A Semana - Opiniões
A boa administração da saudade
Instrução e reflexão para nossos alunos
Sentir saudades é algo natural a todos nós e é também a prova de que já vivemos ou vivenciamos coisas que nos fizeram muito bem e, por isso, sentimos saudades.
O que, no entanto, passa a não ser muito natural ou saudável para nós todos é o fato de anularmos o que estamos vivendo hoje, pois se nos prendermos ao eterno passado que um dia nos fez bem, não estaremos livres para descobrir os novos sabores que a vida nos oferece.
Quando a dor da saudade é tão aguda que não se há esperança de encontrar remédio que apresente solução, é hora de rever os nossos conceitos e considerarmos as belezas que existem no hoje e no agora, as quais estão prontas para nos servir se a elas nós verdadeiramente buscarmos.
A saudade também pode se dar porque temos, muitas vezes, a impressão que aquilo que por nós foi vivenciado não foi, por algum motivo, completo e, por isso, sentimos uma saudade perturbadora que não nos deixa ser felizes com os recursos que temos no presente.
Todos nós precisamos aprender a administrar a saudade, principalmente quando ela é causada pela ausência irremediável de alguém, pois não raras as vezes vemos situações de pessoas que vivem em função de um sofrimento muito grande porque a pessoa querida não está mais ao seu alcance, tal sofrimento piora quando se acredita que houve erros enquanto ainda se podia se beneficiar da presença da pessoa hoje ausente.
O que acredito que se pode ser feito neste caso é lembrar-se daquilo que foi possível viver de bom junto a ela, desde que esta lembrança não seja dotada de pessimismo, mas de uma visão que considere verdadeiramente os aprendizados alcançados em companhia desta pessoa, os quais precisam ser levados adiante.
Num primeiro momento, lembrar e considerar apenas o lado bom de quem um dia esteve conosco não é fazer vistas grossas a nada, mas é uma atitude de se curar de algo que causa fraquezas, recobrando forças para continuar e, no momento certo, colocar na balança os possíveis erros cometidos no momento em que ainda se tinha a presença da pessoa e, assim, não os cometer novamente.
Nossos jovens alunos e filhos precisam entender que é possível sim superar a saudade de algo que já se foi e, ainda, que se foi sem nós termos tido a oportunidade de sentirmos que poderíamos ter feito mais e melhor.
Perdas e interrupções de fases podem acontecer com todos nós, pois nada do que somos e conseguimos com os nossos esforços nos coloca numa posição de decidir sobre o tempo que temos para viver na presença de algo ou alguém.
Em reflexões sobre possíveis meios de administrar a saudade, o professor não pode mostrar insensibilidade aos dramas de seus alunos, ainda que tais dramas não sejam significativos a ele, pois se o aluno pensar que seu professor é indiferente a dor que ele demonstra ter, todo o processo de reflexão que poderia torná-lo mais apto para viver com menos conflito em dias tão tumultuados como os nossos, poderá ir por água abaixo.
Isto porque o aluno pode construir uma barreira com bruscas pedras entre si e o professor, a qual impedirá a entrada de quaisquer ações por parte daquele que tem o papel de instruí-lo, o professor.
Todos nós que estamos diariamente em contato com jovens alunos podemos identificar diferentes oportunidades para começar a introduzir momentos de reflexão sobre a boa administração da saudade. É possível que a saudade esteja camuflada de frustrações, que podem ser pelo fato, por exemplo, de um aluno não ter conseguido aproveitar mais de algum momento vivido por ele, mas mesmo camuflada, não deixa de ser saudade.
A insistência em falar sempre do mesmo assunto, a preocupação em relatar com intensidade como se deu algo em sua vida que todo mundo já sabe, a falta de esperança em viver novamente momentos como os do passado e tantas outras situações mostram ao professor que a saudade de algo que foi ou não vivido ainda não está sendo administrada como deveria.
Sozinhos, eles não saberão como olhar para frente e continuar, pois a vida sempre nos dá novas possibilidades de descobrimos prazeres dignos de ser por todos nós desfrutamos.