Planeta Educação

Diário de Classe

 

As contribuições da Psicopedagogia para a educação
Luciane Nogueira Pinto

Introdução

A escola necessita acompanhar as transformações que acontecem no mundo. As informações são constantes na vida social e escolar, novos conhecimentos, novas formas de pensar e ver o mundo estão sendo colocadas em prática e abandonadas diariamente. O que se sabia antigamente, que se considerava como verdade absoluta, agora, ganha uma perspectiva diferente, pode ser que não seja como acreditávamos que fosse, sendo necessário rever e (re) analisarmos nossos pensamentos, convicções, conceitos e crenças nos mais variados segmentos.

Assim, é com a escola, as formas de ensinar, a visão que a mesma tem da educação e da sociedade de uma forma geral. Do tipo de cidadão que ela quer formar, se é para transformar a sua realidade, ou para somente reproduzir a que já existe. Se a visão da escola e dos educadores for transformadora e inclusiva, todos perceberam os alunos como seres diferentes e com problemas e dificuldades que com a ajuda e apoio especializado poderão solucionar ou amenizar os obstáculos que encontram nos seus caminhos educativos.

Nesse caminho de inclusão e respeito, aqueles que apresentam alguma dificuldade para aprender vêm à psicopedagogia, que oferece subsídios e recursos para que se tenha um estudo e uma leitura minuciosa dos processos cognitivos e dos mecanismos psicológicos que estão apresentando algum problema ou sintoma na situação de aprendizagem.

Estar descoberto de preconceitos, tendo um olhar voltado para o aluno global, nos seus aspectos cognitivos e afetivos, desenvolvendo a construção e a sistematização de metodologias que visam à construção de conhecimento vinculado à realidade do educando sem deixar de oferecer as novas tecnologias e possibilitando a sua formação ampla, que não exclui, nem segrega aqueles que possuem dificuldade de aprendizagem.

O fundamental nessa proposta é o trabalho interdisciplinar que vem oferecer auxílio para a educação, respeitando as características individuais de cada aluno, de cada um dos envolvidos no processo educativo. Tendo um olhar imparcial, humano, que humaniza , que agrega, que acolhe , que trata, que desvenda o que muitos querem ou desejam esconder ou que até mesmo desconhecem por falta de interesse, comprometimento,vontade ou informação.

Resumo:

A escola é o principal local em que se manifestam os sintomas, as queixas do não aprender, dos problemas e as dificuldades de aprendizagem. É nesse contexto que surge a Psicopedagogia para colaborar e contribuir com todos os sujeitos que fazem parte da educação.

Palavras-chave: Educação, Psicopedagogo, Dificuldades de aprendizagem.

Na vida cotidiana, constantemente se é bombardeado por uma imensa quantidade de informações, novas tecnologias, descobertas nas diversas áreas, inovações que contribuem e afetam a vida de milhares de pessoas. Muitas vezes não se tem tempo de analisar e refletir sobre todos esses acontecimentos. Mas, na educação se faz necessário essa reflexão, pois, todas essas novidades, teorias e concepções influenciam a vida escolar.

Na educação, analisar e refletir são de suma importância, pois se está trabalhando com seres humanos, que sentem, desejam, aprendem, vêem de lugares e possuem histórias de vida e bagagem cultural, socioeconômica diferente uns dos outros. Refletir é colocar o pensamento diante de si mesmo, tal qual uma pessoa diante do seu espelho. O ato de reflexão leva aos detalhes do próprio pensamento aos porquês que permitem reconhecê-lo como seu efetivamente e, finalmente, dizer se combina com o seu pensar ou se é simplesmente repetidor de discursos e teorias sobre as quais não se tem domínio e certeza.

