Aprender com as Diferenças
Nada sobre nós, sem nós: Da integração à inclusão
Romeu Kazumi Sassaki - Parte 1
Citação
bibliográfica:
SASSAKI, Romeu Kazumi. Nada sobre nós, sem nós:
Da integração à inclusão
– Parte 1. Revista Nacional de
Reabilitação, ano X, n. 57, jul./ago. 2007, p.
8-16.
Parte
1
Introdução:
Analisemos o lema “Nada sobre nós, sem
nós”. São meus todos os grifos e caixas
altas em certas palavras, que constam no presente texto (Partes 1 e 2).
Nada
quer dizer “Nenhum resultado”: lei,
política pública, programa, serviço,
projeto, campanha, financiamento, edificação,
aparelho, equipamento, utensílio, sistema,
estratégia, benefício etc. Cada um destes
resultados se localiza em um dos (ou mais de um dos ou todos os) campos
de atividade como, por exemplo, educação,
trabalho, saúde, reabilitação,
transporte, lazer, recreação, esportes, turismo,
cultura, artes, religião.
Sobre
Nós, ou seja,
“a respeito das pessoas com deficiência”.
Estas pessoas são de qualquer etnia, raça,
gênero, idade, nacionalidade, naturalidade etc., e a
deficiência pode ser física, intelectual, visual,
auditiva, psicossocial ou múltipla. Segue-se uma
vírgula (com função de elipse, uma
figura de linguagem que substitui uma locução
verbal) que, neste caso, substitui a expressão
“haverá de ser gerado”.
Sem
Nós, ou seja,
“sem a plena participação das
próprias pessoas com deficiência”. Esta
participação, individual ou coletiva, mediante
qualquer meio de comunicação, deverá
ocorrer em todas as etapas do processo de geração
dos resultados acima referidos. As principais etapas são: a
elaboração, o refinamento, o acabamento, a
implementação, o monitoramento, a
avaliação e o contínuo
aperfeiçoamento.
Juntando as palavras grifadas, temos: “Nenhum resultado a
respeito das pessoas com deficiência haverá de ser
gerado sem a plena participação das
próprias pessoas com deficiência”. Em
outras palavras, as pessoas com deficiência estão
dizendo: “Exigimos que tudo que se refira a nós
seja produzido com a nossa participação. Por
melhores que sejam as intenções das pessoas sem
deficiência, dos órgãos
públicos, das empresas, das
instituições sociais ou da sociedade em geral,
não mais aceitamos receber resultados forjados à
nossa revelia, mesmo que em nosso benefício.”
O lema comunica a ideia de que nenhuma política deveria ser
decidida por nenhum representante sem a plena e direta
participação dos membros do grupo atingido por
essa política. Assim, na essência do lema Nada
Sobre Nós, Sem Nós está presente o
conceito de Participação Plena das pessoas com
deficiência.
Evolução
histórica: Quando
surgiu este lema tão famoso nos dias de hoje? Se
considerarmos as quatro eras das práticas sociais em
relação a pessoas com deficiência
— exclusão (antiguidade até o
início do século 20),
segregação (décadas de 20 a 40),
integração (décadas de 50 a 80) e
inclusão (década de 90 até as
próximas décadas do século 21)
—, este lema tem a cara da Inclusão. Mas se
levarmos em conta o conceito de Participação
Plena, o lema teve a sua semente plantada em 1962, em plena era da
Integração, e germinada a partir de 1981
graças ao Ano Internacional das Pessoas
Deficientes.
A semente consistia na idéia de que as pessoas com
deficiência poderiam ser participantes, ou seja, geradoras de
bens ou serviços, e não meras receptoras.
Seguem-se, cronologicamente, os principais documentos e fatos sobre a
evolução desta poderosa idéia,
começando com um fato inédito ocorrido em 1935
(era da Segregação).
1935:
Na década de 30, um grupo composto por cerca de 300 pessoas
com deficiência física conseguiu chamar a
atenção da sociedade americana ao protestar
contra o fato de que suas fichas de pedido de emprego foram carimbadas
com as letras “DF” (significando
“deficientes físicos”). Elas pertenciam
à Liga dos Deficientes Físicos e permaneceram
sentadas por nove dias na porta de entrada do Departamento de Albergues
da Cidade de Nova York. E acabaram conseguindo vários
milhares de empregos em todo o país.
