Cinema na Educação
Atlantis - O Reino Perdido
Superando limites
Alguns sobrenomes ou logotipos tornaram-se ao longo da história do século XX verdadeiros sinônimos de determinados produtos, uma dessas marcas conceituadas que nos habituamos a relacionar diretamente ao produto final de suas empresas foi o da Disney.
Desde seus primeiros desenhos animados, ainda nos já aparentemente longínquos anos 1920-30, especialmente no que se refere aos longas-metragens como "Branca de Neve e os Sete Anões", "Dumbo", "Fantasia" ou "Peter Pan", Uncle Walt e seus artistas se esmeraram ao máximo e, com isso, compuseram uma parcela do imaginário de boa parte da criançada de ontem e dos adultos de hoje.
Em virtude do surgimento do vídeo e do DVD e de uma política de constante relançamento de seus clássicos nos cinemas, mesmo as gerações mais novas puderam se encontrar com personagens como Alice, o Capitão Gancho, o Grilo Falante ou, mais recentemente, Simba, Ariel ou Aladar.
O selo de qualidade "Disney" nesses e em outros desenhos animados fez com que o público se tornasse cada vez mais exigente quanto ao produto final dos artistas responsáveis pela elaboração e lançamento de novos trabalhos da empresa. Depois de passar pela década de 1980 tendo produzido poucas animações, nos anos 1990 a produção voltou a toda e, trouxe consigo grandes sucessos de crítica e público e algumas decepções; são resultado dessa nova safra, por exemplo, sucessos como "O Rei Leão", "A Pequena Sereia" ou ainda "Toy Story" (onde a Disney se associou a Pixar para a composição de um novo tipo de desenho animado, com a animação sendo feita quase que totalmente em computadores) e filmes de desempenho pífio, como "O Corcunda de NotreDame", "Pocahontas" e "Atlantis - O Reino Perdido".
Devo ressaltar que esses desenhos citados no final não são ruins, pelo contrário, possuem qualidades inerentes a todas as produções citadas anteriormente, especialmente no tocante aos aspectos técnicos (desenhos, cores, sons, movimentos, músicas) e, mesmo suas histórias são, de fato, interessantes. O que lhes faltou não foi marketing, uma das áreas de maior investimento na indústria cinematográfica atual. Acredito que as histórias não foram envolventes o suficiente, padecendo de falta de carisma ou mesmo sendo lançadas num momento pouco oportuno.
Vejamos o caso de "Atlantis - O Reino Perdido", lançado em vídeo e DVD recentemente, que teve o infortúnio de concorrer com um desenho animado de outra empresa de grande porte e de enorme respaldo junto ao público (a Dreamworks de Steven Spielberg), o mega-sucesso "Shrek" (diga-se de passagem, um reconhecimento merecido pois se trata de uma fábula moderna, adaptada ao gosto da garotada e extremamente crítica quanto a visão adocicada de mundo veiculada em outras produções, como nas da própria Disney).
"Atlantis" tem grandes méritos, principalmente por se tratar de um longa-metragem que instiga nas crianças o gosto pela pesquisa, pela ciência e pela descoberta - tudo o que traz em si o personagem central do desenho, um jovem arqueólogo e lingüista, que inspirado no exemplo do avô, que o criou, busca a lendária cidade perdida de Atlantis (Atlântida). Suas dificuldades para obter patrocínio junto ao museu onde trabalha o acabam levando a aceitar a proposta, feita por um velho e excêntrico milionário, de se juntar a uma expedição que está prestes a embarcar numa jornada a procura daquilo que muitos consideram perdido para sempre (e outros, consideram nunca ter existido), o reino perdido de Atlantis.
Outra qualidade a se destacar refere-se ao idealismo que move o jovem em sua pesquisa e, a verdadeira paixão que nutre pelos livros e pelas línguas desconhecidas, perdidas no tempo, pertencentes a outras civilizações. O respeito que nutre pela cultura diferenciada com a qual tem contato é outra referência importante a se trabalhar com a criançada, principalmente num mundo marcado por vários (maus) exemplos de xenofobia e ódio entre nações.
Se o filme nos traz reminiscências de Júlio Verne em virtude do uso de um grande submarino que nos faz lembrar do Nautilus das "Vinte mil léguas submarinas", ótimo, retomemos o livro clássico e o utilizemos em aulas de literatura, português ou redação. Se a jornada que se desenvolve ao longo dos buracos pelos quais os aventureiros tem que passar para chegar a cidade perdida nos lembrarem outro clássico de Verne, "Viagem ao Centro da Terra", mãos a obra, utilizem mais essa grande obra e enriqueçam ainda mais o diálogo com seus alunos, garanto-lhes, a princípio, os garotos podem reclamar, depois da leitura, eles vão agradecer, são obras deliciosas e imperdíveis.
Discordo dos críticos em geral, que dizem ser "Atlantis" um filme complexo demais para as crianças e infantil para os adolescentes. Acho que eles desmerecem os pequenos e tiram dos jovens um pouco dos sonhos que permeiam suas mentes. Uma civilização perdida é sempre um enigma que atrai a atenção, seduz o público e alimenta a imaginação.
Professores de várias matérias podem aproveitar as citações e referências a Platão e ao monstro marinho bíblico Leviatã (lembrem-se do filósofo Thomas Hobbes e sua obra mais conhecida, entitulada usando-se o nome desse temido colosso dos mares). Levantem hipóteses sobre os motivos do desaparecimento da cidade, perguntem sobre outras áreas importantes que foram varridas do mapa (como Pompéia ou Alexandria), peçam aos alunos para realizar pesquisas, vasculhar material. O desenho está aí para isso, nos divertir e abrir possibilidades, aproveitem!
Ficha Técnica
Atlantis - O Reino Perdido
(Atlantis: The Lost Empire)
Direção: Gary Trousdale /Kirk
Wise
Produção: EUA 2001
Duração: 101 minutos
Gênero: Animação
Distribuidora: Buena Vista International
Narração: Michael J. Fox, Corey
Burton, Claudia Christian,
James Garner, Leonard Nimoy, ...
Dublagem: Maitê Proença, Camila
Pitanga, Deborah Blando,
Márcio Simões, ...
Links:
- http://www.disney.com.br/FilmesDisney/atlantis.htm - Site oficial