Não ser repetidor de teorias e sim construtor do seu próprio conhecimento e ser mediador na construção de um novo conhecimento por parte dos alunos, é o que faz com que os educadores estejam preparados para a prática pedagógica. Nessas mudanças constantes que o mundo vem passando, a escola e os alunos não ficaram para trás. Para Libâneo. 1998; p. 07 a escola é:

“aquela que assegura a todos a formação cultural e cientifica para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação autônoma, crítica e construtiva com a cultura em suas várias manifestações: a cultura promovida pela ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem como a cultura paralela (meios de comunicação) e pela cultura cotidiana.”

Logo, a escola necessita estar conectada com as ciências e a tecnologia, com tudo isso que vem acontecendo diariamente. Mas, sabe-se que não é isso que acontece em muitas escolas. Algumas ainda são repetidoras de ideologias, não respeitam a individualidade e o ritmo dos alunos, ainda não perceberam que as turmas não são homogêneas e que os educadores não são os donos do saber e sim mediadores da aprendizagem, da construção de conhecimento. De acordo com Freire, 1996, P23:

“... nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é aprendido na sua razão de ser, é, aprendido pelos educandos.”

Assim, a forma de trabalho do educador influencia na aprendizagem, em que o mesmo deve oportunizar aulas significativas, interessantes, incorporando as tecnologias existentes como ferramentas e instrumentos para favorecer o ensino aprendizagem. Utilizar-se das novidades e informações trazidas pelos alunos para modificar e contribuir com o tema e os conteúdos, proporcionam aulas mais dinâmicas e interligadas com a realidade, despertando o interesse em aprender e coletar novidades, para o cotidiano escolar. Propostas elaboradas dessa forma só favorecem as práticas dos educadores. Dessa forma, o professor estará colaborando para que seus alunos possam resolver e até mesmo solucionar problemas do presente e do futuro.

Sabe-se que nem sempre é dessa forma que acontece o ensino nas instituições escolares, que se tornam para muitos alunos um local em que seus medos, angústias, problemas e dificuldades de aprendizagem se manifestam. Surge nesse cenário a Psicopedagogia que tem:

“Por objetivo compreender, estudar e pesquisar a aprendizagem nos aspectos relacionados com o desenvolvimento e ou problemas de aprendizagem. A aprendizagem é entendida aqui como decorrente de uma construção, de um processo o qual implica em questionamentos, hipóteses, reformulações, enfim, implica um dinamismo. A psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos neste processo.” (Rubenstein apud Fermino, 1996 p. 127).

Portanto, a psicopedagogia vem colaborar com todos aqueles que têm dificuldades de aprendizagem, que reprovam, que não conseguem acompanhar os seus colegas e que muitas vezes são “deixados” para trás no processo de aprendizagem. A insatisfação e a inquietação dos profissionais que trabalham com as dificuldades de aprendizagem fizeram com que surgisse a psicopedagogia, permitindo que diversas áreas do conhecimento como Psicologia Cognitiva, Psicanálise, Sociologia, Linguística, Antropologia, Filosofia, entre outros viessem a colaborar com esses alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Rubinstein, apud Fermino, 1996, p.128 coloca que:

“o psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando selecioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta fundamentalmente é investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para, valendo-se desta investigação, entender a construção da dificuldade de aprendizagem.”

É nessa investigação que o psicopedagogo necessita estar livre de qualquer influência prévia e (pré)-conceito, estar livre de qualquer sentimento, olhar e principalmente saber selecionar tudo o que ouve e enxerga para poder intervir, colaborar, elaborar planos de trabalho com os envolvidos no processo educativo
A não aprendizagem na escola é uma das causas do fracasso escolar, a psicopedagogia atua no estudo do processo de aprendizagem, diagnóstico e tratamento de seus obstáculos. O psicopedagogo torna-se responsável por detectar e tratar possíveis empecilhos no processo de aprendizagem em instituições ou clínicas. A psicopedagogia na instituição escolar surgiu:

...como uma necessidade de compreender os problemas de aprendizagem, refletindo sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas situações de aprendizagem. (Fagali, 2008, p.9).

