Cinema na Educação
Voltando a Viver
Resgatando a auto-estima
Muitas vezes pensamos que as oportunidades de vencer na vida são restritas. Tantas outras nos sentimos infelizes por acharmos que não conseguimos aproveitar uma ou outra chance que tivemos. Na maior parte dos casos, as pessoas costumam a atribuir o fracasso a fatores externos, não relacionados diretamente a seu próprio desempenho, formação ou força de vontade. Será que já paramos para pensar que a cada novo dia que nasce temos a nossa frente novas possibilidades de êxito (ou de fracasso)?
"Voltando a Viver", filme dirigido e estrelado pelo talentoso Denzel Washington (astro de "Tempo de Glória", "Malcolm X", "Um Grito de Liberdade", "Filadélfia" e tantos outros sucessos) nos conta a história de um jovem que colocava como obstáculo a seu sucesso a infeliz história familiar durante sua infância.
Se refletirmos a respeito dessa situação, verificaremos que tanto psicólogos quanto psiquiatras, passando por psicopedagogos, educadores e outros estudiosos atentos às relações familiares e sua influência na formação de uma criança, dizem que essa etapa (a infância) sedimenta atitudes perante a vida, sentimentos em relação às outras pessoas, postura diante de problemas, caráter, predisposição para o trabalho e para o estudo,...
Isso poderia, sem sombra de dúvidas, justificar a revolta de muitas pessoas perante a vida, inclusive serve de explicação para todo o rancor do personagem central de "Voltando a Viver" (história verídica, diga-se de passagem). E daí? O que fazer?
Diagnosticado o problema, qual o encaminhamento a ser dado num caso como esses? Os educadores que se defrontam com situações em que determinados alunos têm rendimento abaixo do normal, atitudes agressivas em sala de aula, dificuldades de socialização ou mesmo que se recusam a participar das atividades e projetos propostos, devem simplesmente encaminhar o problema para orientadores educacionais, psicólogos ou psicopedagogos?
A princípio diria que esse apoio é fundamental. Psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos e orientadores educacionais são profissionais que estudaram e se especializaram nessa importante área de atuação, que conhecem casos semelhantes, que já realizaram trabalhos relevantes na recuperação da auto-estima e da confiança de outras crianças ou adolescentes.
Os professores, entretanto, não devem se esquivar desse trabalho, a ser realizado em parceria com outros profissionais. Mesmo porque a atuação clínica de terapeutas, mesmo que em bases regulares (2 ou 3 consultas por semana), tem que contar com o suporte e a colaboração de pais e professores para verdadeiramente se efetivar. Somente assim existe a possibilidade real de recuperação do paciente/aluno.
Pais e professores estão todos os dias vivendo os problemas, as realizações, as dificuldades ou as vitórias dessas crianças ou adolescentes. O acompanhamento dos passos trêmulos de uma criança que começa a andar se estende como responsabilidade na vida dos pais até a entrada na vida adulta de seus filhos. A formação educacional dada por professores tem que fornecer elementos que permitam a interpretação e inserção de seus alunos no mundo, mesmo daqueles que tem mais dificuldades ou problemas...
O Filme
Antwone Fisher (Derek Luke, do ótimo "Encontrando Forrester") é um jovem e problemático marinheiro. De temperamento explosivo, parte freqüentemente para agressões a companheiros quando provocado. Por esse motivo acaba sendo enviado para tratamento com um psicólogo da marinha, Jerome Davenport (Denzel Washington).
A princípio, Fisher se mostra relutante em aceitar qualquer apoio por parte do terapeuta. Com o passar de alguns encontros, onde ficava durante todo o tempo calado, recusando-se a dar qualquer informação que pudesse ser analisada e estudada por Davenport, o jovem percebe que só poderá se livrar daquelas inconvenientes consultas caso se disponha a contribuir com o trabalho do psicólogo.
Não existe até esse momento a intenção de auxiliar a si mesmo por parte de Fisher. O tratamento lhe parece totalmente dispensável e inoportuno. Ao se decidir por falar e contar sua história de vida para o tenente Davenport, ele queria apenas se ver livre daquele compromisso.
A partir do momento em que o diálogo entre os dois passa a fluir, começamos a rastrear na infância os motivos de todo o rancor de Fisher. Davenport deixa de ser visto como apenas um psicólogo no exercício de sua função profissional e passa a ser encarado por seu paciente como conselheiro e autêntico pai.
A superação dos problemas, muito delicados, passa por etapas difíceis e somente o apoio, a consideração e a perseverança de Davenport podem vencer as resistências criadas pelo próprio Fisher a sua felicidade. Filme sensível, que comove as platéias sem apelar para sentimentalismos, "Voltando a Viver" chama a atenção para a necessidade de suporte, consideração e carinho pedidos diariamente a todos nós, de diferentes formas, por nossos alunos, pacientes, filhos,...
Aos Professores
1- Criar estereótipos para alunos é uma das mais freqüentes atitudes dos professores (e demais profissionais que atuam na educação). É comum ouvirmos professores se referindo a um determinado aluno como sendo um problema (entre tantas outras referências, como "melhor aluno", "aluno falante", "patricinha",...). Tal atitude é digna de reprovação. Ao colarmos "etiquetas" alusivas a perfis em nossos alunos, estamos de certa maneira reforçando os tais estereótipos e tornando a resolução do problema mais difícil e distante. Não há situação que não possa ser resolvida. Temos que auxiliar nossos alunos em situações de maior dificuldade, inclusive tendo maturidade para encaminhar tais alunos a atendimentos por parte de especialistas (dentro ou fora da escola) ou alertando a família.
2- "Voltando a Viver" permite aos professores em trabalho com os alunos a apresentação de um caso notável de recuperação da auto-estima, da vontade de vencer e do respeito pelos outros. Todos temos oportunidades, elas nos são dadas a cada novo dia de nossas vidas. Como educadores devemos ressaltar que cada momento de nossa existência guarda chances que não teremos em outras ocasiões. Costumo dizer a meus alunos que o simples fato de estarmos juntos representa uma experiência única, que deve ser vivenciada de forma plena. Temos que dividir com nossos alunos, além de nossos conteúdos, a vontade de viver, o prazer em estar aqui.
3- No aspecto mais prático do trabalho com filmes, cabe ressaltar que "Voltando a Viver" pode ser utilizado como base para trabalhos em redação, sociologia e filosofia (entre outras possibilidades). Apresento abaixo alguns exemplos:-
a) Poderíamos, por exemplo, antes de ver o filme, questionar o título dado a esse longa-metragem em português e, depois de tê-lo assistido, confrontar as respostas com a idéia trabalhada no filme.
b) O que significa "volta a viver" para o personagem central? Esse "renascimento" pode acontecer com qualquer pessoa? Vocês conhecem pessoas que já passaram por situações semelhantes? Fundamentalmente, o que significa "viver"?
c) De que forma as relações familiares influem nas escolhas e caminhos de vida das crianças e dos jovens? Que tal desenvolver esse tema numa redação?
Ficha Técnica
Voltando a Viver
(Antwone Fisher)
País/Ano de produção:- EUA, 2002
Duração/Gênero:- 113 min., Drama
Direção de Denzel Washington
Roteiro de Antwone Fisher
Elenco (vozes):- Denzel Washington, Derek Luke, Malcolm David Kelley,
Cory Hodges,
Joy Bryant, Salli Richardson, Kevin Connolly, Rainoldo Gooding
Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/voltando-a-viver/voltando-a-viver.asp
- http://www.cinemaemcena.com.br/cinemacena/crit_editor_filme.asp?cod=2436