Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

9/2/2004 - Gol Contra
Educação Universitária e Excelência

Artigos-de-formatura

Imaginem as seguintes situações:

- O dentista interrompe o tratamento de canal a que submetia um de seus pacientes. Com um dos dentes ainda aberto, sem que seu problema fosse solucionado, o paciente é dispensado pelo dentista...

- No final da construção de um prédio de 10 andares um dos fiscais que vistoria a conclusão dos serviços pergunta ao engenheiro responsável pela obra sobre os procedimentos relativos a impermeabilização das colunas de sustentação. O engenheiro não consegue responder e mostra todo o desconhecimento quanto a essa etapa do serviço a partir da expressão de seu rosto...

- O professor ao ser interpelado por um aluno em sala de aula quanto a uma dúvida relativa a matéria básica de sua disciplina, responde ao aluno que nunca ouvira falar de tal assunto.

- Ao se deparar com uma determinada situação de risco durante uma cirurgia, o médico responsável pela operação ordena que o paciente seja "costurado" e diz que tudo o que podia ser feito até aquele momento já havia sido realizado.

Todas as situações descritas anteriormente podem até já ter acontecido em algum lugar do Brasil e do Mundo. São situações hipotéticas, que partem do princípio de que as universidades podem, eventualmente, apresentar deficiências ou falhas em seus processos e metodologias. Não há universidade que possa se mostrar totalmente imune a problemas como os citados.

Imagem-da-Unicamp-e-da-USP
Unicamp e USP (entrada da Faculdade de Medicina)- sinônimos de excelência no ensino universitário brasileiro.

Para superar qualquer falha, as universidades, como centros de pesquisa e excelência em conhecimento se mobilizam para minimizar a possibilidade de erros em seus procedimentos e metodologias e, dessa forma, garantir a seus estudantes o melhor para sua formação, em todas as áreas do conhecimento.

Como lei natural de sobrevivência dessas instituições, investimentos em qualidade na educação se tornaram uma constante, garantindo uma maior procura por novos estudantes, possibilitando reconhecimento e prêmios nacionalmente e, eventualmente, projetando o nome da instituição além das fronteiras de seu país.

Por esse motivo, instituições como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e algumas outras notáveis universidades e faculdades brasileiras se tornaram orgulho nacional. A qualidade de seus cursos é reconhecida internacionalmente. Em suas salas de aula se formaram alguns dos maiores profissionais nas diversas áreas do conhecimento. Os mais importantes experimentos e descobertas da ciência empreendidos no Brasil surgiram em seus laboratórios...

Contrariando a tendência mundial consolidada de busca incessante de maior qualidade em seus procedimentos, serviços e produtos, perseguida inclusive na educação (inclusive na universitária), a Universidade do Vale do Paraíba (Univap), conseguiu marcar um gol contra...

Laboratorios
A excelência na educação universitária pede investimentos em pesquisa,
tecnologia de ponta e profissionais cada vez mais habilitados.

Iniciou o ano letivo com algumas modificações que enfureceram seus alunos e levantaram dúvidas quanto às possibilidades profissionais de quem lá estuda ao ingressar no mercado de trabalho futuro.

A Univap diminuiu a carga horária em meia hora no período noturno e em uma hora no período diurno; demitiu vários professores, reduziu o salário daqueles que ficaram em aproximadamente 25% e contratou professores temporários para substituir aqueles que haviam sido demitidos; Isso sem contar que há dois anos já havia ocorrido uma diminuição de 40 minutos no horário de aulas; Alguns cursos tiveram sua duração reduzida de 6 para 5 anos, outros perderam meio ano de atividades...

Além disso, aumentaram as mensalidades num patamar que vai de 16 a 20%...

Essas informações estão disponíveis no Valeparaibano, principal jornal da região de São José dos Campos, cidade onde se situa a Universidade do Vale do Paraíba (Univap).

Estudei na Univap, que na ocasião ainda era conhecida como Fundação Valeparaibana de Ensino. Tenho apreço pela instituição. Reconheço que a minha formação não foi perfeita, entretanto, há muitos pontos positivos a se destacar em minha passagem por essa instituição.

Até por esse motivo, e observando ainda que os pronunciamentos do Ministério da Educação e Cultura (MEC) em relação ao ocorrido ressaltam o a possibilidade do diploma dos profissionais que se formarem pela Univap não ter valor ou reconhecimento, penso que a reitoria e a coordenação dessa instituição devem rever as alterações ocorridas.

Já existem representações no ministério público pedindo a investigação quanto as possíveis irregularidades e prejuízos causados pelas medidas, tanto em São José dos Campos quanto em Jacareí (onde funciona um campus avançado da Univap).

Esperamos que as urgentes revisões sejam feitas. Até mesmo para que situações hipotéticas como aquelas apresentadas no início desse artigo não ocorram em virtude dos profissionais em questão terem se formado na Univap e que, por isso, tenham deixado de ter aulas, cursos, módulos ou aprofundamentos das matérias em virtude da redução de horas de aula ou de duração dos cursos...

Obs. Para maiores informações sobre a situação, confira as matérias publicada pelo Valeparaibano nos seguintes links:

http://www.valeparaibano.com.br/2004/02/05/pag02/cartas.html
http://www.valeparaibano.com.br/2004/02/04/sjc/univap.html

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