Planeta Educação

A Semana - Opiniões

Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

O Verdadeiro Exercício da Subordinação
Relação de Dependência e Respeito

Gritarias, insubordinações, reclamações, insucessos, não envolvimentos, fofocas, falatórios, vícios... Quantas são as situações que temos diariamente ante a nós que nos fazem reagir impensadamente...

Às vezes, se não exercitarmos nossas capacidades de considerar o outro como um ser tão merecedor de respeito assim como nós, isso independente se ele compartilha ou não de opiniões semelhantes às nossas, corremos o risco de “atropelar” as pessoas, levando-as a ter “sequelas” que podem durar para uma vida inteira.

Parece que logo de manhã, ao acordarmos, ensaiamos palavras de respostas e ofensas a outras possíveis pessoas que poderão, ainda que remotamente, falar ou fazer algo que nos causem alguma forma de desagrado.

Em dias em que a mídia propaga tanto o pagamento do mal pelo mal, do “olho por olho” e “dente por dente”, é necessário revermos nossa capacidade de primeiro oferecer ao outro aquilo que gostaríamos que a nós fosse oferecido, ou seja, dar primeiro para depois, somente depois, recebermos em tempo oportuno, não necessariamente no nosso tempo, o pagamento pelos nossos feitos.

Há pessoas, por exemplo, que ao chegarem a um degrau superior a de outra na escala social julgam-se no direito de não precisarem mais do exercício da subordinação, característica que deve ser exercida tanto para com aqueles que estão numa posição superior a nós, quanto para aqueles que estão em degraus socialmente inferiores aos nossos. Isso mesmo, a subordinação é muito mais do que referenciar alguém que está em escala superior, até mesmo pelo fato de que isso poderia ser fácil demais.

A subordinação real e verdadeira é realmente é capaz de nos fazer entender o “segredo” de se viver bem em meio a várias formas de diferenças. No caso, tome-se como exemplo o que acontece na própria língua portuguesa, ou seja, a subordinação na língua portuguesa é um grande exemplo de vida para nós, por mais estranho que isso possa parecer.

Assim como na língua portuguesa em que toda oração há uma relação de subordinação, ou seja, uma oração principal necessita de termos que a completam, que dão sentido a ela, assim também ocorre em diversos (ou todos) setores de nossas vidas.

É sempre preciso estendermos a subordinação a todas as pessoas, quaisquer que sejam elas, independente do grupo social que esta possa fazer parte, ou da conta bancária que tem sobre seu domínio.

A subordinação vai além de quaisquer barreiras sociais. É perfeitamente possível nos subordinarmos às mais diversas características de todas as pessoas.

Por exemplo, se uma pessoa tem dificuldade de entender nosso vocabulário, é uma atitude de subordinação adequarmos nossas falas de um modo que a mensagem realmente chegue ao nosso receptor.

Se uma pessoa está limpando muito devagar a sala que estamos ali presentes, é uma atitude de subordinação e de educação respeitarmos o tempo dessa pessoa, independente do que achamos ou não, pois é também muito importante que haja respeito às razões do outro, ainda que não sejam em nada semelhantes às nossas.

A subordinação, ou melhor, a real subordinação não é mesquinha, não é hipócrita, não busca os seus próprios interesses. A subordinação é bela, modesta e entende o outro como parte fundamental a si mesmo, a vida em comunidade, numa atitude de civilização.

Assim como na língua portuguesa, como apontado em linhas anteriores, há uma relação de dependência daquilo que se julga mais importante para com aquele que está ali “apenas” para completar... E o que seria de nós, que muitas das vezes nos julgamos tão importantes, sem alguém para nos fazer sentirmos completos?

A nossa verdadeira importância está no viver para servir uns aos outros, ou seja, fazer com que nossos conhecimentos sirvam para completar os conhecimentos dos outros, fazer com o nosso tempo seja administrado para não atropelar o outro nos muitos atalhos que pegamos para melhorar apenas os nossos interesses, fazer com que o nosso agasalho cubra também a pele desnuda de quem não tem o mesmo acesso que nós...

Isso é subordinação, isso é viver em harmonia, isso é dar à vida um sentido superior que aquele que temos apenas para nós mesmos, isso é ser, verdadeiramente, amigo, companheiro, irmão.

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