Nessa visão psicopedagógica, o aluno é visto de forma global, o seu cognitivo, o motor (movimento, psicomotrocidade) e o lado afetivo são trabalhados e analisados. Na instituição escolar, o trabalho psicopedagógico possui duas naturezas: A primeira diz respeito a uma psicopedagogia curativa voltada para grupos de alunos que apresentam dificuldades na escola... O seu objetivo é reintegrar e readaptar o aluno á situação de sala de aula, possibilitando o respeito as suas necessidades e ritmos. O segundo tipo de trabalho refere-se á assessoria junto de a pedagogos, orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar as questões pertinentes as relações vinculares professor ­-aluno é redefinir os procedimentos pedagógicos integrando o afetivo e cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos, nas diferentes áreas do conhecimento. (Fagali, 2008, p.9-10).

Sabe-se por meio dos estudos de Fernandes (1990) que os desejos tanto do ensinante quanto do aprendente influenciam na aprendizagem, dessa forma poder trabalhar com os alunos e os professores, poder perceber que os laços que os unem ou os afastam, seus métodos, metodologias e o não aprender do aluno e o não conseguir ensinar por parte do professor são objetos de trabalho do psicopedagogo tanto no trabalho curativo como na assessoria. O psicopedagogo intervindo na escola, de acordo com Monereo (2000), pode conseguir com que a escola consiga potencializar ao máximo a capacidade de ensinar dos professores e a de aprender dos alunos, possibilitando que o envolvimento de todos seja favorável para a aprendizagem. De acordo com Fagali, 2008, P. 11 pode-se destacar diferentes formas de intervenção da psicopedagogia:

- releitura e reelaboramento no desenvolvimento das programações curriculares, centrando a atenção na articulação dos aspectos afetivos-cognitivos, conforme o desenvolvimento integrado da criança e adolescente;
- a análise mais detalhada dos conceitos, desenvolvendo atividades que ampliem as diferentes formas de trabalhar o conteúdo programático. Nesse processo busca-se uma integração dos interesses, raciocínio e informações de forma, que o aluno atue operativamente nos diferentes níveis de escolaridade. Complementa-se a esta prática, o treinamento e desenvolvimento de projetos junto dos profissionais.
- criações de materiais, textos e livros para o uso do próprio aluno, desenvolvendo o seu raciocínio, construindo o conhecimento, integrando afeto e cognição no diálogo com as informações.

O psicopedagogo também favorece e auxilia aqueles indivíduos que se sentem impedidos para o saber, auxilia indivíduos com transtornos de aprendizagem, reintegra o sujeito da aprendizagem a uma vida escolar e social tranquila, bem como a uma relação mais afetiva consigo e com o outro, leva o indivíduo ao reconhecimento de suas potencialidades; auxilia o indivíduo no reconhecimento dos limites e como interagir diante deles e a (re) significar conceitos que influenciam o indivíduo no movimento do aprender.

Oferecer instrumentos de compreensão da situação de não aprendizagem de cada aluno em particular, levantar dados referentes ao contexto de ensino-aprendizagem da escola, desenvolver ações com toda a comunidade escolar, identificando as principais barreiras à aprendizagem e à busca de como superá-las é função do psicopedagogo.

Logo, a psicopedagogia precisa estar livre de qualquer interferência externa para poder realizar o seu trabalho de forma clara, sem conceitos pré-estabelecidos, poder olhar sem a influência de outros olhares que muitas vezes querem e desejam esconder algo de si mesmo e dos outros procurando muitas vezes se isentar de suas responsabilidades. Weis, 1999, p.27 reforça que:

“Todo diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. No caso, trata-se do não-aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possíveis aprendizagens.”

Dessa forma, fica visível que muitos dos envolvidos no processo educativo preferem muitas vezes ocultar os verdadeiros problemas de aprendizagem que podem ou não estar neles, mas também podem estar nas mais diversas maneiras e formas de ensinar. Portanto, o psicopedagogo institucional atua na instituição escolar juntamente aos aprendentes, os ensinantes e com os demais atores desse processo que é tão complexo para alguns e tão fácil para outros. Mas, que ganha com a atuação do psicopedagogo um forte aliado para melhorar, colaborar, amenizar e proporcionar a solução dos problemas e dificuldades encontradas pelos alunos e tornar de alguma forma a educação significativa e prazerosa para eles também.

