Cinema na Educação
Sal de Prata
Entrevista com o Diretor Carlos Gerbase
1. Quais eram as suas intenções ao dirigir sal de prata? Alguma mensagem específica para decifração do público?
Gerbase:
Tentei fazer um filme sobre cinema que fosse atraente para qualquer
espectador. Não queria fazer um filme hermético,
difícil. Ao mesmo tempo, éclaro que o roteiro
não podia ser didático demais, nem linear.
Aí nem tem graça fazer cinema. A
última meia hora do filme é um desafio para o
espectador, que deve compreender uma montagem feita de fragmentos de
dois filmes não concluídos. Ninguém
veio me dizer, depois de uma sessão, que o filme
é incompreensível. E alguns espectadores gostaram
exatamente do desafio e da sensação de ver uma
engrenagem cinematográfica ser dramatizada.
2. O seu filme trabalha com a metalinguagem, recurso muito utilizado por Fellini, Truffaut e Woody Allen. Qual o seu filme metalinguístico predileto? Por quê?
Gerbase: Gosto muito de "Dublê de corpo", de Brian de Palma. Talvez seja o meu favorito. Ele consegue ser engraçado e dramático ao mesmo tempo. Mas há muitos outros, como "A noite americana", em que Truffaut lança um olhar carinhoso sobre o set, Woody Allen faz piadas metalinguísticas em vários filmes e, em "Zelig" ,faz um metadocumentário bem legal.
3. E o cinema nacional? Considera que estamos em nossa melhor fase?
Gerbase: Não. De jeito nenhum. Alguns poucos filmes de sucesso não podem esconder que a maior parte da nossa produção não tem espaço. As leis Rouanet e do Audiovisual devem ser revistas, e quem sabe complementadas com legislação específica para o mercado exibidor. Creio que o cinema brasileiro hoje é maduro e diversificado, mas não tem o necessário apoio para conquistar o público.
4. Qual o seu filme nacional favorito? Por quê?
Gerbase: "Vidas secas", de Nelson Pereira dos Santos, me emocionou muito quando o assisti, bem jovem, e creio que nenhum outro filme brasileiro o supera enquanto retrato de nosso País.
5. E os clássicos? Todo estudante de cinema precisa passar por uma lista obrigatória de filmes que sejam a base de sua formação. Quais os mais valiosos e obrigatórios no seu ponto de vista?
Gerbase: Um estudante de cinema deve ver tudo o que for possível e dar atenção especial para os clássicos. Eu diria também que o mundo do documentário não pode ficar de fora.
Algumas sugestões:
- Méliès, Porter e Gruffith para entender o
início da linguagem cinematográfica.
- Eisenstein para entender quando esta linguagem atingiu o
estágio de arte.
- Cinema hollywoodiano dos anos 30 e 40 para entender como os cineastas
americanos conquistaram o mundo.
- Orson Welles, um americano genial que não parece americano.
- Truffaut e Rohmer para entender como a França enfrentou os
americanos com coragem, sem seguir os cânones de Hollywood.
- Antonioni e Betolucci, que fazem o mesmo na Itália.
- Kurosawa, mestre paradoxal da contensão e do arrebatamento.
- Scorcese e Coppola, por combinarem bilheteria e ousadia
estética.
- Bergman, um filósofo antes de ser cineasta.
6. O que acha da crítica de cinema no Brasil?
Gerbase: Com algumas exceções, muito subserviente ao mercado. Acho que há uma nova geração escrevendo bem na internet, mas sem espaço na imprensa. Um bom crítico deve ter uma formação cultural sólida (no cinema e nas artes dramáticas em geral) e independência para escrever de acordo com sua consciência. As duas coisas são difíceis de obter, quando, além de escrever críticas, o profissional precisa se desdobrar e fazer uma série de outras coisas no jornal. Conheci um excelente crítico que perdia horas conferindo o horário das sessões.
7. Quais são os caminhos para o estudante que decide hoje dirigir ou roteirizar? Considera um mercado competitivo ou de livre espaço para trabalho?
Gerbase: O único caminho é realizar bons trabalhos, de forma independente, aproveitando as novas tecnologias. É preciso encontrar uma turma de amigos e ralar bastante, errar bastante, até que bons resultados apareçam.
Ficha Técnica
Título
original: Sal de Prata
Gênero:
Comédia
Lançamento no
Brasil: 2005
Direção:
Carlos Gerbase
Elenco:
Maria Fernanda Cândido (Cátia) Camila Pitanga,
Marcos Breda, Bruno Garcia, Júlio Andrade.
Duração:
97 min.