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O Sinal Vermelho é a Vez dos Outros
Estela Casagrande

A gente ensina para as crianças que precisam esperar a vez para falar. Que o outro tem direito de pensar diferente. Que tem direito de expressar sua opinião. Que na fila da escola não é para ficar empurrando o coleguinha. Que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar.Apesar de toda nossa oratória, fazemos tudo diferente...

Quarta-feira última chamou-me a atenção o número de carros que passavam no sinal vermelho.

Não era nem dez da noite, o mundo não estava acabando e nem mesmo o jogo de futebol estava começando.

Não era caminho de nenhum hospital e provavelmente nenhuma daquelas pessoas precisava acudir alguém em perigo.

Alguns reduziam a velocidade, outros nem isso.

Dois carros que subiam a avenida em declarada competição passaram sem mesmo diminuir a velocidade no mesmo cruzamento em que tivemos uma morte há menos de um ano.

Um motociclista de entregas fez um malabarismo para não cruzar o caminho dos apressados.

Muito provavelmente nenhum deles saberia responder por que a pressa, por que a urgência.

É apenas o costume. Precisamos arrancar na frente, precisamos ser os mais rápidos, precisamos chegar antes, usando os automóveis como armaduras modernas.

Um dos carros, ao atravessar o sinal, estava com crianças.

Percebi que os motoristas que ficaram impassíveis esperando o semáforo tornar-se verde sentem-se quase envergonhados, bobos que somos por seguir regras, não estar lá na frente, não aproveitar, levar vantagem em tudo, como o personagem do antigo comercial.

Como na lição do jardim de infância, o sinal vermelho é a vez do outro.

E se não estamos ensinando isso para nossas crianças, um dia, duas delas podem se chocar numa dessas esquinas, imitando o comportamento tantas vezes observado em seus pais.


Tomara que não sejam nossos filhos.

Autoria:
Estela Casagrande é jornalista, estudante de Pedagogia, Repórter de Suplementos Ela - Casa & Acabamento Turismo - Cruzeirinho www.cruzeirodosul.inf.br

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