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Educação Profissional

 

Profissão x Vocação
Os “sentidos” desta escolha

Você tem mesmo vocação para a profissão que escolheu? Tal resposta deveria ser descoberta muito antes da formatura dos inúmeros acadêmicos deste país. Afinal de contas, melhor desistir do que levantar um canudo sem a mínima chance de fazer progredir esta nação. Mas o que significa mesmo a palavra profissão?

Esta o Ferreira (2007, p. 531) responde: “Atividade ou ocupação especializada, da qual se podem tirar os meios de subsistência.” Só? Será que o exercício de uma atividade e o recebimento de um salário no final do mês é suficiente para conceituar a palavra profissão? O Sr. Aurélio que me desculpe, mas vou fazer você, caro leitor, entender um pouco mais sobre esta ação que julgo estar debilitada e insensível por parte de quem a executa em muitas instituições públicas e privadas neste país.

Tomando como exemplo a Pedagogia e toda a responsabilidade intelectual e social que esta profissão exige, algumas reflexões podem esclarecer um pouco a realidade desta atividade. Ao consultar os altos índices de desistência na 5ª série no Brasil e de inúmeras crianças que chegam ao Ensino Médio sem saber o que realmente significa ler e escrever, é possível constatar a ausência da vocação e, ao mesmo tempo, a importância dela nos espaços de formação cidadã.

Ler e escrever parecem ser nos dias atuais uma incógnita, não somente na Educação Básica, mas para os acadêmicos do Ensino Superior em que muitos se deparam com grandes dificuldades em produzirem um trabalho científico longe do “copiar e colar”. Tem também a opção do trabalho “em grupo” em que sempre sobra para aquele que está ali por vocação.

Escrever é uma arte, e para que o artista desperte é necessário incentivar o seu espírito criativo desde o berço, contando-lhe histórias, fazendo-o entrar no mundo da imaginação para que de lá ele possa trazer a inspiração para, no futuro, ajudar esta nação sedenta de mudanças, de criações, de autênticos profissionais que através das entrelinhas abrem uma janela de oportunidades para melhorar a realidade.

Afinal de contas, inúmeras são as empresas que necessitam urgentemente de artistas por vocação e não por reprodução alheia. O SINE que o diga!

O que seria de nós se a educação continuada não fosse uma exigência atual? Essa é fácil responder: passaríamos os olhos pelas letras; escreveríamos sem paixão, sem gramática, sem vocação, sem sentido. Nada contra os profissionais que exercem o magistério com dedicação, profissionalismo e com vontade de realmente melhorar a aprendizagem neste país. Exemplos satisfatórios podem ser constatados em muitas escolas desta capital, pena que sejam a minoria.

Infelizmente, ainda são poucos aqueles que realmente colocam em prática a filosofia, a psicologia, a antropologia... e tantas outras disciplinas de valor do Curso de Pedagogia, disciplinas estas que se fossem devidamente estudadas e reinventadas na prática poderiam fazer milagres em sala de aula. Mas para isto é preciso ter bons professores e bons alunos, (esta última é consequência da primeira) presenças físicas e espirituais que agem por vocação e não por “ausentes” com finalidades econômicas.

A melhor formação não é exercida somente por aqueles que orgulhosamente expõem seus diplomas num quadro, mas pela visão de conjunto, do diálogo constante, da flexibilidade de raciocínio, do saber escutar a natureza própria e a natureza alheia.

Ao longo de minha profissão nos espaços escolares encontrei muita gente preocupada em ouvir os pais, o diretor, o secretário, a coordenadora; E os alunos? o vigia? a servente? e até mesmo a natureza ao redor da escola? Quem ouve? Descobri que ouvir não é fácil para aqueles que deixaram de escutar seus corações há muito tempo. Seguindo o pensamento de nosso caríssimo Rubens Alves, falta-nos um curso de “escutagem”. Aliás, este curso não seria adequado somente aos professores, mas a todas as profissões. A “surdez” atualmente é um fator generalizado.

Ao voltarmos no passado, nas linhas da Sagrada Escritura, constatamos nas palavras de nosso maior Professor que somos cegos, surdos e mudos. Até mesmo o Mestre dos mestres já sabia de nossas fraquezas, fraquezas estas que encontramos em muitas profissões, a Medicina, por exemplo. Quem já não foi atendido por um dito “profissional da saúde” que nem ao menos olhou em nossos olhos? A resposta afirmativa seria facilmente conseguida entre os Cidadãos que costumam fazer fila em muitos hospitais públicos deste país.

É pedir demais aos ditos “profissionais” para olhar, escutar, sentir as entrelinhas da realidade alheia? Talvez o seja para aqueles que buscam o diploma por questões puramente financeiras. Mas qual o problema em deixar nossos sentidos no pause por algumas horas no trabalho? Afinal, estamos na era da informática. Simples!

Vivemos num mundo de seres HUMANOS, e como tal necessitamos de algumas ações alheias como: respeito, atenção, educação, carinho, amor, autonomia, entre outras. Tais adjetivos só podem ser colocados em prática por aqueles que não são “deficientes”. Aliás, por falar em dificuldades especiais, uma pergunta: em qual porta optamos ao escolher nossa profissão? De acordo com os sábios, a porta estreita sempre foi a mais escolhida pelos que se dizem “humanos”. Pura ilusão.

Jiane Brasi é Pedagoga, Mestranda em Ciências da Educação (em curso) pela Universidade de Los Pueblos da Europa.

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