1950-1960:
Veteranos com
deficiência (da II Guerra Mundial) iniciaram um movimento
pró-ambientes sem barreiras. Isto propiciou a parceria entre
a Administração Federal dos Veteranos, o
Comitê Presidencial de Emprego de Deficientes (hoje renomeado
Comitê Presidencial para Pessoas com Deficiência),
a Sociedade Nacional ‘Easter Seals’ e outras
instituições - parceria esta que produziu as
primeiras normas americanas de acessibilidade em
edificações.
1962:
Até a
década de 60, as pessoas com deficiência eram
tratadas como objetos de caridade, não podiam opinar e
tinham de obedecer às decisões que os
especialistas e os pais tomavam por elas, em tudo o que se referia
à vida delas. A situação
começou a mudar em 1962 quando um grupo de 7 pessoas, todas
tendo deficiências muito severas (tetraplegia em sua
maioria), resolveu agir. Edward V. Roberts (ou simplesmente
Ed Roberts) era o líder do grupo. Ed Roberts e seus amigos
(conhecidos em Berkeley como “Os Tetras Rolantes”)
criaram o serviço de atendentes pessoais de que eles mesmos
precisavam a fim de viver com autonomia, o que originou o movimento de
direitos das pessoas com deficiência nos EUA.
A fotobiógrafa Lydia Gans relata que, em 1962, Ed Roberts
foi um dos primeiros estudantes com deficiência a levar vida
independente na Universidade da Califórnia. (artigo
“Ed Roberts at home and at large”, in New Mobility,
Culver City, v. 5, n. 15, p. 4, maio/junho 1994).
Devido à sua tetraplegia severa em consequência da
poliomielite que teve aos 14 anos de idade, Ed Roberts não
movia nenhuma parte do seu corpo exceto a boca e os olhos. Para
respirar, ele tinha de ficar, à noite, deitado dentro de um
pulmão de aço (um enorme
‘tanque’, como ele gostava de chamar) e, durante
algumas horas do dia, sentado fora do ‘tanque’, mas
com um respirador portátil.
É claro que este grupo visionário sabia o que
estava fazendo. Como dizia o próprio Ed Roberts:
“A filosofia era bastante clara para nós. Isto era
uma questão de direitos civis. As pessoas presumiam que
fracassaríamos se nos dessem nossos direitos, mas isso
não aconteceu”. Portanto, nos EUA, o movimento
pelos direitos das pessoas com deficiência começou
em 1962 com “Os Tetras Rolantes”.
1970:
Judy Heumann, fundadora da
Disabled in Action (DIA), processou o Conselho Municipal de
Educação de Nova York quando o seu requerimento
de autorização para lecionar foi negado. A
razão que lhe foi alegada – por sinal, a mesma
utilizada para barrar a matrícula dela na
educação infantil – era que a sua
cadeira de rodas constituía um risco de incêndio.
A ação, ganha na justiça, estreou a
militância de Judy Heumann e, mais tarde, a sua carreira no
Ministério da Educação dos EUA.
1972:
O movimento de vida
independente começou em 1972 com a
criação do Centro de Vida Independente de
Berkeley (CVI-Berkley), o primeiro CVI dos EUA e do mundo, estando Ed
Roberts à frente com todo o seu empoderamento,
competência e carisma, juntamente com outras pessoas com
deficiência como, por exemplo, Phil Draper (que tem
tetraplegia por lesão medular) e Judy Heumann (que tem
tetraplegia por poliomielite).
Ed Roberts, em uma entrevista sobre o Centro de Vida Independente de
Berkeley, contou que a sua luta pelo estilo de vida independente
começou depois de vários anos de
experiência como ativista no movimento pelos direitos civis
dos negros e mexicanos. E acrescentou que ele pensou: “O que
estou fazendo aqui? Aprendi todas essas ótimas habilidades
organizacionais, mas agora eu deverei juntar-me às pessoas
com deficiência”. Historicamente, o movimento de
direitos civis abrangeu o período de uma
geração (1954-1980) em todo o mundo.
