Planeta Educação

Assaltaram a Gramática

Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

A defesa do ponto de vista
Artigos opinativos

É comum conhecermos pessoas que não sabem administrar críticas ou opiniões contrárias às suas. Esta característica que hoje vemos, muitas das vezes em pessoas já adultas, pode ser moldada por nós, professores, em sala de aula.

Uma maneira muito eficaz de mostrar ao aluno que é preciso buscar entender o ponto de vista de outras pessoas, de modo que ele não se ache um “peixe fora d’água” quando conhecer alguém com argumentos diferentes dos seus, é introduzirmos artigos de jornais e revistas em nossas aulas de língua portuguesa.

Este método tem tudo para dar muito certo, principalmente porque quando dispomos materiais palpáveis em sala de aula, a prática alia-se à teoria e, desta forma, nossos alunos conseguem compreender com mais facilidade os pontos que estamos expondo.

Um artigo opinativo, por exemplo, que vemos facilmente em jornais e revistas impressas ou digitais, é um gênero textual que se caracteriza pela expressão da argumentação do autor. O autor, neste caso, precisa pensar numa problemática, assumir uma opinião sobre ela e, assim, sair em defesa de seu ponto de vista.

Ao abordar este gênero textual teoricamente, é importante o professor apresentar aos alunos as características que o compõe, mas antes de tudo, é necessário fazê-los compreender que em todas as manifestações humanas há, ainda que de forma subliminar, a expressão das opiniões do manifestante, ainda que determinados gêneros, tais como o resumo, não permitem que o autor expresse sua opinião.

Para se ter uma ideia, ao pedirmos um resumo em sala de aula, o aluno precisa ter clareza que a opinião dele sobre o objeto que será resumido não poderá aparecer. Contudo, para que o resumo seja realmente válido, o aluno deverá compreender realmente o que está sendo expresso e, assim, elaborar o resumo com base em sua compreensão, sendo fiel ao texto original.

Neste ponto, ou seja, a compreensão de um texto que será resumido, por exemplo, a opinião do aluno pode não condizer com aquilo que o aluno realmente aceita como válido, ou seja, a compreensão do texto pode agredir alguns valores do aluno, os quais podem ter sido construídos em casa ou até mesmo na escola. Por isso, ainda que ele tenha a clareza que num resumo não deve aparecer sua opinião, de uma maneira ou de outra, ao fazermos uma análise detalhada, veremos traços da subjetividade daquele que o desenvolveu.

Por isso é importante introduzirmos um estudo mais rigoroso sobre a manifestação do pensamento e liberdade de expressão e, para isto, podemos começar introduzindo os artigos opinativos em nossas aulas. Nossos alunos precisam ter a clareza sobre este ponto, pois assim saberão que quando há um ser humano compondo algum material, haverá, certamente, alguém expondo seus pareceres acerca do que se está expondo.

A porta de entrada para isso, como já frisado anteriormente, é a introdução de artigos que expressam a opinião de autores de diversos lugares e com as mais diversas características, pois assim ficará mais evidente como é o poder de persuasão que articulistas têm sobre as pessoas que se submetem à leitura do que é escrito por eles. Eles conseguem expor uma determinada problemática a ponto de sensibilizar seus leitores.

Uma vez sensibilizados, é natural seus leitores desejarem uma solução para resolver o “grave” problema apresentado. Neste ínterim, fica muito mais fácil o autor fixar seu pensamento, expor suas ideias e, não raras as vezes, persuadir o leitor a ponto deste dar créditos às opiniões ali defendidas.

Ao fazer tais abordagens, o professor pode aproveitar para começar a explicar a seus alunos que é perfeitamente natural nosso público não ter os mesmos pontos de vistas que os nossos. Aqui, nossos alunos, começam a compreender que é muito importante numa sociedade respeitar as diferenças de olhares e opiniões e, assim, a agressividade em sala de aula acaba diminuindo significativamente e nós, professores, teremos a certeza que estamos formando verdadeiros cidadãos.

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