Diário de Classe
Conteúdos Televisivos: Proibir é a Solução?
Izabel Sadalla Grispino
Como a escola pode ajudar as crianças frente à TV? Como educar a leitura que elas fazem da TV? O primeiro passo é, sem dúvida, conhecer os programas a que elas mais se apegam. Estudar-lhes as características e os aspectos que mais as impressionam.
Proibir, simplesmente, não é o caminho. A proibição só vai aguçar a curiosidade, a vontade de assistir-lhes. Ao proibir, é preciso explicar as razões. Manter com as crianças uma aprendizagem crítica, uma aprendizagem do pensamento divergente. Ensinar a criança a questionar, a duvidar, a encontrar outras saídas, diferentes das apresentadas no filme.Duvidar do que se vê é um bom exercício mental, dizem os psicólogos. A atitude reflexiva favorece a elaboração de exercícios mentais, que a criança pode exercitar ao assistir aos filmes, aos desenhos.
Passando esse comportamento para a prática, uma escola relatou sua experiência, que pode ser de valia a outras escolas. Os professores notaram que a brincadeira que mais se sobressaia, em crianças na faixa de 4 a 5 anos, era a “Pouver Rangers”. Foram conhecer este programa. Perceberam, entre outros fatores, que os heróis, no caso japoneses, conquistam tudo magicamente e apenas pelo prazer da luta e não em razão de um ideal. Não agem de modo inteligente ou com astúcia. São heróis que empobrecem a imaginação da criança, diferentes dos heróis de antigamente, que conquistavam pela busca de um ideal.
Os professores, após terem assistido e avaliado os programas, passaram, em dias alternados, a promover sessões de TV entre os alunos. Foram escolhidos o Sítio do Pica-pau Amarelo, o Castelo Rá-Tim-Bum e um filme dos Power Rangers. Embora as crianças apreciassem todos, mostravam preferência pelo Pouver Rangers. Porém, após tê-lo assistido, a meninada ficou muito excitada, mais agitada e mais agressiva na hora de brincar.
Uma das estratégias adotadas foi encaminhar a criança para uma esclarecida interpretação. Professor e aluno raciocinavam juntos, a criança era encaminhada à ponderação, ao abrandamento das lutas suicidas, a exaltar ações que conduzem ao amor, ao bem.
Uma outra preocupação dos pais e dos professores é com os jogos eletrônicos. Até que ponto os videogames viciam e o que fazer? Especialistas da área de tecnologia dizem que a escolha dos jogos não pode ser aleatória. Eles devem ser relacionados segundo as características de cada criança, considerando, também, os aspectos socioculturais , educativos e psicológicos.
A criança, ao jogar, expressa seu juízo moral, através da livre escolha que faz do destino do personagem, da tomada de decisões e dos sentimentos manifestados. Isso dá a oportunidade, aos pais, aos educadores, discutirem, esclarecerem os aspectos necessários à condução de uma postura moral, compatível aos valores sociais. É preciso fazer a criança entender que o jogo é uma fantasia momentânea; fantasia, imaginação e não realidade.
Os videogames têm seu lado positivo e negativo. É uma questão de regra e limites, que vale para o videogame, a TV, o computador, a Internet. Crianças que jogam de forma compulsiva sofrem os malefícios decorrentes, como sua exclusão do convívio social, o descumprimento de suas obrigações, dos efeitos colaterais orgânicos, como irritação dos olhos, excitação, insônia, principalmente quando os jogos são muito violentos.
Com horário e disciplina, os jogos podem trazer benefícios. Confirmam os especialistas que videogames e jogos para computador são excelentes para o desenvolvimento cognitivo. Desenvolvem a percepção, a memória visual e auditiva, a rapidez, o raciocínio, a capacidade de solucionar problemas e, até mesmo, a socialização, quando jogados via Internet.
Em trabalhos psicopedagógicos, os softwares são bastante utilizados. Nas salas de aula, compete ao professor explicitar os conceitos envolvidos, a fim de que o jogo se converta em instrumento de aprendizagem. É importante que se discutam as questões morais, éticas e de relações humanas, implícitas nos jogos, praticados na sociedade, na escola, em casa.
Em tudo, não há modelo único de educação. Vai depender de cada criança. As regras e os limites devem ser passados dentro dos conceitos éticos, morais, culturais de cada sociedade, de cada família. O importante é conhecer a criança que se tem à frente para ser educada e agir de acordo com cada caso. Para impor limite aos videogames, ao computador, estuda-se a melhor forma, como programar atividades compartilhadas, passeios, esportes, diálogo... Disciplinar os horários, conscientizá-los da hora de estudar, de dormir e de brincar, é imprescindível. Videogame, por exemplo, só depois da lição de casa feita.