1973:
A Seção
504 da Lei de Reabilitação de 1973, dos EUA,
torna ilegal - para órgãos federais,
universidades públicas, empreiteiros federais e qualquer
outra instituição ou atividade que receba
recursos financeiros federais - discriminar pessoas com base em
deficiência. Mesmo pressionado por inúmeras
demonstrações de protesto, o então
Ministério da Saúde,
Educação e Bem-Estar só regulamentou
esta lei em 1977.
1975:
O documento mais antigo no qual consta a ideia da
Participação é a
Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes,
que diz: “As organizações de pessoas
deficientes podem ser beneficamente consultadas em todos os assuntos
referentes aos direitos das pessoas deficientes”
(Organização das Nações
Unidas, 9/12/75)
1976:
Culminou tragicamente em 1976
um movimento iniciado em 1960 pelos negros e simpatizantes brancos da
África do Sul para resistir à opressão
do regime do apartheid. Em 21/3/60, aconteceu o chamado Massacre de
Sharpville. Surgiram vários líderes, um dos quais
era Steve Bantu Biko, o mais notável. Foi formado o
Movimento da Consciência Negra (MCN), inicialmente com a
proposta de campanhas não violentas e posteriormente com a
ideia de resistência violenta.
O MCN reivindicava resistência à
política do apartheid, liberdade de expressão e
outros direitos e seus membros confrontavam as realidades legais,
culturais e psicológicas do regime dos brancos separatistas.
Eles buscavam não apenas a visibilidade dos negros, mas
também a real participação dos negros
na sociedade e nas lutas políticas. Organizaram-se
vários grupos de autoajuda nas comunidades negras. Diante de
muitas dificuldades, o movimento não foi aniquilado; pelo
contrário, ele cresceu e recebeu amplos apoios entre os
negros e os brancos sul-africanos.
No dia 16 de junho de 1976, em meio aos distúrbios raciais
nas ruas de Soweto, foi morto o adolescente Hector Pieterson, 12 anos,
que aparece na foto de Sam Nzima sendo carregado por Mbuyisa Makhubo,
tendo ao lado sua irmã, a também adolescente
Antoinette Pieterson, 17 anos. Desde então, o dia 16 de
junho se tornou o Dia da Juventude.
1977:
Steve Bantu Biko (1946-1977) foi um notável ativista
não violento e antiapartheid. Sua luta consistia em
empoderar os negros e Biko ficou famoso pela frase que ele criou:
“Black is beautiful”, que para ele significa:
“Cara, você está ótimo como
você é, comece a se olhar como um ser
humano”.
Biko foi preso no dia 18 de agosto de 1977, teve traumatismo craniano
enquanto estava sob custódia da polícia e foi
acorrentado à grade da janela da cadeia por 24 horas. Em
11/9/77, a polícia o colocou numa viatura para
levá-lo à prisão de
Pretória. Lá chegando, ele morreu no dia seguinte
em circunstâncias misteriosas. Seu amigo, o jornalista branco
Donald Woods, investigou, fotografou e escreveu toda a
história de Biko em um livro que publicou após
ser forçado pelo regime do apartheid a retornar à
Grã-Bretanha.
1980:
Segundo William Rowland, a
questão da deficiência na África do Sul
precisa ser vista no contexto da luta de
libertação. Durante a década de 80 e
no início dos anos 90, “as pessoas com
deficiência eram parte daquela luta e hoje nós
compartilhamos os frutos de uma nova democracia”. Para cada
pessoa que morreu na luta, três outras ficaram com uma
deficiência. E foi deste charco de injúria e raiva
que emergiu a liderança da organização
Pessoas com Deficiência da África do Sul, que
projetou o movimento pelos direitos das pessoas com
deficiência no país. Estas foram também
as condições que deram origem ao movimento
massivo de pessoas com deficiência, que atraiu entre 10.000 e
12.000 ativistas, que trabalharam unidos e falaram com uma
única voz não silenciável.
1981:
Foi comemorado em todo o
mundo o Ano Internacional das Pessoas Deficientes (assim proclamado
pela ONU em 1979), cujo lema foi Participação
Plena E Igualdade.
