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A Semana - Opiniões

Ricardo Rolando Irigoyen Coordenador de espanhol da rede MOPI no Rio de Janeiro, Professor EM colégio MOPI, Professor no colégio Santo Agostinho - Leblon, Tutor de EAD do Instituto Cervantes, Membro da Banca de Elaboração das Provas de Espanhol dos Vestibulares Funenseg, Membro da Banca de Elaboração da Prova de Espanhol da FEPECS, Consultor da Fundação Roberto Marinho (Canal Futura e Tele-educação, Secretário do Centro Exame DELE (Diploma de Espanhol de Língua Estrangeira) - Instituto Cervantes Membro tribunal examinador DELE - Instituto Cervantes.

A orquestra
Ricardo Rolando Irigoyen

Quando tinha nove anos de idade, meu pai comprou ingressos para a ópera e minha avó me levou. 

A partir desse momento passei a curtir a música clássica. Alguns anos atrás esse momento foi revivido na minha mente.

Lembro-me como se fosse hoje que o que mais me impressionou, ao entrar no Teatro Colón, foi o barulho (só posso definir assim) da orquestra afinando individualmente seus instrumentos. 

Parecia uma cacofonia de sons sem sentido.

De repente, entrou um senhor muito distinto com uma vareta na mão e se fez um silencio absoluto na orquestra. Cumprimentou ao público e dirigiu-se a uma plataforma.

Seus braços se abriram como asas de um pássaro pronto para voar e subitamente os desceu e o primeiro acorde de muitos músicos começou a pairar no ambiente do teatro. 

Um acorde atrás de outro, formando uma melodia que voava por cima do público presente.

A primeira vez que entrei numa sala de aula senti a mesma sensação, a mesma confusão de vozes, em lugar de instrumentos. 

Pensei, se um maestro pode colocar ordem e harmonia numa plêiade de músicos, eu também poderei fazer a mesma coisa com este grupo de rapazes e moças. 

Ao final de contas, a palavra maestro, sinônimo de mestre, é aquele que rege uma cadeira de ensino, assim como um maestro rege uma orquestra.

A partir desse momento, deixei de ver meus alunos como simples seres humanos, mas também como instrumentos com vontade e individualidade próprias. 

Cada um deles é capaz de aprender de uma forma única e especial. Concentrei-me em tentar que na sala os alunos fossem parte de um todo, sem perder a individualidade.

Não posso fazer que um trombone toque como uma flauta, nem que um piano soe como um violino, mas posso ensinar música para que cada estudante toque de acordo com seu som. Todo fim de ano tenho a sorte de ouvir, senão uma orquestra perfeita, pelo menos uma melodia.

Cada aluno é um instrumento único e especial, cada um tem seu timbre e habilidades específicas caso seja de vento, de percussão ou sopro. 

Cada estudante responde a um estímulo diferente do outro, quando descobrimos suas características os colocamos em grupos, se não conseguimos organizar uma orquestra completa, pelo menos conseguiremos formar quartetos de cordas, pianistas, etc.

Há momentos na vida de um educador que no fim de ano, ao entrar numa sala de aula, sentimos que os alunos estão afinando suas inteligências e que ao final da aula saímos com a sensação que ouvimos uma ópera.

Os instrumentos chegam prontos dos pais, nós somente podemos ensinar a eles como usar os instrumentos que os pais lhes deram. 

Porém, todos eles chegam com aquilo a mais que Deus dá a todo ser humano e que não depende da genética ou da educação dos pais, a vontade de aprender, de ser melhores.

Isso é o que devemos despertar nos nossos alunos, o desejo de vencer, de superar-se.

Não esqueçam que somente podemos acordar aquilo que existe e está dormido. É triste entrar numa sala de aula depois de outro professor e encontrar alunos dormindo, e quando lhe questionamos isto ao professor, ele nos responde:

- Eu deixo que durmam dessa forma não me perturbam nem a mim, nem àqueles que querem aprender.

E você acorda ou deia dormir?

Ricardo Rolando Irigoyen é professor.

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