Filosofando
Nossas crianças, o que fazer?
Ricardo Rolando Irigoyen
Um amigo me enviou um artigo de um jornalista argentino, publicado no jornal “La Nación”. O título da crônica se chama “Los hijos de la noche”, para aqueles que não falam espanhol: “Os filhos da noite”. Faz uma série de considerações sobre os filhos da nossa geração, assim como dos relacionamentos entre pais e filhos nesta época tão conturbada.
Isto me fez perceber que os problemas geracionais são iguais nos dois lados da fronteira. Lá e cá morrem jovens em acidentes de carro nas madrugadas. Muitos saem a dançar pela madrugada e voltam somente ao amanhecer, alguns dos quais bêbados ou drogados, dirigindo carros transformados em armas que matam ou favorecem o suicídio inconsciente.
Problemas que surgem por causa da falta de limites que as famílias e o estado deveriam impor aos seus rebentos. Mas, como não sou um especialista no tema ou em qualquer outro, sou simplesmente o que poderia chamar-se de “palpiteiro profissional”, não sou ninguém para julgar.
É verdade que existem jovens com problemas, mas hoje quero falar sobre essa enorme massa da juventude que realmente tem vontade de estudar. Da enorme quantidade de jovens que começam a trabalhar quase crianças e assumem a responsabilidades de sustentar seus lares. Por cada jovem que vemos nos jornais da vida protagonistas de brigas em bares, drogando-se, andando bêbados pelas madrugadas, há muitos, mas muitos jovens dignos estudando, trabalhando, preparando-se para os vestibulares, pós-graduações e enfrentando a vida com dignidade.
Sei que devemos dar atenção às crianças abandonadas, abusadas e brutalizadas. Não estou dizendo para deixar de fazer isto, que é de suma importância, mas dar um pouco de atenção a outra parte da infância e juventude que sofre e se supera. Como educador vejo isto nas escolas, a luta para recuperar quem não quer ser recuperado e que até a própria família ignora e que manifesta que já não sabe o que fazer. E os outros? Aqueles que estudam e são bem-comportados, qual é a atenção que recebem? Pouca, os outros não deixam tempo para isto.
Vejo nas salas de aula, excelentes alunos lutando para lutar contra o “bullying” simplesmente pelo fato de gostarem de estudar, outros com ótimo potencial ficam com medo das provocações e partem para as brincadeiras porque querem fazer parte dos mais “descolados”. Mais uma vez olho para trás e escuto minha avó falando “uma maçã podre contamina toda a cesta de maçãs boas, mas uma boa não cura as maças podres”.
À diferença das maçãs, os seres humanos podem ser reabilitados, quero estar convencido disto. É a esperança que temos. Por isso, a partir dos 14 anos, os alunos que fossem reprovados teriam que trabalhar um ano como aprendiz em qualquer profissão e, caso que tivessem um bom desempenho, poderiam voltar à escola para reassumir seus estudos. Medida radical? Pode ser, mas que com certeza faria que muitas maçãs podres voltassem a ser boas e evitaria que, caso não seja feito isto, com o passar do tempo ficassem realmente estragadas e jogadas no lixo da sociedade, as cadeias.
Graças a Deus nossas crianças podem ser recuperadas à diferença das maçãs. Demos uma oportunidade para as maçãs podres serem transformadas. Não com teorias, mas com atitudes práticas. Todo aquele que sabe o que é ganhar o pão com o suor da fronte concordará comigo que não seria nenhum drama que um jovem de 14 anos trabalhasse um ano para ter direito de voltar a estudar ou não. Aprender uma profissão pode ajudar as nossas crianças a serem técnicos e trabalhadores e, ao mesmo tempo, ajudar ao nosso país.
É uma ideia, você tem alguma outra?