1981:
A Unesco aprovou a
Declaração de Sundberg, na qual se encontra a
seguinte frase: “A Conferência Mundial sobre
Ações e Estratégias para
Educação, Prevenção e
Integração afirma que as autoridades
públicas, as organizações qualificadas
e a sociedade como um todo devem levar em
consideração, ao prepararem qualquer
estratégia de médio ou longo prazo pertinente a
pessoas com deficiência, os princípios
fundamentais de participação,
integração, personalização,
descentralização
(setorização) e coordenação
interprofissional, de tal modo que: (a) A plena
participação das pessoas com
deficiência e suas associações em todas
as decisões e ações a elas pertinentes
seja assegurada”.
1982:
A ONU, através da resolução 37/52,
adotou o Programa Mundial de Ação relativo a
Pessoas com Deficiência, cujo parágrafo 93 se
refere às organizações de pessoas com
deficiência dizendo: “Os estados-membros devem
estabelecer contatos diretos com essas
organizações e lhes proporcionar canais para que
possam exercer influência sobre as políticas e
decisões governamentais em todos os campos que lhes
concernem. Os estados-membros devem prestar o apoio financeiro que,
nesse sentido, seja necessário às
organizações de pessoas com
deficiência.”
1986:
No artigo “Nada
Sobre Nós, Sem Nós: algumas reflexões
sobre o movimento das pessoas com deficiência na
África do Sul”, William Rowland conta que, em
1981, o Governo se recusou a reconhecer o Ano Internacional das Pessoas
Deficientes e que, em 1986, à revelia das
próprias pessoas com deficiência, proclamou
convenientemente o Ano das Pessoas Deficientes da África do
Sul. As lideranças das pessoas com deficiência se
retiraram da conferência nacional e só retornaram
quando lhes foi garantido o espaço para ler a mais poderosa
declaração até então
escrita. O líder Phindi Mavuso fez a leitura do
“catálogo” de injustiças,
contendo a dupla discriminação do apartheid e das
deficiências.
Quando Eugene Terreblanche convocou seus homens “armados com
um milhão de rifles”, Mavuso e mais 1.200 pessoas
com deficiência marcharam até a colina de Soweto
onde, diante das portas do Hospital Baragwanath, lançaram o
protesto contra a crescente onda de violências.
Além do protesto, as lideranças realizaram duas
iniciativas: a iniciativa política para mobilizar as pessoas
com deficiência para reivindicarem seus direitos; e a
iniciativa desenvolvimentista para gerar renda através da
autoajuda. E também construíram uma nova
filosofia: a deficiência não era uma
questão de saúde e bem-estar, e sim uma
questão de direitos humanos e de desenvolvimento; o modelo
médico da deficiência não era adequado
e os médicos e assistentes sociais “não
deveriam controlar nossa vida, os métodos pacifistas de luta
serviriam melhor à nossa causa e nós
deveríamos nos alinhar com o movimento de
libertação. Nós nos conscientizamos e
adotamos o nosso (agora famoso) lema: Nada Sobre Nós, Sem
Nós”, termina Rowland.
1992:
Pessoas com
deficiência reunidas no Canadá aprovaram a
Declaração de Vancouver (1992), que diz:
“Nós exigimos que os governantes, legisladores e
centros de poder, profissionais e agências de desenvolvimento
reconheçam que as pessoas com deficiência
são verdadeiramente peritas em assuntos de
deficiência e que nos consultem diretamente inserindo-nos nas
atividades concernentes à nossa
existência”.
1993:
Em 1993, era publicado mais um livro cujo título
contém o lema Nada Sobre Nós, Sem Nós.
Este traz o subtítulo: “Opressão
à deficiência e empoderamento”. Autor:
James I. Charlton. No livro, o autor conta que ele ouviu pela primeira
vez a expressão Nada Sobre Nós, Sem
Nós, quando estava na África do Sul em 1993.
“Nada sobre nós, sem nós”
é o primeiro livro na literatura sobre
deficiências que oferece um panorama teórico da
opressão à deficiência, apresentando
semelhanças e diferenças entre racismo, sexismo e
colonialismo. O autor entrevistou, durante 10 anos, ativistas do
Terceiro Mundo, da Europa e dos Estados Unidos. “Nada sobre
nós, sem nós” expressa a
convicção das pessoas com deficiência
de que elas sabem o que é melhor para elas.