Com a finalidade de evitar a violência do jogo, a prática de atos sexuais e desvirtuamento de valores éticos e morais, o Ministério da Justiça definiu a norma de que todos os cartuchos e CDs, de games, tragam, em suas embalagens, um selo de classificação etária.
O Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento – CAD, clínica formada por uma equipe multidisciplinar da capital, explicitou regras úteis para o aconselhamento e à aprendizagem de crianças e de jovens.
Dos 3 aos 7 anos: As regras são externas à criança, que espera que os adultos lhe dêem ordens. Aproveite a fase para fixar bem a rotina e estabelecer hábitos saudáveis.
Dos 7 aos 12 anos: A criança começa a internalizar as regras. Explique os porquês de suas exigências, sem abrir mão delas. Ela espera esse limite do adulto. É uma boa fase para trabalhar direitos e deveres, estabelecer horários das atividades escolares, de lazer e sono.
Dos 12 anos em diante: O jovem já deve ter adquirido autonomia e capacidade de pensar os valores por si mesmo. Diálogo é essencial. Ele deve participar da construção e/ou reformulação das regras para poder organizar sua própria vida. Vai exigir coerência dos pais e dos educadores e um compromisso recíproco de respeito às regras.
Sobre Izabel Sadalla Grispino
Izabel Sadalla Grispino nasceu, em 1931, na cidade de Guariba/SP. Fez seus primeiros estudos em sua cidade natal e, posteriormente, cursando o antigo “clássico” na cidade de Jaboticabal até a 2ª série, terminando-o em São Paulo. Ingressou na USP de São Paulo, cursando o curso de Letras, licenciando-se em Neolatinas. Cursou pós-graduação em Língua e Literatura Francesa, em nível de mestrado, quando defendeu a tese: “O Simbolismo Francês e a poesia de Paul Verlaine e Arthur Rimbaud”. Pós-graduação, também, em Língua e Literatura Espanhola, em Filologia Portuguesa e Literatura Brasileira. Licenciou-se no Curso de Pedagogia com especializações em Administração, Supervisão, Orientação Educacional e Coordenação Pedagógica. Ocupou, por concurso, na educação básica, as cadeiras de Português e Francês e lecionou no ensino superior Língua e Literatura Francesas. Ainda por concurso, ocupou os cargos de diretora de escola e de supervisora de ensino, cargo no qual se aposentou. Foi membro integrante da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), da Secretaria da Educação, no qual monitorou e coordenou cursos de atualização, de aperfeiçoamento e de especialização em língua portuguesa e metodologia para professores e especialistas da educação do ensino fundamental e médio, então, 1.º e 2.º graus.
Preparou, treinou, pela CENP, monitores, dos cursos acima mencionados, para todo o Estado de São Paulo. Orientadora, pela USP-São Paulo, de estágios supervisionados do Curso Normal e de Letras. Autora de crônicas, de centenas de artigos educacionais, comportamentais e sociais, publicados em jornais e revistas. Poetisa, com mais de 400 poesias. Compositora musical – letra e música – de obras sacras e populares. Por ocasião do centenário da cidade de Guariba, sua terra natal, compôs – letra e música – o “Hino do Centenário” e o “Hino a São Mateus”, padroeiro da cidade. A partir de 1970, entre suas experiências, exercidas no magistério ao longo da carreira, ressaltam-se os cursos ministrados, em larga escala, para professores e especialistas em educação de todo Estado de São Paulo. Colunista, por mais de uma década, colaborando semanalmente em diversos órgãos de imprensa, destacando-se os jornais: “A Cidade” de Ribeirão Preto, “Tribuna Impressa” de Araraquara, “Primeira Página” de São Carlos, “Guariba Notícias” de Guariba. Faleceu em setembro de 2007, vítima de um aneurisma cerebral, deixando um acervo bastante importante no que diz respeito ao atual sistema educacional brasileiro.
Após seu falecimento, houve centenas e centenas de solicitações, principalmente do livro “Prática Pedagógica (Estruturando Pedagogicamente a Escola)”, um auxiliar do professor em sala de aula e com sua edição completamente esgotada. Foi daí que surgiu a ideia do site www.izabelsadallagrispino.com.br , no qual poderia ser reunido todo o seu acervo cultural, e, por meio dele, chegar a um número maior de pessoas interessadas em suas publicações. No que diz respeito ao livro “Prática Pedagógica”, foi dada a oportunidade de o visitante do site baixá-lo em seu computador. Inicialmente, o site começou timidamente, sendo a sua divulgação feita no chamado “boca-a-boca” nas escolas, nas faculdades e universidades, nas bibliotecas e nas rodas de amigos em conversas nas ruas. Quando se imaginava que o site seria apenas regional, atingindo somente Ribeirão Preto e suas cidades vizinhas, eis que o site começa a ser acessado em todos os quadrantes do nosso Brasil e, hoje, em mais de 120 países no exterior. Francisco Graciano Grispino.