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Filosofando

Paulo Fernando de Castro  Professor, escritor e palestrante; Autor do livro infantil “Em Busca da Chave Mágica”.

Será o livro uma personificação do mago em sua alquimia escrita?
Paulo Castro

O sono não voltou mais e me deixou meio adormecido. Percebo que o ônibus diminui sua velocidade para parar num próximo ponto.

Descem poucas pessoas e sobem menos ainda. Neste ínterim, num instante de uma rápida visão captada pela minha percepção, vejo uma garota sozinha na varanda de sua casa, balançando na rede com um livro nas mãos.

No mesmo momento me perguntei: “Do que se trata o livro?”. Pus as minhas ideias a criar uma ansiedade envolta do semblante da garota.

Minha mente, então, inicia uma caçada a descobrir aquele mistério. A mente foi trabalhando numa ansiedade que me invadiu em construir e reconstruir ao mesmo tempo a visão que o livro revelava àquela garota.

A rede para de balançar como por uma força maior, não permitindo qualquer sensação de som ou movimento que possa desviar seus olhos fixos das linhas da página do livro num silêncio concentrado.

Seus cabelos compridos não a incomodava pelo vento que fazia lá fora e nada a fazia desviar sua atenção do que lia.

As imagens da garotinha leitora, que minha mente captava naquele momento, sobem para a consciência, incomodando-me com a dúvida sobre qual assunto aquele livro tratava.

Percebi que o livro a conduzia numa concentração absoluta, firme e segura de não sentir nada que possa atrapalhá-la, concentração esta advinda das forças externas de quaisquer fenômenos da natureza.

A cena que vi da garota na rede com seu livro misterioso não dá para não ser percebida pela distância do desfoque que a janela do ônibus produz, mas não vi qualquer possibilidade de descobrir o nome do livro e sua capa.

A posição onde estava sentado não me permitiu saber qual é o livro que a garota lia, mas num relance percebi que o livro, em suas linhas escritas, exercia magia sobre sua leitora.

Possuía-a inteiramente, de corpo e alma, de tal forma que não teria como nada interromper aquele momento, desviando os seus pensamentos.

Parece-me que seus sentidos não captavam mais o que vinha de fora, somente aquilo que sai do livro. Estas sensações advindas do livro fazia-o penetrar diretamente na mente dela, de modo que seus sentidos absorviam ferozmente o que lia, sem nada que pudesse impedi-la.

E, então, pensei: “Como pode um livro ocasionar tal efeito mortificador num estado intransitado? Como pode estar em transe estático sem nada a abalar? Seu emocional já não tem forças para reagir? Será o livro uma personificação do mago de sua alquimia escrita?

Oh! Pobre garotinha, está confinada ao fado perpétuo numa história sem fim? A verdade é que as letras do livro a aprisionam, definitivamente, para sempre.

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas