Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br
Gosto quando te calas
O poder do silêncio
“Gosto
quando te calas porque estás como ausente, e me ouves desde
longe, e minha voz não te alcança.”
Pablo Neruda – De veinte poemas de amor y una
canción desesperada.
Fazer silêncio pode se tornar uma grande resposta a muito do
que estamos vivendo. Em dias de grande tumulto como os nossos, em que a
gritaria tem-nos ensurdecido, é agradável
buscarmos o significado do silêncio, da ausência da
voz.
O silêncio pode-nos servir como uma grande prova de carinho,
de amor e de atenção. Quando fazemos
silêncio, temos a oportunidade de dar mais
atenção à fala do outro, daquela
pessoa que sofre por não ser ouvida, por não ser
compreendida dentro de sua maneira de ver a vida, de ver o mundo, de
amar e de sentir-se amada, querida, aceita.
No poema de Pablo Neruda, o silêncio não
é impedimento para ser ouvido, nem mesmo de longe, nem mesmo
quando “minha voz não te
alcança”. Talvez, ser ouvido para ele era de uma
significância muito superior ao que nós hoje
podemos entender.
Ser ouvido mesmo quando há silêncio é,
assim, um mistério que cada um de nós somos
convidados a desvendar diariamente nos mais diferentes momentos.
Ao que tudo nos indica, atribuir novos sentidos às palavras
é uma das características de quem ama o outro,
ama a vida, ama a si mesmo.
As definições secas das palavras presentes num
dicionário qualquer podem tornar-se grandes barreiras para
expressarmos o que realmente queremos dizer, aquilo que estamos
sentindo, estamos vivendo ou sonhando em um dia viver.
Assim como o poeta consegue transformar palavras do nosso uso cotidiano
em palavras repletas de poesias, tal como a
lapidação de um diamante em seu estado mais
bruto, dando formas nunca antes imaginadas, também podemos
usar o silêncio para mostrar ao outro nossa
preocupação com os seus interesses, com seus
conflitos, com suas dores e com os seus sonhos mais insanos.
Aliás, o que mais pode ser o amor, a paz e a verdadeira
preocupação com o outro senão
insanidade num mundo cheio de pessoas que só pensam em si
mesmas? Pessoas estas que gritam a ponto de se ensurdecer diante do
choro e do sorriso de outro alguém.
É, as mais belas poesias são escritas
em meio a um profundo silêncio, o pode nos envolver e mandar
embora a solidão que o abandono e que o barulho
são capazes de fazer existir em nossos mais diversos
relacionamentos.