1993:
Neste ano, mais de 450
pessoas com deficiência representando 41 países da
Europa (ocidental, oriental, central, nórdica,
balcânica e báltica), América do Norte,
África e Ásia, se reuniram na Holanda e aprovaram
a Declaração de Maastricht (4/8/93), da qual se
destaca a seguinte afirmação:
“Nós precisamos participar plenamente em nossas
sociedades em todos os níveis e, através de
nossas organizações, ser consultados e envolvidos
decisivamente em todos os programas e políticas que nos
afetem. Nós somos os peritos; o nosso poder precisa ser
reconhecido”.
1993:
A Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU) aprovou, através
da Resolução 48/96, o documento “Normas
sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas
com Deficiência” (20/12/93), em que enfatiza:
“Os Países-Membros devem envolver
organizações de pessoas com deficiência
em toda tomada de decisão sobre planos e programas relativos
a pessoas com deficiência ou que afete sua
condição econômica e
social.”(...) “As
organizações de pessoas com deficiência
devem ser consultadas quando estiverem sendo desenvolvidos
padrões e normas de acessibilidade. Elas devem
também ser envolvidas no nível local desde a
etapa do planejamento inicial dos projetos de
construção pública, garantindo, assim,
a máxima acessibilidade”.
1997:
Em novembro de 1997, foi publicado o livro “Awakening to
Disability: Nothing About Us Without Us” (Despertando para a
Deficiência: Nada Sobre Nós, Sem Nós),
de autoria de Karen G. Stone. Editora Volcano Press, 256
páginas.
1998:
Em 1998, foi a vez de mais um livro, cujo título
contém o lema Nada Sobre Nós, Sem Nós.
Título do livro: “Nothing about us without us:
developing innovative technologies for, by and with disabled
persons” (Nada sobre nós, sem nós:
desenvolvendo tecnologias inovadoras para, por e com pessoas com
deficiência). Autor: David Werner. Editora:
HealthWrights/Workgroup for People´s Health and Rights.
Cidade: Palo Alto, Califórnia, EUA.
David Werner informa que, em muitos países, as
organizações de pessoas com deficiência
adotaram o lema NADA SOBRE NÓS, SEM NÓS,
especialmente em países desenvolvidos, mas cada vez mais
freqüentemente em países do Terceiro Mundo. As
pessoas com deficiência estão exigindo ser ouvidas
em decisões que afetam sua vida. Porém, segundo
Werner, as organizações de pessoas com
deficiência ainda não assumiram plenamente a
liderança em assuntos de reabilitação
e de tecnologias assistivas. As crianças com
deficiência quase não podem decidir sobre
aparelhos e equipamentos que elas precisam usar. Isso tem levado a
erros de projeto. O próprio Werner, que desde
criança tem deficiência nas pernas, era obrigado a
usar aparelhos ortopédicos que lhe fizeram mais mal que bem.
Somente várias décadas depois, ele pôde
obter aparelhos que funcionaram bem... graças aos
artesãos com deficiência do Projeto PROJIMO que o
acolheram como parceiro no processo de
solução-de-problemas.
1999:
“Pessoas com deficiência devem ter um papel central
no planejamento de programas de apoio à sua
reabilitação; e as
organizações de pessoas com deficiência
devem ser empoderadas com os recursos necessários para
compartilhar a responsabilidade no planejamento nacional voltado
à reabilitação e à vida
independente” (Carta para o Terceiro Milênio,
9/9/99).
2000:
“Nós acreditamos que o limiar do novo
século é uma época oportuna para todos
― pessoas com deficiência de qualquer tipo e suas
organizações e outras
instituições cívicas, governos locais
e nacionais, membros do sistema da ONU e outros
órgãos intergovernamentais, bem como o setor
privado ― colaborarem estreitamente em um processo consultivo inclusivo
e amplo, visando à elaboração e
adoção de uma convenção
internacional para promover e proteger os direitos das pessoas com
deficiência e aumentar as suas oportunidades iguais de
participação na corrente principal da
sociedade”, diz a Declaração de Pequim
(12/3/00).
Romeu Kazumi Sassaki:
Consultor e autor de livros de inclusão
social. E-mail: romeukf@uol.com.br
Observação:
A Parte 2 (período 2001/2007) será apresentada na
próxima edição. As
referências bibliográficas da Parte 1
aparecerão na Parte 2.