corajosas diante da vida podem transformar a educação e ajudar nossas crianças e jovens a crescer com melhores perspectivas. Não conheço o psiquiatra Augusto Cury, no entanto, acredito que poderia ter escrito alguns dos trechos de seu livro tendo em vista a similaridade de práticas e posicionamentos quanto à educação.
"Aonde chegamos depende do quanto libertamos a arte de pensar".
Sinto que, apesar de todos os méritos, qualquer possibilidade de efetivação de brilho na criação de seus filhos ou de fascínio no trabalho com seus alunos dependa essencialmente de sua própria força, de disposição interior (como havia dito anteriormente). Mudanças depreendem enfrentamentos (desestabilizações que nos fazem questionar práticas e pensamentos que adotamos há muito tempo). Nada é conquistado impunemente (prepare-se para sentir dores, fazer cara feia e chorar; quando era nadador meu treinador costumava dizer que os exercícios e treinamentos só tinham valor quando nos faziam sentir todo o sacrifício que estávamos fazendo, só então, dizia ele, você estará se desafiando e se preparando para o pódio). Se, em determinados momentos, você fraquejar, lembre-se que no final de tudo se encontra o objetivo real de cada ser humano existente no planeta, a felicidade...
Obs.: Obrigado Sheila, pelo presente de Natal e pela linda dedicatória. Como sempre, esse artigo (e todos os outros) só se torna representativo pelo seu companheirismo e amor e por tudo que nossos filhos representam para nós.