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Juventude e empreendedorismo cultural
Marcelo Rocha

Cerca de 50 milhões de brasileiros encontram-se na faixa etária dos 15 aos 29 anos, sendo 11 milhões deles só no Estado de São Paulo. Na região metropolitana de São Paulo, aproximadamente 25% são membros ou participam de algum grupo de criação cultural, de acordo com pesquisa “Juventude: Cultura e Cidadania” da Fundação Perseu Abramo.

Apesar de a cultura muitas vezes não ser entendida como prioridade nas políticas públicas para a juventude, o envolvimento direto ou indireto do jovem em atividades artístico-culturais tem papel fundamental nessa etapa do desenvolvimento, contribuindo para que ele reflita sobre seu lugar no mundo, além de ser um elemento fundamental para formação da identidade, integração social e prevenção de situações de risco, como violência, consumo e tráfico de drogas, entre outros.

Ainda que as ações ligadas à cultura estejam muitas vezes voltadas a uma perspectiva inclusiva que vise minimizar possíveis problemas decorrentes das condições de vulnerabilidade enfrentadas pelos jovens, é importante compreender a importância da própria criação artístico-cultural e da possibilidade de acesso do jovem a meios que viabilizem essa criação. Exemplo disso é o relato de um jovem contemplado em 2006 e 2008 pelo Programa Vai da Prefeitura do Município de São Paulo.

O jovem empreendedor explicou que o VAI tinha mudado sua vida, mas que ele não queria que pensassem que o programa estava simplesmente “ajudando os garotos pobrinhos”, e sim que, pela primeira vez, ele estava recebendo recursos para realizar um projeto da própria autoria.

É dentro dessa perspectiva ligada ao empreendedorismo cultural que alguns jovens artistas vêm desenvolvendo seus trabalhos, a partir de atividades geradoras de renda e baseados muitas vezes em princípios de cooperação e solidariedade. Exemplo disso é o Circuito Fora do Eixo, formado há cinco anos por jovens produtores culturais de Cuiabá, Rio Branco, Uberlândia e Londrina que se uniram com o intuito de fazer circular bandas independentes.

Porém, ainda que os grupos de empreendedores culturais tenham aumentado, ser um jovem artista ainda é um desafio nos dias de hoje, pois muitas vezes lhe falta o acesso à informação sobre as diversas fontes de financiamento público e privado, incluindo editais, prêmios, leis de incentivo e fomento, ou mesmo a qualificação para estruturar um projeto para angariar apoio.

Pensando nessas dificuldades, foi criado o Cade - Centro de Apoio ao Desenvolvimento e ao Empreendedorismo. No Cade, aquele que tem entre 15 e 29 anos e reside no Estado de São Paulo tem à sua disposição todo tipo de informação sobre possibilidades de financiamento, dicas a respeito da estruturação de projetos culturais, cursos de aprimoramento de suas habilidades e até bate-papos com jovens empreendedores.

Essa ação pode parecer pequena diante de todos os desafios postos para a juventude, mas é uma iniciativa pioneira - e que já começa a produzir resultados - para garantir a democratização do acesso aos meios necessários à produção cultural jovem. Hoje, a produção de bens culturais é o primeiro item da pauta de exportações americana. Vale a pena pensarmos nessas questões na formulação de políticas públicas para a juventude.

Marcelo Rocha é advogado formado pela Universidade de São Paulo, especializado em gestão pública e estratégica e em relações internacionais. É presidente da Associação Horizontes (www.ah.org.br), entidade sem fins lucrativos que visa promover a sustentabilidade, a cidadania, a inclusão social e a geração de trabalho e renda por meio da educação.

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