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Um Pequeno Livro com Grande Conteúdo para a Educação
Doutor Rubens Castro

Dias atrás, recebi pelos correios um pequeno livro acompanhado por uma cartinha simpática. Confesso que nunca havia ouvido falar desse autor, Emílio Figueira. Pelas suas gentis palavras que educadamente me pedia para ler sua obra, “O homem que amou em silêncio – Entre o passado, o presente e a fantasia!”, achei por bem lê-la, o que está me inspirando a escrever esta resenha de forma livre e sem compromisso com o academicismo, mesmo porque já estou aposentado.

No começo sua narrativa, construída de forma sutil e um vocabulário simples, mas sem ser simplista, parecia-me mais uma dessas histórias corriqueiras. Um bem-sucedido executivo solitário na cidade grande (como muitos que atualmente engrossam as filas da vida contemporânea!), falando de um amor frustrado da época de faculdade. Só que o enredo ganha corpo no segundo capítulo. A obra passa a ter dois planos psicológicos, alternando-se entre o presente do protagonista e suas fantasias de uma vida que não se realizou e que, construídos tais planos de forma cuidadosa, chega a confundir o leitor sobre o que é delírio ou realidade do personagem central.

No mundo imaginário de Leandro é onde ele se realiza sentimentalmente. Porém esse realizar-se no amor passa a ser uma coisa menor, despercebida. O ponto alto é quando ele vai ao encontro de uma comunidade formada por pessoas simples; pessoas como as demais que vivem em todas as partes e passam despercebidas por serem da baixa classe social. Elas mesmas parecem não se autoperceberem, vivendo em um cotidiano puramente rotineiro, com pouca ou sem nenhuma autoestima. Alienadas, creem que suas vidas sejam um fato consumado e nunca tomam atitude por si mesmas para transformar a realidade que as cercam.

Só que Leandro passa a acreditar no potencial delas, incentiva-as com o despertar de cidadania e direitos. E, a partir disso, a união deles promove uma grande transformação que o leitor se surpreenderá!

Assim que acabei de ler esse livro, coloquei-o em cima da mesinha ao lado e fiquei refletindo na minha poltrona. O que fizemos de nossas rotinas diárias? Contaminamo-nos tanto pelo individualismo, passamos a ser estranhos uns aos outros que, ao ler uma obra que fala de união coletiva a favor dos menos necessitados, sentimos vergonha dos nossos próprios egoísmos. O que estamos fazendo para transformação social ao nosso redor? Nada. Apenas sentamos no sofá e reclamamos de tudo.

Por isto, digo que essa obra precisa ser lida por jovens estudantes, uma vez em que ela resgata valores como respeito aos mais pobres e humildes, sentimentos de união, participação e transformação da realidade que só ocorrerá por meio da noção que somos todos responsáveis por aquilo que está em volta. E a obra ainda nos oferece várias noções de política. Em certa parte, Figueira chega destacar que a história não é algo imóvel; é dinâmica, feita por pessoas e, como somos seres em constante movimento, a história se transforma a cada momento em que acreditamos em nós mesmos!

Talvez tenha sido mesmo preocupação de esse autor atingir o público que está em formação. São 83 páginas escritas de forma concisa e em uma linguagem mista, dirigida aos adultos, mas que pode ser facilmente absorvida por jovens que estão naquela fase que “querer mudar o mundo!”. E a obra mostra isto não é apenas uma utopia. Aliás, essa é a melhor fase para apresentar tais conceitos de participação, união, noções política e valores éticos aos jovens. Fazê-los ter o entendimento que as mudanças sociais precisam começar por ações pequenas, ir ganhando tamanho e agregando pessoas, até atingirem dimensões imagináveis.

Destaque também para capa. Cores vivas, representando uma pequena cidadezinha que o leitor só fará uma associação com a leitura completa do livro. Os traços dos desenhos lembram muito pinturas de Tarsila do Amaral, quebrando um pouco o concretismo e o abstrato de muitas capas atuais. A capa também dialoga com o público juvenil. E interessante que é assinada pelo próprio Emílio Figueira, que tem um pé nas artes plásticas e gráficas, conforme vi em sua biografia ao pesquisar na internet.

E, por sua formação em psicologia e psicanálise, o autor esboça esses elementos de forma natural (às vezes, intencional mesmo!) no contexto da obra. Inclusive Ivan Beteto escreve na última capa: “Com extraordinária habilidade esta obra nos conduz para reflexões existenciais, por vezes psicanalítica, que chocam o leitor com seus desejos irrealizados mais profundos”.

“O homem que amou em silêncio” (Ed. Agbbok, 2010), conta com outros personagens e surpresas que eu gostaria de comentar, mas estragaria um pouco o prazer da leitura e descobertas do leitor. De forma geral, o livro representa por meio do personagem Leandro o arquétipo do nosso lado acomodado, quando só nos realizamos nas fantasias. Ou melhor dizendo, quando eu era jovem, meu pai já dizia: “O impossível é apenas uma coisa possível que ainda não tentamos realizar. Basta nos colocarmos em movimento”!

Doutor Rubens Castro é Advogado, Crítico Literário e Professor Universitário aposentado.

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas