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Entrevistando para Saber

 

A Postura do Professor diante da Linguagem da Internet
Entrevistando Erika Bueno

Aprecie, abaixo, a entrevista cedida ao jornalista Alessandro Coppetti do Jornal Tribuna do Planalto, cidade de Goiânia, sobre a Linguagem do Messenger:

Muito popular entre os jovens, a forma de escrita abreviada utilizada por eles em programas de mensagens instantâneas como o Messenger é alvo de duras criticas por parte de muitos educadores. Mas para orientadora educacional do Planeta Educação, empresa que atua na área de Educação e tecnologia, a concepção é bastante diferente. 

Isto porque, segundo ela, é normal que em distintos espaços as pessoas façam uso de uma forma de comunicação condizente com esses meios. Sendo assim, para ela não faz sentido ser radicalmente contra esse tipo de fenômeno.

“O professor precisa deixar claro para o aluno que o erro não está nas abreviações utilizadas no Messenger, mas sim na utilização imprópria desta forma de expressão”, diz. A partir desse tipo de abordagem, a educadora enfoca ser importante que os educadores tracem estratégias de ensino para que os educandos entendam como e quando usar essas diferentes formas de expressão.

E tudo isso deve acontecer de maneira que o aluno não se sinta culpado por usar essas determinadas abreviações em função de atitudes dos professores que conotem qualquer tipo de “preconceito linguístico”. “Havendo este mal-estar, o professor corre o risco de causar bloqueios em seus alunos, dificultando o processo de ensino-aprendizagem’, alerta Erika, formada em Letras pela Universidade Metodista de São Paulo (SP).

São comuns comentários de que a partir do uso de abreviações como as utilizadas na internet, por exemplo, a Língua Portuguesa estaria se perdendo. Qual a sua avaliação sobre isso?

Não acredito que possa haver perda para a Língua Portuguesa, que continuará exigindo boa ortografia em determinados momentos e circunstâncias mais formais. Como tudo o que é vivo, toda língua sofre mudanças com o passar do tempo para se adequar à necessidade dos falantes, ou seja, senhores (nunca servos) da língua. 

Com a tecnologia e a modernidade que exigem uma comunicação cada vez mais dinâmica, as abreviações na internet são um meio de transmitir uma mensagem escrita utilizando-se de menos tempo e espaço e isso não traz - e nunca trará - nenhuma perda para a Língua Portuguesa que continuará em seu curso natural, exigindo para cada situação uma determinada forma de escrita e, principalmente, comunicação.

Em artigo, a senhora diz que “não é muito lógico corrigir os que assim desejam escrever através da comunicação do Messenger, pois a linguagem deve ser usada como uma vestimenta, ou seja, para cada ambiente um conjunto de peças de determinado estilo deve ser escolhido”. Comente a afirmação, por favor.

Ninguém vai de terno e gravata à praia tomar sol. Da mesma forma, não é conveniente escrevermos um romance como se estivéssemos escrevendo uma receita de bolo, por exemplo.

Desta maneira, é direito de todo aluno ter contato com as diversas formas de comunicação formal e informal, de maneira que saiba se comunicar com o sábio e o inculto nas mais diversas situações. Se um aluno usa abreviações numa prova que a professora de Língua Portuguesa passou, é sinal claro que ele está precisando de maiores esclarecimentos a respeito dos gêneros textuais e por não saber a diferença entre uma maneira de se expressar e outra, ou seja, não está apto a fazer adequações.

Daí não há porquê corrigir as abreviações em si, mas a necessidade passa a ser a de direcionar mais esforços para a aquisição de um aprendizado para a vida real, em que o aluno precisará fazer-se ouvido e compreendido ante as mais diferentes realidades.

"A melhor estratégia pedagógica é aquela em que o aluno realmente aprenda. E cada professor, conhecedor de seus alunos, deve buscar compreender as necessidades educacionais de cada educando, sendo sensível às diferenças entre eles."

Então qual postura pedagógica os professores devem ter para que o “vc”, o “mt”, e o “oq”, entre outras abreviações, não passem a ser utilizadas em provas escolares, no trabalho, e demais circunstâncias que exigem outras formas de comunicação?

É importante o professor traçar estratégias para que o aluno tenha prazer em diversas leituras, tais como contos, romances, comédia, drama e muito mais. Isto porque tendo contato com diversos materiais escritos, o aluno se sentirá mais seguro e não terá dificuldades para entender que a prova que o professor passa no final do bimestre é um documento formal para avaliar tanto o alunado quanto a didática do próprio professor. 

Logo, não será conveniente dar a esta modalidade avaliativa um tratamento semelhante a uma conversa informal entre amigos. É interessante pontuarmos que a melhor estratégia pedagógica é aquela em que o aluno realmente aprenda e isso não pode ser definido de longe, mas cada professor, conhecedor de seus alunos, deve buscar compreender as necessidades educacionais de cada educando, sendo sensível às diferenças entre eles. 

O professor precisa deixar claro para o aluno que o erro não está nas abreviações utilizadas no Messenger, mas na utilização imprópria desta forma de expressão. Este esclarecimento é fundamental para que o aluno amplie seu grau de conhecimento sobre as mudanças da Língua Portuguesa, adotando uma postura crítica diante de tudo o que se apresenta a ele.

Quando o uso de abreviações no MSN e demais formas de expressões informais são apontadas como práticas preguiçosas e maléficas, isso pode causar algum tipo de constrangimento para os que fazem uso dessa grafia?

Sim, infelizmente. O constrangimento se dará porque o aluno que assim escreve, em situações informais, se sentirá como alvo de um preconceito, ou seja, um conceito formado antes de uma análise desprovida de subjetivismo. Havendo este mal-estar, o professor corre o risco de causar bloqueios em seus alunos, dificultando o processo de ensino-aprendizagem.

O aluno não pode se sentir estrangeiro dentro da própria língua-materna, pois ele consegue, mesmo em meio a muitas abreviações, comunicar o que pensa e o que quer entre seus iguais. Para aprender, o aluno precisa se sentir confortável em seu ambiente e, para que isto aconteça, o professor, desprovido do que chamamos de “preconceito linguístico”, não poderá impor o que acredita e defende como se seus alunos fossem apenas receptores sem reação.

Promover o estabelecimento de momentos de reflexões é uma das práticas mais eficazes para impedir a formação do bloqueio que os alunos tendem a ter ao descobrirem que a forma como até então se comunicavam não é bem-vinda em algumas circunstâncias formais, pois falando e sendo compreendidos, os alunos estarão em condições de receber as orientações de seu professor, mediador do conhecimento.

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