Considerações finais:

O que acontece na sociedade tanto na área econômica, política, social, cultural, tecnológica, ética e moral interfere na educação e consequentemente na escola. Sendo que esta precisa considerar todas as práticas e as relações tanto diretas, indiretas e os problemas que delas surgem na comunidade escolar e local em que ela presta serviço e que decorrem dessas interferências.

As escolas existem para agir no mundo, na sociedade e na história, em que o seu papel se torna decisivo na vida das pessoas. A maior parte da nossa vida é passada dentro das escolas, e ela influencia, interfere, interage dentro dessa organização que chamamos de educação. Para muitas pessoas essa convivência escolar é prazerosa, mas para muitos é dolorosa, pois encontram dificuldade para aprender. Às vezes não são compreendidos, são rotulados e deixados para trás no processo da aprendizagem, mas o que muitas vezes eles necessitam é de um olhar diferente, alguém que perceba seus problemas, que deixe de lado os (pré) conceitos e os rótulos que lhes deram no decorrer da sua vida escolar.

Partindo dessa perspectiva de colaboração é que o psicopedagogo institucional atua, com as dificuldades nos níveis de aprender tanto do ensinante como do aprendente. Atuando nas condições de aprendizagem que ocorrem a nível externo e interno. A escola, tendo como suporte a intervenção psicopedagógica, pode oferecer novos ângulos e abordagens de trabalho, potencializando as capacidades dos alunos, elaborando estratégias de ensino em conjunto aos professores, oferecendo assim uma proposta interdisciplinar.

Logo, o psicopedagogo auxilia na identificação dos problemas no processo de aprender, lidando com as dificuldades de aprendizagem por meio de instrumentos e técnicas específicas, articulando nas várias áreas, buscando suporte para responder os sintomas e as queixas dos alunos e professores. Portanto, o trabalho do psicopedagogo torna-se mais real a possibilidade do acolhimento, da descoberta, das práticas, dos métodos, do entender-se e compreender-se como sujeito que pode e que tem direito de aprender, de adequar-se e ser inserido na escola de forma atuante, participativa em que á sua cidadania é respeitada.

Referências:

Fagali, Eloisa Quadros_psicopedagogia intitucional aplicada: aprendizagem escolar dinâmica e construção na sala de aula\Eloisa Quadros Fagali e Zélia Del Rio do Vale. Ilustrações de Francisco Forlenza’ 9 ed. Petrópolis, RJ; Vozes, 2008.

Weiss, Maria Lucia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnostica dos problemas de aprendizagem escolar\5 ed. Rio de Janeiro DP E A, 1999.
Monereo Carles. O assessoramento psicopedagógico: uma perspectiva profissional e construtivista\ Carlos Monereo e Isabel Solé, trad. Beatriz Afonso Neves_ Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

Fermino Fernandes Sisto... (ET AL). Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar Petrópolis, RJ; Vozes, 19906.

Freire, Pulo. A psicopedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 16 edição, 1996.

Libâneo, José Carlos: Adeus professor, adeus professora? Novas exigências profissionais e profissão docente. São Paulo, Cortes, 1990.

Fernández, Alicia. A inteligência aprisionada, tradução: Iara Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

Baseadas, Eulália Huquet, Tereza, Marrodán, Maite, Olivan, Marta: Rossell, Mireia Planas Montserrat; Seguer, Manuel; Uilella, Maria , Tradução: Neve, Beatriz Afonso: Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

FERNANDEZ, Alicia, Rodrigues, Iara (trad). A inteligência aprisionada. 2ª ed, Porto Alegre: Artes Medicas, 1990.

Luciane Nogueira Pinto é Pedagoga.

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