Como interpretar o “ranking das escolas” a partir do Enem
Evaldo Colombini Miranda
Nos
próximos dias deve ser divulgado o resultado do Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio) 2010 pelo MEC. Como acontece todos
os anos, a partir dessa publicação as escolas
são classificadas em um ranking, que passou a ser
considerado critério primordial de
avaliação na hora de escolher a melhor
instituição de ensino. Mas as escolas com
médias mais altas são de fato as melhores?
Para responder, primeiro é necessário uma
reflexão sobre o que é qualidade de ensino. Se
adotarmos um único critério para a
análise (melhores médias em provas como o Enem,
por exemplo), corremos o risco de não considerarmos escolas
cujas propostas de ensino são mais diversificadas,
priorizando valores, trabalhando com turmas heterogêneas e
cujas ações contribuem para a
formação de indivíduos
autônomos e capazes de agir positivamente em grupo.
Essas escolas podem não ser “campeãs do
Enem”.
É importante verificar que tipo de escola estamos
analisando. Sabemos que, quase sem exceção, as
melhores colocadas no ranking são escolas excludentes, ou
seja, selecionam seus alunos. Isso ocorre na admissão
(através de exame de seleção) ou,
ainda, durante o processo, eliminando os “menos
dotados” nas séries que antecedem ao 3º
ano do Ensino Médio, ocasião em que os alunos
participam do Enem e dos vestibulares.
Deve-se levar em conta também que, em todas as escolas,
há diferenças entres os grupos de alunos de um
ano para outro, inclusive quanto ao grau de engajamento em
relação às provas como o Enem e os
vestibulares, o que faz a média da unidade escolar
considerada sofrer variações.
É pouco conveniente também comparar escolas que
inscreveram poucos alunos na prova Enem (algumas apenas 12, 15 alunos),
mesmo com ótimos resultados, com outras que tiveram um
número maior de estudantes participantes (50 alunos ou mais)
– e que eventualmente obtiveram um desempenho menos
significativo.
Há também a possibilidade de ocorrerem
“aberrações”, como seria o
caso, por exemplo, de alguma rede de ensino, inscrevendo os melhores
alunos numa única unidade, o que, obviamente, implicaria
numa “média notável” para
essa unidade, generalizando-se esse resultado para toda a rede.
Como comparar escolas excludentes com outras que valorizam a
diversidade? O que é mais significativo: registrar uma boa
média no Enem, a partir de ações
elitizantes, ou criar condições para que todos os
alunos efetivamente evoluam no processo? Assim, é mais
consistente verificar o que foi feito com o alunado de uma determinada
escola, desde sua admissão até o final de seu
processo de formação.
Essa avaliação, caso fosse feita, estaria sujeita
a uma complexa teia de critérios, tais como a
verificação de como o aluno ingressou no sistema,
combinada com a análise do meio social e o universo familiar
a que pertence, currículos, culturas escolares, saberes mais
gerais e conhecimentos específicos que foram adquiridos.
É inegável a importância de se produzir
indicadores de qualidade do ensino oferecido pelas nossas escolas, mas
a redução de critérios pode fazer com
que propostas de ensino mais ricas e diversificadas deixem de ser
reconhecidas como de qualidade.
Enfim, na hora de escolher a escola de seu filho, além do
resultado do Enem, deve-se verificar o projeto pedagógico,
analisar a equipe docente, conhecer o espaço
físico, saber da existência de recursos para o
enriquecimento do processo ensino-aprendizagem, observar a conduta dos
alunos e, acima de tudo, refletir se a proposta da escola atende
à sua expectativa de formação em
relação a seu filho.
Evaldo Colombini Miranda é consultor em
educação e diretor da Educon Consultoria em
Educação (educon@equipeeducon.com.br).